“A sociedade conseguiu perder sua humanidade”, diz Leonardo Boff durante a Cúpula dos Povos

Em palestra, teórico brasileiro aponta que a perda de valores como a tolerância fizeram as pessoas entrar na banalidade

19/06/2012 12:58

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Fran Ribeiro, direto do Rio de Janeiro

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Auditório lotado na atividade autogestionada (livre) na Tenda Maria da Penha, na manhã desta terça-feira (19), no quinto dia de debates da Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro.

A capacidade máxima do local foi extrapolada por militantes, representantes de entidades e participantes da Conferência que está sendo realizada paralelamente à Rio+20. Uma das palestras mais esperadas pelo público reuniu três grandes teóricos da atualidade mundial. Na mesa para conduzir o debate estavam o professor português Boaventura Sousa, Giuseppe de Marzo da organização italiana ASUD de cooperação mundial, e o teórico brasileiro Leonardo Boff, que fizeram explanações sobre os “Novos Paradigmas da Civilização”.

Qual o desafio da humanidade em se (re) humanizar? Durante sua fala, que chamou a atenção de toda a plateia presente, Leonardo Boff disse que a sociedade conseguiu perder sua humanidade. Com perda dos quatro princípios, cuidado, respeito, responsabilidade radical e cooperação universal, as pessoas entraram na banalidade. Ainda segundo o teórico catarinense, a perda desses princípios que surgiram com a criação das civilizações junto a valores como a hospitalidade, a solidariedade e a tolerância nos deixou agressivos e sem compaixão.

“Só a com a tolerância ativa podemos nos reconhecer como seres humanos. Que vivemos em um mundo em comum. Com a tolerância, poderemos compreender que as diferenças podem estar em convivência mútua. Que as desigualdades podem ser superadas com a hospitalidade entre os povos. O que precisa ser compreendido é que o mundo é de todos. Que todos nós temos o direito de ir e vir, sem a necessidade da burocracia imposta pelo sistema que nos exclui. Que todos temos o dever de cuidar da terra, a nossa Casa Comum”, declarou.

Mais de 10 mil mulheres param o Centro do Rio contra a Mercantilização da Vida

Com o slogan “Mulheres contra a mercantilização de nossos corpos, nossas vidas e a natureza!”, mais de 10 mil mulheres de entidades organizadas na Cúpula dos Povos, realizaram na tarde desta segunda-feira (18) a primeira grande mobilização da Cúpula dos Povos. Ainda pela manhã, elas saíram em caminhada do Sambodrómo do Rio de Janeiro onde está sendo o alojamento dos movimentos de mulheres e da Via Campesina, em direção ao Museu de Arte Moderna (MAM), se juntando a estudantes do Levante da Juventude, União Brasileira de Mulheres, e outras entidades, para realizarem o ato de “Marcha a Ré da Rio+20”, parando o Centro do Rio, na altura do Largo da Carioca.

Sebastián Soto/TV Memória LatinaEm frente ao BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), os manifestantes protestaram contra a atual crise econômica mundial que afeta, principalmente, as nações em desenvolvimento, o aumento das taxas de juros, denunciando a farsa da “economia verde” financiada pelas grandes corporações que tentam, através das decisões que estão sendo tomadas pelas autoridades na Rio+20, privatizar os bens comuns e a natureza.

As manifestantes reivindicaram também o fim da mercantilização do corpo feminino, pelo fim da violência contra as mulheres, pela valorização da mulher do campo e contra o racismo.

“Temos que superar esse modelo, mas para isso temos que superar a divisão sexual do trabalho, que não reconhece nosso trabalho como trabalho, que diz que temos que fazê-lo por amor ou pela culpa que carregamos. Estamos exigindo o reconhecimento do trabalho das mulheres, que a divisão sexual do trabalho deixe de existir também no trabalho produtivo”, declarou a coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres, Nalu Faria.  

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