Dois elefantes incomodam muita gente...cinco elefantes incomodam muito mais

China e Brasil, as duas maiores economias emergentes, fecham na África do Sul um acordo de troca de moedas para substituir o dólar

30/03/2013 11:32

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Isto é Dinheiro

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O que começou como uma sigla começa a ganhar corpo no mundo real – da política e dos negócios. A reunião de cúpula dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – em Durban, na África do Sul, a quinta do bloco, teve atrasos e muita desorganização. Tanto que a presidenta Dilma Rousseff chegou a desistir de um encontro bilateral com o presidente sul-africano, Jacob Zuma, depois de esperar por uma hora e meia. Mas o acrônimo criado em 2001 pelo economista Jim O’Neill, do banco de investimento Goldman Sachs, conseguiu se firmar como uma alternativa do mundo emergente diante da crise que atinge a Europa e os Estados Unidos.

Os dois acordos assinados em Durban, criando um banco de investimento e um fundo de reservas, mostram a disposição de blindar o grupo contra uma eventual piora na economia dos países ricos. “Frente ao quadro mais conturbado do sistema financeiro, temos de estreitar laços e criar mecanismos de apoio e sustentação mútuos”, disse a presidenta Dilma Rousseff na quarta-feira 27, o segundo dos dois dias de reuniões. Embora não tenham coesão política, ou mesmo econômica, os cinco países formam um grupo de peso com um poder de incomodar as tradicionais potências globais. Juntos, possuem uma população de 2,9 bilhões de pessoas, ou 42% do total, e responderam por 21% do PIB mundial no ano passado, com uma produção de US$ 15 trilhões.

Além disso, o comércio entre os BRICS alcançou US$ 282 bilhões em 2012, dez vezes mais do que o volume negociado em 2002. Até 2015, o comércio dentro do bloco deve superar os US$ 500 bilhões. Toda essa relevância econômica, no entanto, ainda não tinha sido colocada em prática. Daí a importância da cúpula sul-africana, que, embora não tenha saído com instituições prontas, entra para a história como o momento em que se decidiu criar um banco de desenvolvimento do grupo. O formato ainda está em negociação, mas a intenção é criar um instrumento para apoiar a atuação de empresas dos BRICS em projetos de infraestrutura em outros países – como já faz o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financia, por exemplo, obras de engenharia de empresas brasileiras em outros mercados.

O banco pode também conciliar os vários interesses, dando uma destinação para as reservas de US$ 3,3 trilhões da China para países como Brasil e África do Sul, que têm grande demanda por investimentos em infraestrutura. De acordo com o presidente sul-africano, Jacob Zuma, as cinco nações têm em conjunto uma necessidade de US$ 4,5 trilhões em investimentos nos próximos cinco anos. O grupo diverge, no entanto, sobre a forma de atuação da instituição. Na declaração no encerramento do evento, o mandatário sul-africano sugeriu que o banco de desenvolvimento deve se voltar às necessidades dos países-membros. O Brasil pensa diferente.

Nas palavras da presidenta Dilma, o banco “se abre para parcerias também com países em desenvolvimento”, sobretudo na África. A declaração de Zuma jogou uma ducha de água fria nos outros vizinhos do continente, que esperavam receber investimentos de seus pares emergentes. Resta saber ainda como o banco será capitalizado, se apenas pelos membros, como foi ventilado em Durban, ou se de outra forma. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por exemplo, só empresta dinheiro aos países do hemisfério americano, mas tem entre seus financiadores governos europeus e asiáticos.

China, Brasil, Rússia, Índia e África do Sul fecham acordo para criar
o banco dos Brics, bloco que já responde por 21% do PIB global

“Sem receber dinheiro de fora, o banco dos BRICS pode ter um capital menor que o imaginado”, afirma John Kirton, do grupo de pesquisa de BRICS da Universidade de Toronto, no Canadá. Para Lawrence Brainard, economista-chefe da consultoria Trusted Sources, o banco só daria certo se a China assumisse a liderança da instituição, controlando-a política e financeiramente. “Mas os chineses estão relutantes”, afirma. Os BRICS saem de Durban também com um mecanismo de proteção contra a crise: um fundo de reservas contingenciais de US$ 100 bilhões, que vai funcionar como uma salvaguarda dos países contra uma futura crise de liquidez, como a que ocorreu em 2008 depois da quebra do Lehman Brothers.  

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