Aula prática de educação ambiental mostrou a degradação e a fragilidade do Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba.
Jessica Pacheco
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À convite do diretor de desenvolvimento e pesquisa do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Fernando Antonio Viera Veras, a reportagem do Primeira Edição participou do passeio do Barco-Escola da entidade no Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM) e conheceu todo o ecossistema da região e a degradação que ela vem sofrendo nos últimos anos.
O barco-escola do IMA faz parte do Projeto ‘Navegando com o Meio Ambiente’ e já tem mais de dois anos de existência dando aulas práticas sobre a degradação e o ecossistema do CELMM, despertando a população que participa do passeio sobre a necessidade de revitalizar aquele ecossistema para o bem dos alagoanos.
“O projeto já está implantado, já faz parte da educação ambiente do IMA e já está com aulas agendada até agosto”, afirmou o responsável pelo barco-escola, Fernando Veras. Segundo ele, para solicitar a aula-prática no barco escola, basta o grupo encaminhar um ofício ao IMA. “Isso aqui é fonte de sustento de milhares de famílias, além disso, o desequilíbrio que tomou conta da CELMM e que o deixou frágil pode trazer grandes problemas para a população em breve. As lagoas estão completamente assoreadas por lixo e uma enchente aqui pode destruir tudo, pois não tem para onde a água ir. O problema é sério e não tem a atenção devida”, explicou Veras.
A aula prática, realizada no catamarã do IMA, contou com a presença de integrantes da Associação Alagoana de Ciclismo (AAC) e de convidados que foram recepcionados pelo técnicos do Instituto.
O passeio começou na unidade descentralizado do IMA, localizada na Ilha de Santa Rita, onde os técnicos apresentaram os objetivos do Projeto e mostraram mapas do percurso que seria feito.
“Vamos começar pela parte menos degredada e terminaremos na área mais impactada, no Dique Estrada”, explicou Veras.
As técnicas ambientais Josi Araújo e Mirella Cavalcante ministraram a aula sobre a importância daquele ecossistema e dos manguezais da região, mostrando a fauna e a flora local.
“Os mangues tem uma importância vital para Maceió. Tanto em questão do sustento de grande parte da população que vive do sururu, do massunim, do caranguejo, enfim, e na questão do equilíbrio também”, explicou a estudante de Geografia e estagiária do IMA, Josi Araujo.
De acordo com Fernando Veras, a pesca de caiçara é um dos trabalhos intensos encontrados no CELMM.
“O pescador corta galhos de mangue e coloca como estacas na lagoas, formando uma espécie de labirinto. Alguns ainda colocam galhos dentro do cerco, pois forma uma espécie de esconderijo que atrai as espécies”, explicou o diretor de desenvolvimento e pesquisa do IMA. “Depois o pescador vem aqui com uma rede e capturas as espécies. Tainhas são a maioria nas caiçaras”, disse.
Segundo o ambientalistas, a pesca de caiçara, que é tipicamente da Lagoa Mundaú, já está ameaçada, por conta da quantidade de lixo que esta assoreando o local.
"Talvez, em breve, nós tenhamos que proibir o uso da caiçara, por conta do excesso de lixo que ela colhe. O lixo fica preso nas cercas e assorea ainda mais a lagoa", disse ele. "Uma pesca que é tradicionalmente nossa pode ter um fim por conta do lixo que jogamos aqui, é triste", lamentou Veras.
Apesar do corte do mangue ser considerado ilegal, pois se trata de área de preservação permanente (APP), apenas o corte por parte dos pescadores para a construção de caiçaras é permitido.
A parte do CELMM localizado no Dique Estrada é considerado o mais poluído do ecossistema. Na comunidade não há saneamento básico e dessa forma todo os dejetos da população que vive naquele local vai direto para as águas da lagos.
De acordo com os técnicos do IMA, mais de 200 hectares [1 hectare equivale a um campo de futebol] foram aterrados para a construção do Dique Estrada.
“A intenção era acabar com as enchentes em Maceió, mas idéia não deu muito certo. Por conta dos dejetos que estão sendo jogados na lagoa, a Mundaú esta cada vez mais assoreada”, disse Veras. “Hoje, áreas que antes tinha metros de profundida, não passam de centímetros”, explicou.
E a possibilidades de enchetes na parte baixa de Maceió, segundo o IMA, só piorou, pois os aterros tirou espaço para as lagoas ecoarem. “Se coincidir dessa cheia for em um dia de maré alta, a água vai bater no mar e voltar, e bairros como Pontal, Trapiche, Vergel, Ponta Grossa, Cambona, enfim, vai ficar embaixo d’água”, disse.
No final da aula prática, já de volta a sede descentralizado do IMA, os participantes do evento se disseram triste em conhecer a realidade do Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba e propuseram um convite as autoridades públicas para participar de um passeio no barco-escola do IMA.
Primeira Edição © 2011