Em menos de um mês, segunda tartaruga marinha é encontrada na Lagoa Mundaú

Esse já é o terceiro caso registrado na Lagoa Mundaú de três espécies de tartarugas diferentes; biólogo não sabe a que atribuir migração

15/07/2012 09:05

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Jessica Pacheco

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Ontem, [sábado, 14], foi registrado o segundo caso de tartaruga marinha encontrada na Lagoa Mundaú só neste mês de junho. O animal, que pesa aproximadamente 100kg, foi encontrada por pescadores e capturada através da rede de arrasto. Agora o animal está em reabilitação na sede do Instituto Biota de Conservação.

Os pescadores recolheram o animal e o levaram até a areia. No local, o bombeiro, identificado como soldado Batista, atento ao ocorrido avisou à central do Corpo de Bombeiro Militar que imediatamente acionou o Instituto Biota de Conservação que realiza o resgates de encalhes de animais marinhos em Alagoas.

Jessica PachecoEsse é o segundo caso de tartaruga marinha encontrada na Lagoa Mundaú neste mês, o terceiro já registrado na mesma Lagoa.

“Das quatro espécies de tartarugas marinhas que podem ser encontradas em Alagoas, três delas já foram registradas na Lagoa Mundaú. Já dá para realizar um estudo sobre isso”, disse o biólogo Bruno Stefanis, diretor executivo do Instituto Biota.

Segundo ele, no ano passado a ONG encontrou uma tartaruga-de-pente (eretmochelys imbricata) e neste ano, só neste mês de julho, foi encontrada uma tartaruga verde (Chelonia mydas) e essa última, encontrada ontem, uma tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) que é muito difícil de ser encontrada.

Jessica Pacheco

“Os pescadores que encontraram essa última na Lagoa disseram que havia outra na rede, mas que ela conseguiu escapar. Isso levar a crer que devem ter outras por lá”, disse Bruno.

Jessica PachecoSobre os motivos que leva a ter registros como esse de tartarugas marinhas na lagoa, o biólogo é enfático. “Não temos como afirmar”. Para ele, as causas podem ser muitas, a única certeza é que foi por acidente.

“Ela pode ter sido levada por uma corrente marítima, quando estava um pouco debilitada. Pode ter ido atrás de algum peixe ou molusco, pode apenas ter se perdido, mas não há como saber ao certo”, disse ele.

Animais em reabilitação

As duas últimas tartarugas encontradas na Mundaú estão em reabilitação na sede do Biota, no Riacho Doce, com permissão documentada pela Ibama/AL já que a ONG não tem jurisdição para atuar com animais vivos.

A tartaruga verde, batizada com o nome da garota que à recolheu e buscou ajuda do Biota – ‘Alice’, está na sede desde do dia 11 de julho. É um animal juvenil, de aproximadamente 36 cm de casco, e que está bastante debilitada — quando a equipe de reportagem do Primeira Edição chegou à sede da ONG chegamos a cogitar que ‘Alice’ estava morta no tanque, mas minutos depois o animal mexeu a cabeça e as nadadeiras.

Jessica Pacheco

“Ela ainda está viva sim, mas está bastante debilitada”, explicou Bruno. “Não sabemos o que ela tem. Queríamos fazer um exame de raio x para ver se tem algo obstruindo o intestino, mas o Cesmac está em recesso e não há como realizarmos esse exame”, disse. “Ela está a base de medicamento, óleo mineral para ver se ela defeca, e vamos aguardar”, finalizou.

Já a tartaruga cabeçuda encontrada ontem na Lagoa Mundaú, batizada com o sobrenome do cabo do Corpo de Bombeiros, ‘Batista’, tem aproximadamente 100kg e 85 cm de casco e, apesar de estar em reabilitação, apresenta bom estado de saúde.

“Ela foi ‘pescada’ na lagoa, o Corpo de Bombeiro nos acionou, mas por conta do seu tamanho nos pedimos ajuda ao Batalhão de Polícia Ambiental para trazê-la para cá”, explicou Bruno. “Ela está bastante ativa, está defecando o que é um ótimo sinal. Agora só precisamos ver se ela está se alimentando normalmente para podermos soltá-la no mar”, resumiu.

Acervo Instituto Biota

Segundo o biólogo, o animal se alimenta através de moluscos e crustáceos, como caranguejo e camarão e está sendo mantida em uma piscina de 2.000 litros com água salinizada, já que é inviável trazer água do mar em uma moto, pois a ONG não conta com a ajuda de um carro.

“Ela está com uma abertura no casco, que está sarada, mas precisa ser fechada, pois é porta para bactérias. Esperamos fazer isso o mais rápido possível, pois o animal está em água doce, em um espaço pequeno”, disse.

O fechamento do casco vai ser estudado pelo médico veterinário Isaac Albuquerque, da SOS Selvagens. Segundo Bruno, é uma prática já feita com jabutis e cágados à base de resina de dentadura.

Para o biólogo, em poucos dias a tartaruga Batista deve voltar ao mar.

Dificuldades

A reabilitação das tartarugas marinhas é muito complicada de obter sucesso já que em Alagoas não existe exames em répteis e o tratamento se resume a medicação feita pelos biólogos e veterinários.

Jessica Pacheco

“O único exame que se faz por aqui é de raio x, feito no hospital veterinário do Cesmac, os demais, como hemograma de repteis que simples, não existe aqui em Alagoas”, lamentou Bruno. “O que podemos fazer é avaliar através do raio x se há obstrução intestinal e medicar com vitaminas e óleo mineral, se for o caso”.

Apesar das dificuldades, o Instituto Biota já teve a felicidade de soltar animais reabilitados no mar de Alagoas.

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