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Economista formado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Pós graduando em Gerenciamento de Projetos pela Faculdade Maurício de Nassau. Consultor de gestão de negócios e planejamento financeiro pessoal. Instrutor de cursos de matemática financeira e análise de investimento. Dúvidas, comentários ou sugestões de temas, enviar e-mail para: romulobs@yahoo.com.br

Cara páscoa

24/03/2015 18:30

Páscoa se aproximando. Vejo constantes comparações com os preços dos ovos e barras de chocolate. Entre uma barra de 100g e um ovo de chocolate número 15, alguns dizem que é mais vantagem comprar a barra de chocolate. Discordo.

Discordo até pela base da comparação. Comparar barra com ovo é o mesmo que comparar banana com laranja. A única coisa que tem em comum é que são frutas, assim como os primeiros itens tem apenas em comum a matéria prima, chocolate.

A primeira razão para que o ovo de chocolate seja mais caro que a barra é a própria sazonalidade. Ovo de chocolate não "dá" o ano todo, diferentemente da barra de chocolate cuja oferta é constante.

Segundo, o ovo de chocolate por necessitar de uma logística diferenciada faz com que seu preço se eleve sobremaneira. Dados do bloglogistica.com.br apontam que esse item representa aproximadamente 40% do custo: para o transporte, os ovos são mais volumosos que a barra de chocolate, são necessários caminhões refrigerados, armazéns climatizados, cuidados redobrados no manuseio etc;

Terceiro, o trabalho de embalagem, chamado nas fábricas de " fantasiar" o ovo, é essencialmente manual, o que não ocorre no processo de embalagem das barras, que é todo automatizado. O custo de mão de obra para o enfeite do ovo é de aproximadamente 20% do custo.

Quarto, o custo com embalagem é em torno de 16%. Embalagens especiais, mais elaboradas, caixas de papelão estilizadas, presilhas, brinquedos, plásticos etc.

Agrega-se a esses fatores demais custos de seguros, custos de licenças de uso de imagens de personagens infantis etc.

Ademais, os indicadores recentes da economia como, inflação, desvalorização do Real diante do Dólar, elevação do custo da energia elétrica, aumento do preço dos combustíveis, elevação da taxa de juros básica da economia (SELIC), pressionam cada vez mais para baixo o poder de compra do trabalhador.

Então, temos de um lado um produto que é ofertado apenas uma vez no ano com seu preço alto e, no sentido oposto, fatores macroeconômicos derrubando o poder de compra consumidor.

Entendo que há basicamete dois tipos de consumidores: (a) o que gosta de comer chocolate, nesse caso terá sua decisão de compra bem definida e irá optar pela barra e, (b) o que quer comer um chocolate diferenciado, com maior valor agregado, com mais glamour; esse optará pelo ovo de páscoa.

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Revisão contratual: nocivo e vicioso.

20/02/2014 17:31

É comum ouvirmos amigos falando que financiaram um carro e depois entraram na justiça para fazer revisão contratual. Todo mundo conhece alguém que já fez isso. Em geral a alegação é que a culpa é sempre dos bancos que cobram juros abusivos chegando até a dobrar o valor do bem financiado.

A solução muitas vezes encontrada para não ter o bem tomado pela instituição financeira é recorrer à justiça solicitando uma revisão contratual.

Minha opinião é que somos apressados e, a pressa é inimiga da perfeição. É a pressa que nos impede de irmos atrás de informações antes de comprarmos e assinarmos um contrato de financiamento. O ditado diz que ‘quem tem pressa come cru’. Em finanças, ‘quem tem pressa sempre paga mais caro’.

Fico me perguntando como é que lemos um contrato, concordamos com o que está ali escrito, assinamos, recebemos o dinheiro objeto do contrato, fazemos o financiamento, levamos para casa o bem financiado novinho em folha e, poucos meses depois entramos na justiça alegando que fomos, digamos, "abusados financeiramente” e, que agora queremos fazer uma revisão dos cálculos do financiamento só porque não estamos conseguindo mais pagar as prestações?

Analisemos. Quem foi realmente lesado nesta negociação? O banco que entregou o que se propôs ou nós, consumidores, que não fizemos as contas direito, superestimamos a nossa capacidade de pagamento e achamos que conseguiríamos pagar as prestações que cabem, ou melhor, cabiam no bolso, assumimos um compromisso e não estamos fazendo jus a nossa assinatura?

Ninguém pega na nossa mão e nos faz assinar um contrato. Os bancos não obrigam ninguém a entrar e pegar dinheiro emprestado com juros abusivos. As operadoras de cartão de crédito não nos obrigam pagar o mínimo da fatura e rolar o saldo no rotativo com juros altíssimos. Fazemos tudo isso por livre e espontânea desorganização, pressa em consumir e falta de educação financeira.

A diferença entre o remédio e o veneno está na dose: recorrer à justiça toda vez que fazemos um financiamento é nocivo e vicioso. É um veneno, pois nos impede de sair da ignorância financeira. É como se tivesse alguém sempre passando a mão na nossa cabeça toda vez que erramos.

Não vivemos num mundo de faz de contas. Vivemos num mundo em que precisamos fazer as contas.

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Hora de comprar carro financiado.

17/02/2014 18:58

Nessa hora, o que deve ser levado em consideração é o preço total do que você está comprando. Depois de ter definido o modelo do carro desejado, a negociação deve ser focada no seu preço. A maioria das pessoas esquecem disso e concentram-se unicamente nas prestações, chegando ao ponto de não perceber que ao preço do carro são somados um monte de penduricalhos, como por exemplo, a TAC (taxa de abertura de crédito), que onera bastante o valor do financiamento e que é negociável.

Na verdade, tudo é negociável.

O importante é saber o que está sendo colocado no financiamento do carro, como o emplacamento e o seguro, que valem por 1 ano e, serão pagos parcelados, com juros altíssimos enquanto durar o carnê do carro; garantia estendida que, segundo o vendedor, é muito pouco, "só R$ 35,00 a mais em cada prestação"; depois vem película fumê, trio elétrico, vidro elétrico...

Então, o que deveria ser:

Preço do carro à vista + juros = prestação do carro.

Torna-se:

Preço do carro à vista + TAC + emplacamento + seguro + pelicula fumê + trio elétrico + garantia estendida + vidro elétrico + alarme + etc + juros= DOR DE CABEÇA.

Não adianta focar em negociar apenas a taxa de juros, pois qualquer redução que você consiga, é compensada com o aumento dos penduricalhos.

É exatamente isso que o vendedor, seu amigo, quer de você. E não adianta colocar a culpa no vendedor. Também não pense que o vendedor está ali para lhe ajudar. No final do mês ele precisa receber o salário e pagar as contas e, quanto mais vender financiado, mais gorda será sua comissão.

Tudo é negociável!

O melhor dos mundos seria juntar o dinheiro e comprar o carro à vista. Mas como o melhor dos mundos nem sempre é possível, a melhor maneira de manter o preço e a prestação isolados, é conferir se estão totalmente isolados.

Se realmente precisar financiar um carro, combine o financiamento com antecedência com o banco ou com a financeira. Explore todas as formas de pagamento, juros e tarifas. Vá à concessionária para negociar apenas o preço do carro. No final você compara o financiamento da concessionária com o financiamento pré-negociado com o banco ou com a financeira.

Para terminar, é importante lembrar que a exigência do governo para que os carros novos saiam de fábrica com air bag e freios ABS (o que deve encarecer o preço dos carros), a taxa de juros (SELIC) em alta e o IPI dos carros aumentando (voltando aos níveis antes dos incentivos fiscais), são alguns sinais de que é saudável para o seu bolso evitar ao máximo comprar carro financiado.

Contudo, se realmente o financiamento for inevitável, faça-o no menor prazo possível. O ideal seria no máximo em 24 meses.

Mas como nem sempre o ideal é possível... respire fundo e, muita calma nessa hora.

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IPVA: Fazenda, banco ou Caderneta de Poupança, o que é melhor?

30/01/2014 19:24

Fui questionado se é vantagem pagar a cota única do IPVA aproveitando o desconto, ou na falta do valor total da cota única, pagá-lo parcelado.

Temos aqui algumas opções:

1 – pagar a cota única e aproveitar o desconto;

2 – Na falta do dinheiro para pagar a cota única, financiar o IPVA pela Fazenda, pagando parcelado.

3 – Pagar a cota única com o dinheiro da Caderneta de Poupança;

4 – Ou pagar a cota única com dinheiro emprestado do banco;

Vamos as contas de um caso real:

Valor do IPVA: R$ 472,98
28/02/14 – R$ 425,69 – cota única com desconto de 10%.
28/02/14 – R$ 157,66 – 1 parcela
31/03/14 – R$ 157,66 – 2 parcela
30/04/14 – R$ 157,66 – 3 parcela

O juro cobrado pela Fazenda estadual para financiar R$ 425,69, que é o valor com desconto para pagamento em 28/fev, em 3 parcelas de R$ 157,66 é de 11,55% a.m. Estratosféricos 271,22% a.a.!

Segundo Nota de Impressa divulgada pelo Bacen em 29/01/14, a taxa de juros média do cheque especial fechou dezembro/2013 em 147,9% a.a. Interessante é que os governantes ainda têm coragem de criticar as instituições financeiras por cobrarem juros abusivos.

Em outras palavras, é melhor utilizar o cheque especial e pagar a cota única do IPVA!

Calma, tem alternativas mais baratas.

Para quem tem o dinheiro parado na Caderneta de Poupança use-o, pois em hipótese alguma ele irá render mais que o desconto obtido no IPVA. Para quem não dispõe de Caderneta de Poupança, simule no site do seu banco um empréstimo no valor da cota única e na quantidade exata de parcelas. Para essa última alternativa, utilizando como base uma taxa média de 5,0% a.m., você ficaria devendo ao banco 3 parcelas de R$ 156,32 ao invés de ficar devendo à Fazenda 3 parcelas de R$ 157,66 e, ainda “ganharia” 30 dias de folga no orçamento, pois a primeira parcela do empréstimo do banco você só pagaria em 28/03/2014 (considerando que você faria o empréstimo em 28/02/2014, que é a data de vencimento da cota única).

Resumindo:

Fazenda estadual cobra juros mais altos que os bancos, portanto essa alternativa deve ser descartada; usar o dinheiro da Caderneta de Poupança e pagar a cota única é sinal de inteligência financeira e, pegar dinheiro emprestado no banco para pagar a cota única PODE ser uma boa alternativa. Vale fazer uma simulação antes.

Inteligência financeira ainda será começar a se programar agora em 2014 para pagar o IPVA de 2015. Como? Transformar essa despesa anual em uma despesa mensal. R$ 425,69 dividido por 12 meses, equivale a reservar no seu orçamento de 2014, apenas R$ 35,47 por mês. Experimente.

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Ilusão monetária: você paga para ver.

17/11/2013 19:39

A economia também faz suas mágicas, suas ilusões. Tenho certeza, você também foi iludido pela inflação.

A inflação é a elevação dos produtos e dos fatores de produção. A inflação causa desvalorização da moeda e, consequentemente, perda do poder de compra. Setores da economia que são monopolizados conseguem impor reajustes nos preços para compensar essa desvalorização. Por outro lado, setores mais fracos não conseguem, como por exemplo, os trabalhadores que não conseguem reajustar os salários acima da inflação. Em suma, há sempre um conflito de distribuição de renda entre os agentes com menor e maior poder de negociação.
A inflação se desenvolve basicamente de duas maneiras. Quando a demanda de produtos excede a quantidade ofertada, temos uma inflação de demanda. Se formos à feira comprar 10 tomates e só tiver 5 tomates disponíveis para a venda, poderia haver um aumento do preço do tomate. A inflação funciona, nesse caso, para ajustar demanda e oferta. Há também a inflação de oferta, que seria causada por um aumento nos fatores que afetam direta ou indiretamente a oferta do tomate, por exemplo, aumento nos custos de produção, fatores climáticos, aumento no preço do combustível, más condições das rodovias etc.
Porém, para consideramos que estamos vivendo um processo inflacionário é necessário que o aumento do preço seja consistente e persistente.

Não vou discutir aqui os efeitos da inflação no nosso dia-a-dia, pois já é sabido por todos. Porém gostaria de chamar a atenção para um efeito causado pela inflação que acaba, como um passe de mágica, passando despercebido: ilusão monetária. A ilusão monetária acontece quando esquecemos de considerar o efeito da inflação sobre a nossa renda e sobre nosso orçamento doméstico.
Vejamos apenas um exemplo: vamos supor um trabalhador que recebe um salário líquido de R$ 600,00. Com essa renda ele consegue pagar todas as despesas domésticas, lazer, estudos, plano de saúde etc. e ainda lhe sobra R$ 100,00 para colocar na poupança. Esse nosso trabalhador resolve agora no final de ano comprar um celular com Android para ficar na moda e conversar no whatsapp com seus amigos. Faz as contas e decide passar a depositar apenas R$ 40,00 na poupança e parcelar o tão desejado aparelho em 12 pequenas e inofensivas parcelas de R$ 59,90.
Fazendo assim tudo fica dentro da normalidade e sob controle, certo? Errado!
Ao longo dos 12 meses de pagamento do parcelamento, todos os itens de despesas do orçamento familiar - combustível, transporte público, água, luz, aluguel, IPTU, IPVA, matrícula e material escolar etc. - irão sofrer aumentos devido à inflação, exceto a prestação mensal do celular que acabara de adquirir que é fixa. Isso implica que, cada vez será necessário direcionar mais dinheiro para honrar com as despesas do orçamento doméstico, faltando assim dinheiro para pagar as prestações do celular. Temos ai a famigerada ilusão monetária que infelizmente você teve que pagar para ver.
Daí surge o dilema: honrar com as despesas de necessidades básicas e deixar atrasar a prestação fixa do parcelamento, ou continuar honrando com o pagamento do parcelamento e deixar faltar as necessidades básicas para dentro de casa? O dilema será, com toda certeza, resolvido com:

a) Desviar cada vez mais dinheiro da poupança para cobrir as despesas do orçamento doméstico;

b) Mais esforço financeiro com pagamento de juros de um novo empréstimo;

c) Mais esforço físico na tentativa de aumentar a renda através de ‘bicos’;

d) Menor conforto físico devido a redução do padrão de vida, para que sobre mais dinheiro;

e) A combinação de todas as alternativas anteriores.

O que fazer então para escapar da ilusão monetária? Infelizmente, não muito. O fato de ter consciência que ela existe já ajuda. Como a inflação potencializa negativamente o peso da taxa de juros sobre os empréstimos, financiamentos, parcelamentos etc, devemos nos esforçar para fazer compras parceladas só se for realmente e extremamente necessário.

Dar sempre preferência para juntar o dinheiro das parcelas para comprar à vista e com desconto já resolve grande parte do problema.

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Primeira Edição © 2011