Ex-mulher de Arthur Lira diz que deputado não a agrediu

Prestes a ser indicado para presidência da CCJ, filho de Benedito de Lira também é suspeito de receber dinheiro da Lava Jato

27/02/2015 13:52

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Redação com informações de Lauro Jardim/Veja

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Após matéria publicada na edição desta semana da revista Veja, que fala sobre o depoimento da ex-mulher do deputado federal Arthur Lira, (PP/AL), Jullyene Cristine Santos Lins no Supremo Tribunal Federal, (STF), o parlamentar emitiu uma nota onde afirma que Jullyene o inocente das acusações de agressões físicas que supostamente aconteceram no apartamento do casal, na orla de Maceió, no ano de 2006.

Jullyenne afirmou ter inventado tudo para se vingar do marido, que havia deixado a casa para viver com outra mulher.

Na segunda-feira (23), um dos ministros do STF despachou no sentido de que acusação e defesa se manifestem, em até duas semanas, com as alegações finais.

A matéria, assinada pelo jornalista Lauro Jardim, colunista da revista, deu detalhes do depoimento da ex do filho do senador Benedito de Lira, (PP), que teria sido ouvida em novembro do ano passado. A mudança da versão de Jullyene acontece em meio a possível indicação de Arthur para assumir a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, (CCJ) da Câmara Federal.

Em 2008 Arthur, que na época era deputado estadual, foi preso por uma equipe da Polícia Civil, (PC), comandada pelo, na época, diretor-geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco, e os delegados José Edson e Rodrigo Rubiali, que cumpriram um mandado de prisão do desembargador Orlando Manso do Tribunal de Justiça, (TJ). A prisão foi decretada por acusação de obstrução da Justiça e ameaças a um oficial de Justiça.

Lira foi detido após a PC realizar buscas em uma das propriedades rurais do parlamentar, no seu apartamento na Ponta Verde e, por fim, no seu escritório político, no bairro da Pajuçara, onde recebeu a ordem de prisão.

Ele teria agredido e feito ameaças ao oficial de Justiça que tentava lhe entregar uma notificação para que fosse ouvido no processo movido por Jullyene. Mas a prisão foi revogada após deputados estaduais autorizarem a liberdade do colega parlamentar.

Em 2013, o Pleno do STF decidiu abrir ação penal contra o deputado Arthur Lira, acusado de lesão corporal contra a ex-mulher. O tribunal decidiu aceitar denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal e, com isso, o parlamentar passou a ser réu no processo. O relator do caso, ministro Luiz Fux, foi contrário à abertura da ação penal, seguido dos ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes.

O parlamentar, na nota enviada nesta sexta a imprensa, explica que essa é a terceira declaração da ex-mulher, negando a agressão. Segundo ele o Ministério Público Federal, (MPF), já tinha sido comunicado sobre o depoimento de Jullyene.

“Como muitas vezes acontece, o fim de ligações conjugais pode despertar sentimentos contraditórios, que levam, inclusive, a tentativas de denegrir, ofender e magoar o antigo cônjuge. Lamento que colocações errôneas, já corrigidas pelos próprios autores no âmbito judicial, sejam utilizadas agora, com o objetivo de me atingir politicamente”, divulgou Lira.

No depoimento original, Jullyene havia dito ter sido agredida com tapas, socos e chutes por Lira, na noite de 5 de novembro de 2006, em seu apartamento, no bairro de Ponta Verde, em Maceió. Na época, Jullyene disse que, ao abrir a porta para Lira, o deputado já entrou dando-lhe “tapas, chutes, pancadas” e a arrastou pelos cabelos.

No chão, Jullyene disse ter sido chutada, enquanto perguntava por que apanhava. Os dois estavam separados há sete meses.

Lira estaria indignado por ter ouvido relatos de que Jullyene foi vista aos beijos com outro homem. Segundo ela, Lira gritava:

- Você é uma rapariga, uma prostituta, uma quenga. Eu sou um deputado, você vai me desmoralizar!

Da cozinha, a babá dos filhos do casal, Elane Melo da Silva, outra testemunha do caso, disse no primeiro depoimento ter ouvido o barulho dos tapas e, novamente, Lira gritando:

- Eu vou dar em você de mão fechada, que é pra não deixar hematomas e ninguém escutar!

Elane contou ainda que ouviu o pedido de socorro da patroa, que implorava a Lira que não a matasse, mas preferiu não se envolver. Jullyene teria conseguido chegar à cozinha e pediu que a babá telefonasse para sua mãe, sogra de Lira.

Terceira testemunha do caso, Joilma Santos da Silva Lins, mãe de Jullyene e hoje ex-sogra de Lira, também mudou o depoimento. Na primeira versão, contou ter chegado ao apartamento ao lado do filho e ter visto Lira montado sobre Jullyene, no chão, espancando-a.

Júlio Cesar Santos Lins, o irmão de Jullyene, segurou Lira e o levou para a cozinha. O deputado mandou que ele saísse, mas Júlio se manteve na casa e tentou conversar com o cunhado. Lira foi embora.

Foi Júlio César quem levou mãe e filha à Delegacia da Mulher, para que fosse registrada a ocorrência. Um exame de corpo de delito identificou oito lesões em Jullyene.

Lira também depôs e disse nunca ter havido nada disso.

A babá também voltou atrás em seu depoimento e disse não ter dito nada daquilo. A mãe, Joilma, fez o mesmo. O irmão sequer lembra de ter visto a irmã machucada.

LAVA JATO

A Veja, em maio do ano passado, divulgou uma reportagem detalhando informações que a Polícia Federal, (PF), teria apreendidos documentos e estaria em poder das transcrições de ligações telefônicas, autorizadas pela Justiça, que comprovariam a relação do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, com Arthur Lira e o pai, Benedito de Lira.

A reportagem informava que Youssef  teria indicado o presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, (CBTU), com o aval de Benedito de Lira, que na época controlaria politicamente a estatal em Brasília e em Alagoas.

Conta Lauro Jardim que sob o patrocínio do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, (PMDB/RJ), Lira deve ser conduzido nos próximos dias à presidência da CCJ. Será, segundo o colunista, uma retribuição pelo apoio do PP à vitória de Cunha.

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