O trabalho dos caçadores de estrelas em Alagoas

Desde a década de 1970, alagoanos desvendam o espaço inspirando as novas gerações

14/10/2012 13:49

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Marcos Filipe Sousa

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Estima-se que em nossa Galáxia existam aproximadamente 200 bilhões de estrelas. Mas o número está em constante mudança já que corpos celestes nascem e desaparecem no Espaço diariamente. Todo esse movimento é observado por um grupo de alagoanos que tem a Astronomia como sua paixão, são os nossos caçadores de estrelas.

Um deles é o professor de física do Estado, Adriano Aubert. Coordenador do Observatório Astronômico Genival Leite Lima, tem com o Universo uma paixão iniciada na infância. “Sempre fui muito curioso em relação ao tema. E devorava tudo a minha frente quando o assunto eram planetas e estrelas’’, colocou.

O amor do tempo de criança foi deixado de lado e o professor na juventude foi cursar Arquitetura na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). “Vi que não era a minha área e depois de dois anos comecei a estudar Física’’, explicou.

Porém, o então recém formado físico encontrava dificuldades em ensinar a disciplina para os jovens: “A maioria conversava na hora das aulas e as notas eram sempre baixas. Diante do péssimo desempenho, comecei a perceber que ao falar do Espaço os estudantes prestavam atenção. Tinha encontrado o segredo para tornar a Física atraente e com um assunto que era minha alegria”.

Diante da nova descoberta, o professor, juntamente com outros apaixonados no assunto, queria sair da teoria e desembarcar na prática. Surge em 2004 o projeto do Observatório Astronômico no Centro Educacional de Pesquisas Aplicadas (CEPA).

Após várias análises no mapa do complexo educacional, em 2008 começaram as obras de construção do prédio no Centro de Ciências de Alagoas (CeciAL) que fica localizado entre as Escolas Afrânio Lages e Professora Laura Dantas. “Foi uma grande alegria a construção do Observatório, principalmente por ser no CEPA, onde reunimos onze escolas estaduais”, destacou Aubert.

Em Abril de 2009 com a doação de instrumentos da Usina Ciência da UFAL e pelo Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas (Ceaal), o Observatório entrou em operação. O professor destacou os avanços do local desde a inauguração: “Após três anos de criação, além dos instrumentos de observação, contamos com um planetário digital e estamos passando por uma ampliação”.

Atualmente são ofertadas duas atividades para a população em geral, cursos de Astronomia e observações públicas. “Todos são bem vindos. Nosso objetivo é divulgar o tema para a sociedade alagoana”, completou o professor, detalhando que exposições, palestras e semanas temáticas são realizadas constantemente no Observatório.

O Patriarca que inspira o presente

Divulgação CeaalGenival Leite Lima é o nome do primeiro caçador de estrelas em Alagoas. Nascido no bairro do Bebedouro em fevereiro de 1958, foi durante a juventude que ao ler alguns livros de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão se encantou pela Astronomia.

No ano de 1978, Genival foi a Recife para participar de um curso de iniciação à Astronomia no Clube Estudantil da cidade. Retornando a Maceió, começou a fazer observações solares e criou, em sua casa, um Observatório Astronômico . “Com isso, muitos curiosos começaram a participar e se interessar pela Ciência”, narrou Aubert.

Juntamente com outros colegas em 22 de Abril de 1989 criou o Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas (Ceaal).

Mesmo seis anos após sua morte, sua história ainda inspira as novas gerações, como o pequeno Marcelo Antony de treze anos que desde os dez passa boa parte do seu dia no Observatório que leva o nome do patriarca da Astronomia no Estado. “Estudo pela manhã na Escola Laura Dantas e todas as tardes venho ajudar o professor”.

O astrônomo iniciante está terminando de escrever o seu primeiro artigo que tratará sobre os relógios solares. “Esses são os que eu mesmo fiz”, apontou ele mostrando o seu favorito, denominado “relógio solar digital”.Marcos Filipe Sousa

Outro trabalho realizado pelo cientista mirim é conseguir a façanha de achar os 130 objetos espaciais catalogados pelo astrônomo Charles Messier. O cientista levou de 1764 a 1781 para identificar nebulosas, aglomerados estelares e galáxias. Marcelo já encontrou 30 objetos destacados no passado por Messier, completando a primeira etapa da procura. “Quero ser astrônomo e um dia ir ao Espaço”, sonha o jovem.

Eles não estão sós

Como afirmam que não estamos sozinhos no Universo, o professor Adriano Aubert e Marcelo Antony não são os únicos que fazem novas descobertas no espaço em Alagoas. Atualmente o Ceaal reúne cerca de 20 associados que se encontraram para estudar o céu.

“Em determinados períodos recebemos pedidos de organismos internacionais e nacionais para realizarmos observações no Espaço e vemos como determinado corpo celeste está se comportando. Após a análise, enviamos o relatório”, explicou o coordenador do Observatório.

Em 2009, data em que marcou as comemorações do Ano Mundial da Astronomia, o grupo ganhou três categorias do Prêmio Internecional Cornerstone-IYA:  Maior número de eventos registrados por um único grupo e Atividades Comunitárias, além de ter recebido uma menção honrosa na Categoria Maior participação em um único evento registrado. "Nunca um grupo brasileiro chegou a esse feito", destacou o professor.

Marcos Filipe Sousa

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