Moradores das grotas de Maceió aprovam iniciativa do Governo do Estado

07/11/2015 18:40

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Agência Alagoas

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Promover a integração e a igualdade através da garantia do bem-estar social e do direito de ir e vir do cidadão tem sido prioridade para o Governo de Alagoas. É diante deste cenário que o projeto que propõe a recuperação e construção de novas escadarias e pontilhões nas grotas de Maceió tem causado entusiasmo entre os cidadãos maceioenses que residem nessas áreas.

 

O impacto positivo que será gerado ultrapassa as melhorias propostas pelo viés da infraestrutura ao promover integração urbana, mas recai, sobretudo, nos benefícios sociais que tais equipamentos públicos serão capazes de proporcionar em áreas pouco favorecidas da capital alagoana.

 

Atualmente, já são mais de 250 mil pessoas morando em grotas espalhadas por toda Maceió. De forma unânime, elas relatam não apenas os transtornos de mobilidade enfrentados diariamente desde o momento em que deixam suas casas até quando regressam às suas residências, mas ressaltam também a falta de atuação efetiva dos agentes de saúde e de segurança, por exemplo, impossibilitados de agir devido à dificuldade de acesso.

 

Robson Lima, morador e líder comunitário da grota do Pau D’Arco, no bairro do Jacintinho, conta que o perigo para quem mora em grotas é constante. Segundo ele, as escadarias existentes não oferecem qualquer tipo de segurança e os pontilhões são, na maioria das vezes, improvisados pelos próprios moradores, com portas ou pedaços de madeira descartados.

 

“Improvisamos tudo, desde a escadaria e pontilhões até a forma de prestar um socorro. Quando as pessoas precisam ser socorridas, a gente usa uma cadeira ou socorre nos braços mesmo. Em época de chuva, é ainda pior. Fica tudo escorregadio. É muito fácil nos acidentarmos enquanto estamos socorrendo alguém”, explica.

 

“As escadarias e pontilhões vão fazer com que a nossa qualidade vida melhore muito principalmente nesse sentindo, além de servir como um meio para que a gente possa entrar e sair da grota com mais facilidade”, afirma o líder comunitário.

 

Para o líder comunitário, José Carlos Santos, conhecido como Zé do Boi, morador da grota do Canal 5, a história se repete. A falta de escadarias e pontilhões em sua comunidade também contribui para a deficiência de benfeitorias em outras áreas além da infraestrutura. Para ele, essas obras vão garantir não só a acessibilidade, mas vão promover, sobretudo, ganhos na área da saúde e da segurança.

 

Ele afirma que a questão da criminalidade nas grotas é intensificada com a ausência de acesso e, como consequência, os criminosos passam a ver essas áreas como esconderijos perfeitos, já que a falta de acesso dificulta a entrada dos policiais.

 

“Essas obras são importantíssimas tanto para os moradores quanto para a polícia, porque vão facilitar o trabalho do próprio policial no combate à violência. Já perdemos muitas vidas dentro de nossas grotas porque o socorro foi demorado, se o acesso fosse mais fácil, com certeza muitas pessoas poderiam ter sido salvas”, afirma José Carlos.

O líder comunitário destaca, do mesmo modo, a necessidade da relação direta entre cidadão e chefe do Poder executivo. Ele diz ser fundamental o diálogo constante entre ambos para que as necessidades das comunidades possam ser repassadas e discutidas.

 

“A gente não acreditava mais que o governo pudesse chegar até nós. De repente, o governo abraça as grotas com esse projeto maravilhoso. Nós ficamos muito felizes”, disse.  

 

“Temos acompanhado o processo e temos tido a oportunidade de dialogar diretamente com o governo, coisa que nunca foi possível em governos anteriores, isso é muito importante, já que somos nós os verdadeiros portadores de demandas das nossas comunidades para o poder público", ressaltou José Carlos.

 

“A comunidade agora se sente reconhecida, se sente vista. Estamos há muito tempo sem investimento por parte do governo estadual. A gente não quer um ‘paizão’, a gente só quer ter o direito de exercer a nossa cidadania e ver nossos filhos crescerem”, conclui o líder comunitário.

 

INTEGRAR PARA URBANIZAR

O tema “integração”, questão central da urbanização, tem sido amplamente discutido pela Secretaria de Transporte e Desenvolvimento Urbano, pasta que idealizou o projeto e irá conduzir as obras. Além de considerar os conceitos de mobilidade e integração urbana propostos no projeto, a equipe da Setrand tem considerado, com a mesma intensidade, os ganhos sociais que a adequação e construção de escadarias e pontilhões podem assegurar a comunidades que vivem isoladas da malha urbana.

 

Andreia Estevam, assessora especial de transporte e desenvolvimento urbano, explica que o grande desafio da temática, atualmente, começa pela desmistificação e desconstrução da “cidade partida”. Ela afirma existir uma cultura preconceituosa em relação às grotas espalhadas pela capital e diz que a ideia que se construiu, ao longo dos anos, de que o asfalto é sinônimo de ordem e civilidade, não passa de um equívoco.

 

“O imaginário do alagoano, infelizmente, ainda é carregado de preconceito. Uma cidade tem que ser reconhecida por sua multiplicidade, sem exclusão. A intenção do projeto é ouvir como a sociedade interpreta nossa cidade. Nesse sentido, as grotas servem como um grande laboratório, seja no ponto de vista cultural, seja no econômico e social. Mas o mais importante é que, antes de tudo, a cidade absorva, sem preconceito, o que acontece nessas áreas”, frisou Estevam.

 

A urbanista salienta, da mesma forma, a importância em se começar a discutir o caminho viável para a integração sob os pontos de vista urbanístico, cultural, econômico, social e da segurança pública. De acordo com Andreia Estevam, o preconceito em relação às grotas não está relacionado à pobreza, mas à violência, e a cidade só estará integrada quando as grotas passarem a ser consideradas extensões dos bairros.

 

“A integração da cidade irá ocorrer quando um morador da ‘cidade formal’, por exemplo, preferir ir a uma agência bancária ou a um ponto comercial localizado nessas comunidades, por serem mais próximos ou por estarem mais vazios. Aí sim os moradores das grotas se sentirão integrados ao restante da cidade”, destaca.

 

O projeto que padroniza as escadarias e pontilhões já foi finalizado e o início das obras está previsto para o início de 2016. De acordo com Mosart Amaral, gestor da pasta de Transporte e Desenvolvimento Urbano, o início físico das obras depende apenas da conclusão dos trâmites burocráticos.

 

“Esse projeto tem um apelo social muito sério e a implantação dessas escadarias e pontilhões será apenas uma pequena ação que poderá promover o início de uma grande mudança na qualidade de vida dos que ali habitam. As grotas precisam ser vistas como parte integrante do planejamento urbano e não como um problema a parte que, por estar escondido, deve ser eternamente negado pela sociedade formal. Essa realidade precisa ser mudada e o governo do estado está disposto a promover essa mudança”, disse o secretário de estado de Transporte e Desenvolvimento Urbano. 

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