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Abril Laranja: “Não é uma perna que define quem eu sou"

12/04/2022 20:42

A campanha Abril Laranja, em prol da conscientização das causas e prevenção da amputação vem sendo realizada durante todo o mês pela Associação Brasileira de Ortopedia Técnica (ABOTEC). Entre as causas mais comuns da amputação estão o diabetes, liderando o ranking, acidentes domésticos e de trânsito. 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR), no Brasil há cerca de 500 mil pessoas com amputação. São histórias como a do professor de Artes Cênicas Luiz Henrique Rosa, 34 anos, morador da cidade de Nova Alvorada (MS). 

Em 2018, Luiz sofreu fratura exposta em um acidente de trânsito e teve que passar por cirurgia, levando-o a amputação transtibial (até a altura do joelho). Ele compartilha que no dia da cirurgia, foi o 16º paciente a passar pela amputação e ressalta que a experiência foi como se a vida estivesse imitando a arte.

“Foi igual cena de filme, toda aquela aparelhagem de hospital, lençol cobrindo a perna. Meu pé esquerdo mexia, mas o direito não. Pedi para levantar o lençol, os enfermeiros olharam um para o outro, relutaram e pediram para eu esperar o médico, mas por fim, vi aquele coto inchado com dreno. No momento só agradeci a Deus por estar vivo”, compartilha Luiz.

Ele relata que mesmo ainda no hospital recebeu muito apoio dos amigos e familiares e com fé e esperança tentava compreender o que estava se passando.

“Minha mãe sempre foi muito religiosa e desde o primeiro momento me transmitia amor e dizia que eu ia sair daquela situação", relembra. 

Luiz Henrique Rosa ministrava aulas de teatro e também coordenava peças teatrais antes de sofrer o acidente. Após 16 dias de internação recebeu alta e deu início ao processo desafiador de readaptação, já que no dia do acidente também fraturou o lado direito do pulso, rompendo o ligamento, onde perdeu 80% dos movimentos.

“Meu quarto fica na parte de cima da casa e fiz da sala o meu dormitório por sete meses. Tive que aprender a comer e a escrever com a mão esquerda, mas com o tratamento o movimento da mão direita foi se restabelecendo", pontua. 

Em uma rotina de trabalho corrida, entre peças de teatro e participação de festivais, o professor de forma surpreendente voltou a trabalhar um mês após a amputação, depois de passar por um processo seletivo em sua cidade. 

“O coto ainda estava aberto, eu usava tala e pino na mão, mas falei ao médico que precisava trabalhar e seguir meu propósito, pois já havia me aceitado e estava me readaptando”, diz.

No dia 6 de fevereiro de 2018, um mês e cinco dias após sua vida mudar repentinamente, Luiz Henrique tomou posse de sua vaga, dando aulas de teatro e fez de seu antigo quarto uma sala, um lugar de ensaio para as peças que coordena. Além disso, foi o primeiro professor PCD (Portador de Necessidades Especiais) na escola em que trabalhava.

Cerca de quatro meses após a cirurgia Luiz realizou a inscrição de seus alunos para o Festival Estudantil em Curitiba (PR), ensaiando na escola e em sua sala improvisada, resultando na aprovação em segundo lugar. 

Hoje, já com a prótese, acredita que por meio do teatro e principalmente da dança, redescobriu uma nova maneira de enxergar o seu corpo.

“Nunca deixei de fazer o que gosto. Quando ia ensaiar com a turma, no início da minha recuperação, eu pegava um cabo de vassoura e colocava do lado do pé que perdi para sinalizar e fazia o movimento com a mão. Não é uma perna que define quem eu sou, mas aquilo que está na minha cabeça e no meu coração”, conta.

Hoje Luiz Henrique considera que aprendeu a cuidar mais da saúde e emagreceu 30 quilos ao longo do tempo com reeducação alimentar e exercícios, além de compartilhar sua história de vida nas redes sociais e auxiliar outras pessoas a superarem a condição.

Histórias como a de Luiz Henrique podem ser conferidas durante todo o mês de abril, na campanha realizada pela ABOTEC, que tem realizado lives a respeito do assunto e também diversas ações nas redes sociais. Além disso, serão feitas doações de próteses pelas empresas e clínicas participantes da campanha. 

Sobre a ABOTEC

A Associação Brasileira de Ortopedia Técnica (ABOTEC) é uma entidade sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo o desenvolvimento técnico - científico da ortopedia técnica do Brasil.

Fundada desde 1988, vem consolidando ao longo de sua trajetória  sua posição de entidade representativa, fiscalizadora e regulamentadora da área de ortopedia técnica. 

Através do aprimoramento profissional, técnico e humanístico e da disseminação do conhecimento de novas técnicas, materiais e dos últimos avanços tecnológicos, a ABOTEC busca a cada dia uma maior representatividade junto ao governo e a sociedade, sempre sob a visão de uma atitude ética e engajada em prol do melhor atendimento das pessoas portadoras de deficiência.

Sua estrutura, baseada nos moldes das demais entidades internacionais (Ispo, Interbor, etc), compõe-se de empresas e de profissionais da área que, juntos, buscam a excelência na integração de uma equipe multidisciplinar na reabilitação física. A ABOTEC acredita que o segredo desse sucesso está na seriedade daqueles que se dedicam à sua causa e também a participação. 

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Criança precisa de rotina

12/04/2022 12:29

Para os pais que acreditam que o filho precisa ter tudo o que eles não tiveram, melhor rever o conceito. Os filhos precisam de pais presentes, precisam de rotina: saber onde dormem, o horário das refeições, saber que alguém irá buscá-los após a escola, que em função da separação dos pais a semana ele passará com a mamãe e o final de semana com papai (não necessariamente nessa ordem) e será amado em ambos os contextos.

Precisam de alguém que os ensine a não maltratar os animais, não contribuir para o crescimento do preconceito, a devolver o brinquedo do amiguinho que pegou num momento de inveja, dentre outras regras de conduta que, quando não apontadas contribuem para a formação da personalidade psicótica/perversa.

Não é luxo, não é tecnologia, nem viagens à Disney, tampouco é “fast-food” diariamente, apenas o bom e velho amor associado ao tempo de qualidade. Menciono apenas o necessário para a sobrevivência e formação do caráter, o restante são vantagens que podem ser agregadas com moderação, caso caibam no orçamento familiar.

Lembrando que, é preferível ter a presença dos pais, do que os bens materiais e a ausência de carinho, de olhar e escuta. A criança vai à praia de fusca e come pão com mortadela feliz da vida. Já o adulto, frequentemente fantasia o que agrada a criança e se estressa mantendo vários empregos para pagar pacotes de viagens internacionais que ocorrem a cada não sei quantos anos.

Vemos exemplos de pessoas que vieram de lar cujos pais eram adictos, e a família era complicada, entretanto, são adultos saudáveis, criativos e bem sucedidos.

Outros que vieram de lares aparentemente perfeitos, tendo tudo ao alcance e são pessoas desajustadas emocionalmente. É muito relativo, a criança precisa de uma rotina que transmita segurança, que faça com que ela se sinta amada e desejada e isso ela pode ter morando num casebre ou num castelo.

Aos olhos de alguns, criança feliz é criança que tem de tudo, aos olhos de estudiosos do comportamento, criança feliz é criança que tem que tem o necessário (amor, carinho, apoio, segurança)e que pais que saibam frustrar em algum momento, afinal a vida frustra.

Embora possam ter falhado conosco em algumas áreas, não por negligência mas, por ignorar o peso de determinados atos e palavras para nós, nossos pais nos transmitiram uma bagagem cultural importantíssima:

Sabe por que apreciamos um pão francês com manteiga e uma xícara de café pela manhã? Rotina compartilhada na mesa de refeições com a família.

Sabe por que ainda insistimos em comer um bolo no dia de nosso aniversário? Rotina que lembra a infância, as festinhas que mamãe fazia, onde ela mesma preparava e recheava o bolo com leite condensado cozido na pressão.

Sabe por que cumprimentamos as pessoas? Rotina observada quando saíamos as ruas com nossos pais e avós.

Sabe por que apreciamos: comer peru no natal, comer macarrão aos domingos, repetir o arroz com feijão e o ovo frito, tomar café e molhar o pão na canequinha, ler bela adormecida, ir à igreja, ir ao cinema, ouvir determinadas músicas … tudo rotina!

Hábitos e valores que nos foram transmitidos, os quais levamos pela vida e vamos multiplicando através das gerações, com o intuito de ter nossos queridos sempre por perto presencialmente ou na memória.

Não precisamos reproduzir o que é ruim, se temos convicção que algo nos afetou e marcou nossa vida, vamos evitar levar adiante e comprometer a relação com nossos filhos, amigos, e cônjuges.

Façamos uma releitura sem pressa de nossa infância, veremos que somos o que somos porque tivemos base e chão firme sob nossos pés, não porque nos foi oferecido games e roupas de grife. Talvez tivemos acesso ao básico do básico mas, não nos faltou o essencial: carinho, amor, disciplina e ROTINA.

Andrea Ladislau

Psicanalista (SPM); Doutora em Psicanálise, membro da Academia Fluminense de Letras –cadeira de número 15 de Ciências Sociais; administradora hospitalar e gestão em saúde (AIEC/Estácio); pós-graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social (Facei); professora na graduação em Psicanálise; embaixadora e diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói; membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento Profissional do Instituto Miesperanza; professora associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo; professora associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites; graduada em Letras - Português e Inglês pela PUC de Belo Horizonte.

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10 orientações para evitar crises conjugais por causa do dinheiro

08/04/2022 10:59

O tema é complexo, por tratar de indivíduos que possuem hábitos e comportamentos diferentes, nem sempre o que é interessante para uma pessoa pode ser para outra. Assim, quando falamos de finanças para casais, é importante que ambos tenham o cuidado para evitar discórdias, o que é possível por meio de diálogo.

A primeira coisa a se entender é que o dinheiro, por ser um meio para realizar necessidades e sonhos, precisa ser muito bem direcionado e nada melhor que um bom orçamento financeiro onde ambos possam construir seus objetivos como casal e individuais.

A grande maioria dos casais não aprenderam a administrar suas finanças e, o mais complicado, por se tratar de dois indivíduos a probabilidade é grande de que que cada um tenha vivenciados diferente de lidar com o tema.

Assim, para o melhor lidar com o tema é preciso uma relação amigável, de confiança, que deve nascer de boas conversas. Infelizmente vejo hoje quem muitas vezes os casais nem mesmo conhecem os sonhos um do outro. E o pior, nem os ganhos.

Esse alinhamento é imprescindível para uma relação equilibrada e saudável financeiramente. Grande parte das separações, divórcios são provenientes dos problemas gerados pelo dinheiro. Por isso toda atenção é sempre bem-vinda e com isso a prosperidade financeira do casal será consequência.

Mas, como fazer para dar uma virada nessa relação com o dinheiro? Conhecer a realidade financeira da família, ou o ‘eu financeiro’, é o primeiro passo, sabendo de onde provém o dinheiro é para onde está indo.

Outro passo é elaborar um bom orçamento financeiro familiar priorizando sonhos, necessidades e propósitos da família. Com o orçamento em mãos será possível entender como está a real situação financeira, que são quatro: investidora, equilibrada, endividada ou superendividada.

Muitos casais também dificuldades de saber se é mais conveniente ter contas bancárias individuais ou conjunta. Não existe problema algum nessas opções tudo depende de uma boa combinação entendendo as facilidades de cada possibilidade para o casal.

Já, quando o assunto é investimento, tudo vai depender das finalidades, ou seja, é preciso sempre ‘carimbar’ o dinheiro aplicado para uma finalidade, dependendo da opção se definirá se esse investimento será feito em conjunto ou individual. Por exemplo, para uma viagem da família o investimento em conjunto vai muito bem. Já se for investir para uma aposentadoria, em uma previdência privada, por exemplo, o investimento deverá sempre ser de forma individualizada.

O segredo está em uma boa e inteligente reunião familiar e colocar tudo na mesa na ponta do lápis. Assim, é preciso, muita atenção para os propósitos da família como sonhos, necessidades, prestações, dívidas contraídas e a criação de uma boa reserva financeira para eventuais oportunidades.

É importante um novo formato de orçamento, que traga as prioridades da vida em primeiro lugar, ou seja, antes dos gastos, tendo assim os propósitos protegidos antes. Para isso se deve definir em reunião familiar sonhos coletivos e sonhos individuais divididos da seguinte forma: curto prazo (até um ano), médio prazo (de um a dez) e longo prazo (acima de dez anos)

E mais todos os sonhos devem estarem acompanhados de informações fundamentais como: Qual o sonho? Quanto custa? Quanto tempo quer realizá-lo? Quanto vai poupar? E, caso não tenha esse recurso, de onde vai tirar ou ganhar esse dinheiro?

Se não responder essas perguntas os sonhos podem virar um grande pesadelo. Da reunião sobre o tema, tem que participar os filhos, caso tenha, procurem inserí-los, eles possuem sonhos e poderão contribuir com a construção de uma vida financeira sustentável.

Uma atenção especial para os casais onde um ganha mais que o outro, é preciso respeitar e entender essa diferença. Na educação financeira não importa quanto cada pessoa ganha e sim como se gasta e emprega o dinheiro no decorrer da vida.

Para contribuir ainda mais descrevi algumas orientações básicas que poderão ajudar nesse que é a mais importante das uniões o casamento, vamos a elas:

  1. Faça reuniões frequentes envolvendo todos os membros da família, mesmo que não esteja havendo problemas financeiros;
  2. Na reunião é muito importante falar e definir os sonhos individuais e coletivos de curto, médio e longo prazos, além das necessidades e reserva financeira;
  3. O casal deve fazer um diagnóstico financeiro durante trinta dias, se tiver ganhos fixos, ou noventa dias, em caso de ganhos variáveis. As anotações devem ser por tipo de gastos e ganhos. Isso deve ocorrer anualmente ou quando houver uma oscilação drástica nos ganhos ou gastos;
  4. Saiba ouvir todos os membros da família, acredite eles podem e devem contribuir com ideias;
  5. Independente do parceiro trabalhar ou não, é imprescindível que ambos tenham contribuições para suas aposentadorias. É muito comum nesses casos que apenas quem tem o ganho faça a previdência, lembre-se ambos possuem suas obrigações e precisam de um futuro seguro;
  6. Caso tenha filhos, é preciso inclui-los na reunião e provocar neles o desejo de sonhar e mostrar que o dinheiro é um meio e não aceita desaforo;
  7. É preciso apresentar para todos da família que os excessos de gastos e desperdícios são muito altos, acredite, esses podem chegar a 50% dos gastos;
  8. Para que a família fique blindada é preciso construir uma reserva financeira, ou reserva estratégica, garantindo sustentabilidade mínima de 12 meses, e que deverá estar disponível a qualquer momento, seja para oportunidades ou necessidades;
  9. Ainda em caso de filhos, não erre atrelando o dinheiro dado para uma criança a uma obrigação, lembre-se a criança não trabalha, não ganha salário;
  10. E, para fechar, é preciso que o casal sempre poupe parte do dinheiro ganho, sempre carimbando o dinheiro guardado e aplicado, nunca invista sem antes decidir o objetivo. Dinheiro sem destino é dinheiro perdido.

Reinaldo Domingos, PhD em Educação Financeira, Presidente da DSOP Educação Financeira e da Associação Brasileira de Profissionais da Educação Financeira (Abefin). Está à frente do canal do YouTube Dinheiro à Vista, autor do bestseller Terapia Financeira e de diversas outras obras sobre o tema.

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Uma pequena grande história sobre o câncer

07/04/2022 12:31

No dia 7 de abril se comemora o Dia Mundial da Saúde e, no dia 8, o Dia Mundial do Câncer. Nessas datas tão especiais vale a pena uma reflexão. 

Vou contar uma história não tão grande. Na realidade é uma história bem pequena. Microscópica. A sua célula. A história é sobre sua célula. Quantas vezes no dia você já parou para tomar consciência da existência desses indivíduos celulares que compõem o seu corpo? Do seu trabalho incansável e ao mesmo tempo coordenado para trazer materialidade à vida? 

Você literalmente começou de uma única célula que carregou meio DNA do seu pai, meio DNA da sua mãe e, com essa composição, ela, única e solitária, se dividiu em duas, quatro, oito e assim por diante até que gerou todas as dez trilhões de células do seu corpo. 

Todas elas ainda guardam aquele mesmo código da célula da criação, o material genético necessário para ser o que elas quiserem ser em algum momento de sua vida. O DNA. 

A célula carrega dentro dela o potencial para ser o que ela quiser ser. Desde um epitélio intestinal (o que reveste seu intestino) e viver SETE dias, até um neurônio que irá viver ANOS, com células de suporte a seu dispor e uma nutrição rica e nobre. Esse equilíbrio sustentável é o que permite as funções biológicas do nosso organismo. 

Esse equilíbrio sustentável pode ser quebrado e muitas vezes é ameaçado por uma única célula; uma célula que por meios próprios escapa de seus 'destinos predestinados', ignora seu prazo de validade, se reproduz de forma descontrolada, ocupa locais onde não deveria estar. Pior, se estabelece e prospera nesses locais às custas de recursos que explora do meio ambiente de forma predatória. A célula cuja própria existência é insustentável e ameaçadora para a existência de todas as outras ao seu redor. 

Ela é perigosa, uma ameaça, parece que se perdeu no seu princípio de existência e adquiriu comportamento insustentavelmente maligno. Ela é o Câncer e nós buscamos o seu extermínio.

Hoje a cura do câncer seria propor a sua extirpação. O extermínio completo e total de sua linhagem, seja por remoção à força (uma cirurgia), seja por um bombardeio, seja por tratamento alvo ou imunoterapia. O fato é que nessa guerra, entende-se que vence o último homem de pé. 

Mas será que isso basta?

Todo processo de cura do câncer é um processo de transformação do organismo que gerou a doença para o indivíduo que irá vencer a doença. Nessa luta refletimos sobre a nossa existência, sobre nosso propósito, sobre amizade, família e amor. Convido nesse dia a pensarmos sobre o que podemos fazer hoje para nos equilibrar e trazer essa reflexão de existência e propósito em tudo o que escolhemos.  Escolhas saudáveis de alimentos, parar de fumar, fazer exercício. Escolhas de estar com as pessoas que gostamos e amamos, e dizer o quanto são amadas e queridas. Escolhas de como queremos gastar nosso tempo. Tomar escolhas sustentáveis e equilibradas. 

Isso nos torna mais distante da célula maligna, e mais próxima da célula que queremos ser. 

Essas são escolhas que vencem o Câncer.

Davi Jing Jue Liu

Médico oncologista, membro do Conselho Científico da Unaccam - União e Apoio no Combate ao Câncer de Mama. Nascido na cidade de Harbin na província de Heilongjiang-China, Davi Liu veio ao Brasil quando pequeno junto com seus pais, médicos tradicionais chineses. Formou-se em Medicina pela UNIFESP onde se especializou em Cancerologia. Concluiu curso de Medicina Tradicional Chinesa em Beijing e hoje trabalha com Oncologia de Precisão e Personalizada, além de ser autor de diversos livros na área de educação médica.

 

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O presidente improvável

06/04/2022 17:06

Fui, pela primeira vez, após mais de dois, anos ao cinema. A situação pandêmica suspendeu, para muitos, esse hábito. Em cartaz, “O improvável presidente”, do diretor Belisário Franca, acerca da trajetória intelectual e política de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Com pipoca no colo e refrigerante, acompanhei, com mais seis pessoas, o filme.

O documentário é uma conjugação de conversas de FHC com notórias figuras que estiveram presentes em sua vida acadêmica, vida pública e vida política. Há, portanto, nomes nacionais e estrangeiros. Amigos de longa data como Boris Fausto e seu filho Sérgio Fausto, atualmente superintende da Fundação Fernando Henrique Cardoso; Celso Lafer, José Gregori, Gilberto Gil, Gilda Figueiredo Portugal Gouveia, Maria Hermínia Tavares e Beatriz Cardoso, filha de FHC. Há colegas acadêmicos estrangeiros como, por exemplo, Manuel Castells, Alain Touraine e políticos como Ricardo Lagos e Bill Clinton. Nas conversas, FHC vai relembrando momentos de sua existência, às vezes, provocado pelos interlocutores, noutras pelo próprio diretor que não aparece em cena.

A história do Brasil e a trajetória de FHC estão intrinsicamente ligadas ao século XX e início do XXI. Foi Celso Lafer, salvo melhor juízo, num artigo que afirmou que os intelectuais estudam e criticam o poder, podem auxiliar o poder e, raramente, chegam a exercer o poder. FHC cumpriu estas três dimensões. Sua formação em Ciências Socais, na USP, o levou ao domínio do ferramental analítico, especialmente, da Sociologia e da Ciência Política; chegando ao topo da carreira acadêmica como Professor Catedrático. Teve, contudo, sua docência interrompida pela perseguição do Regime Militar e sua aposentadoria compulsória e, consequentemente, necessidade de exilar-se em outros países. O arbítrio dos autocratas da ocasião, no entanto, deu a FHC uma projeção internacional a partir de sua permanência na CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) e da publicação, em coautoria com Enzo Faletto, da obra “Dependência e Desenvolvimento na América Latina”. Assim, na seara da docência e da pesquisa, FHC esteve em salas de aulas e fez investigações em países da América do Sul, da Europa e nos EUA. Mesmo com excelentes condições de trabalho no exterior, FHC volta ao Brasil e funda, junto a outros professores e intelectuais atingidos pelos militares, o CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). No CEBRAP, com recursos de fundações estrangeiras, puderam, com certa segurança, devolver pesquisas aplicadas e melhor compreender a situação política, econômica e social do Brasil dos 1970. Foi lá, no CEBRAP, que FHC estreita laços com o MDB na figura de Ulisses Guimarães. Como a política sempre esteve presente no bojo de sua família, FHC toma gosto pela relação com setores da política nacional que lutavam pelo restabelecimento da democracia.

Politicamente, FHC chegou à condição de suplente de Senador e quando Franco Montoro foi eleito Governador de São Paulo, FHC retorna do exterior para assumir uma cadeira no Senado. Relembra -- com Nelson Jobim -- a enorme agitação que se deu, em Brasília, por ocasião da Assembleia Constituinte e da redação da Constituição de 1988. Em dado momento, foi rememorado, também, a derrota de FHC para Jânio Quadros na eleição para a prefeitura de São Paulo, em 1985. Dali em diante, FHC permanece no Senado, ganha musculatura política, será um dos fundadores do PSDB e, após o impeachment de Collor, exerce dois ministérios no Governo Itamar Franco: Ministro das Relações Exteriores e Ministro da Fazenda. Como titular da pasta da Economia, FHC orquestra a construção de um plano econômico objetivando o controle da hiperinflação e a estabilidade da economia nacional. Neste campo, a conversa se desenvolve com Pedro Malan e Pérsio Arida, este destacando o importante papel de FHC em comunicar, didaticamente, à sociedade e à classe política a complexidade do Plano Real. O sucesso do Real foi, como se sabe, a base que levou à vitória de FHC sobre Lula, em 1994 e, depois, sua reeleição em 1998. Aliás, aqui, um parêntesis: FHC afirma não ter certeza de que o estatuto da reeleição seja benéfico, ponto bastante explorado pelos jornalistas que resenharam o filme.

Conheço relativamente bem os fatos narrados no documentário, pois foi objeto de estudo de minha tese de doutorado. Mesmo assim, alguns momentos são, sempre, reveladores. Um que me chamou a atenção foi quando Beatriz Cardoso, Bia, assim chamada pelo pai, questiona o porquê da narrativa do PT em relação a FHC ter “colado”, de que era, por exemplo, neoliberal. FHC responde que é a narrativa, mas não a realidade. Noutro momento, FHC afirma que deveriam ter “cacarejado” mais em relação aos acertos do governo, lembrando da galinha que anuncia com vigor o ovo botado. Na discussão sobre a diferença do professor e intelectual e do político no que tange à comunicação com a sociedade, FHC diz que aprendeu que não era necessário um novo discurso a cada cidade ou palanque no qual estava e que o importante era escolher três pontos e reafirmá-los com ênfase. Disso, há uma passagem, quando chega dos EUA, e, recém guindado à condição de Ministro da Fazenda, fala aos jornalistas, ainda no aeroporto, que o problema do Brasil era: “Em primeiro lugar a inflação; em segundo lugar, a inflação e em terceiro lugar, a inflação”.

Ao fim e ao cabo dos 100 minutos do documentário de Belisário Franca, resta-nos uma dose de alegria e de tristeza. Alegria por, com todas as críticas -- legítimas - que se possa fazer às posições políticas e ao Governo FHC, até os adversários reconhecem que foi um democrata no exercício do poder. Tristeza de ver que, após dialogar com amigos e figuras políticas, em português, inglês, espanhol e francês, temos políticos, hoje, distantes dos ideais democráticos e que, sequer, dominam o básico do idioma pátrio. Triste, ainda, é perceber que aos 90 anos, lúcido, FHC é obrigado a vivenciar a crise de seu partido e os ataques populistas tão evidentes à democracia e às nossas instituições.

P.S.: Se o estimado leitor e a estimada leitora me permitem uma sugestão, além do filme, podem ter um bom resumo da trajetória de FHC na obra “A arte da política: a história que vivi”, da Editora Civilização Brasileira, de 2006; dos “Diários da Presidência”, em seus quatro volumes, da Companhia das Letras e, seu último livro, “Fernando Henrique Cardoso: um intelectual na política {memórias}”, da Companhia das Letras, de 2021.

Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia, pela Unesp.

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
 

A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 71º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa Times High Education 2021, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

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Primeira Edição © 2011