Petrópolis, cidade imperial e capital da cerveja

Inauguração de complexo dedicado à bebida inspira um roteiro de fim de semana pela serra

27/05/2012 14:43

A- A+

O Globo

compartilhar:

família imperial já cultivava o hábito de apreciar uma boa cerveja, bebida que teria chegado ao Brasil pelas mãos dos monarcas portugueses, em 1808. A partir da década de 1840, quando começaram a chegar à cidade imperial os imigrantes alemães, o lugar foi se convertendo em uma das principais referências no assunto. Em 1853, a inauguração da cervejaria Bohemia, hoje a marca mais antiga do país, foi um marco histórico. No coração de Petrópolis, pertinho dos principais pontos turísticos, como o Museu Imperial e a Casa de Santos Dumont, a fábrica encerrou as atividades em 1997. Nesta sexta-feira, 18 de maio, a construção de tijolinhos reabre as portas: mais que produzir louras, ruivas e morenas, o prédio se transformou em um moderno, lúdico e imperdível museu temático, onde aprendemos tudo sobre a cerveja: a origem, a história, o processo de elaboração e os vários estilos. A novidade inspirou um roteiro de fim de semana todo fermentado na cevada.

Passeio inclui lugares clássicos e aula de produção de cerveja

Um fim de semana é tempo o suficiente para cumprir todo o roteiro da cerveja em Petrópolis. Para isso, melhor se hospedar na área central, mais perto da nova cervejaria e de alguns dos principais endereços desse universo na cidade serrana. O ideal é começar o percurso de maneira clássica, esticando a happy hour junto com os moradores locais na tradicionalíssima Casa d’Angelo, no centro, bar inaugurado em 1914, com ambiente vintage, bom chope na pressão e um repertório de petiscos honestos, que fica com as calçadas e o belo salão bastante cheios quando a noite cai.

Apesar de ser um roteiro cervejeiro, este não é exatamente um programa boêmio. O negócio é acordar cedo no sábado e, depois do café da manhã preguiçoso, partir em direção a Itaipava para dar mais um passo fundamental no passeio da cevada. Outro endereço básico nessa temática, frequentado por moradores e pelos cariocas habitués de Petrópolis, é o Bar do Hortomercado. Primeiro, fazemos uma visita aos produtores rurais que vendem ali muitas e muitas delícias, entre potes de mel e ovos caipiras, queijos e conservas as mais variadas. Difícil é não encher uma sacola de compras. Depois, é hora de se acomodar nas mesinhas externas do boteco, abrir o jornal, e os "trabalhos", pedindo uma cerveja para acompanhar os pastéis que saem copiosamente da pequena cozinha. A pimenta, além de temperar, dá ainda mais sede.

Muita moderação nessa petiscaria vespertina. Porque o almoço tardio é no restaurante Gehren, fundado na década de 1940, perto da área central da cidade. O ambiente dessa casa de esquina é familiar, especialmente durante a tarde, quando pais, filhos e avós dividem as mesas, pedindo as fartas (e baratas) porções do menu, que além de especialidades alemães também apresenta outras boas pedidas, como uma afamada picanha na pedra (R$ 69, para dois, e R$ 89, para quatro) com farofa, e uma linguicinha artesanal feita em Juiz de Fora realmente muito boa para acompanhar uma cerveja.

Mas o melhor mesmo é ficar nas receitas alemãs muito bem executadas, como o kassler, o eisbein (ambos a R$ 45), o bolo de carne ou as salsichas (ambos a R$ 42), que servem facilmente duas pessoas, acompanhadas pelos indefectíveis chucrute e batatas, e boa mostarda escura — pratos que tão bem se dão com um chope ou cerveja. A casa tem alguns bons rótulos serranos, como a linha Weltenburger Kloster, uma das mais tradicionais marcas de cerveja da Alemanha, com quase mil anos de atividade (foi criada por volta de 1050) e também produzida na cidade imperial pelo Grupo Petrópolis (da cervejaria Itaipava), seguindo a fórmula original germânica.

Depois do almoço é uma ótima ocasião para se passear a pé pelo Centro Histórico, passando pelo Palácio de Cristal, pela Catedral de São Pedro de Alcântara e terminando no Museu Imperial — lembrando que a bilheteria fecha às 17h30m e todos precisam sair do prédio até as 18h. Nas noites de sábado, às 18h30m, acontece o Sarau Imperial, uma apresentação de teatro e música, e, às 20h, acontece o bem montado espetáculo "Som e luz", nos jardins do palácio.

Dependendo da animação, ainda é possível dar uma esticadinha para jantar em lugares como o Bordeaux, misto de bar, restaurante e loja de vinhos, que funciona na Casa dos Sete Erros, logo ali nas franjas do Centro Histórico. Apesar do nome, no lugar também é possível beber boas cervejas produzidas em Petrópolis e Teresópolis, mesmo que a lista não seja grande (na filial de Itaipava a seleção é maior, incluindo bons rótulos estrangeiros). O cardápio tem alguns petiscos, sopas e tábuas de queijos e frios, ótimas pedidas para um jantar mais leve.

Quem estiver realmente interessado no universo da cerveja, e quiser aprender a fazer a sua própria, pode subir a serra no dia 16 de junho, quando acontece um curso para a produção artesanal da bebida. O programa (R$ 400, reservas pelo telefone 24 2243-2052) começa às 9h e termina só às 19h30m.

Para começar bem a tarde de domingo seguindo essa filosofia de botequim, não faltam bons endereços. Além dos croquetes emblemáticos da Casa do Alemão e da Pavelka, ou dos bolinhos de bacalhau do Parrô do Valentim e do Recreio, que podem muito bem cumprir esse papel, outro bom lugar para fazer uma boquinha antes do almoço saboreando uma cerveja gelada — algo que parece ser algo ainda mais saboroso no começo de uma tarde outonal ensolarada, com a temperatura ali na casa dos 15 graus Celsius — é a Pão & Pão, escondidinha em Nogueira, endereço famoso pelas empadinhas de massa delicada com recheios os mais variados, sempre forrados com catupiry. O de berinjela é um espetáculo, assim como o de shiitake, e também as fórmulas mais convencionais, de carne-seca, palmito e camarão. Em tempos de enofilia exacerbada e enochatos em profusão, empada com cerveja é um espetáculo, uma harmonização perfeita.
 

Primeira Edição © 2011