Quase 20% do consumo no País é de importados

20/03/2012 05:33

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DGABC

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Um em cada cinco produtos industriais consumidos no País foi importado no ano passado. É o que aponta novo estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), divulgado ontem e que confirma o processo de desindustrialização, ou seja, de substituição da fabricação local pela importação, atualmente no Brasil.

A pesquisa mostra que o coeficiente de penetração, no mercado nacional, dos itens feitos no Exterior subiu de 17,8% em 2010 para o nível recorde de 19,8% em 2011. Entre os segmentos, dois destaques foram as áreas de máquinas e equipamentos, cujo índice atingiu 36,8%, e o setor de informática e eletrônicos, que alcançou 51%.

O crescimento desenfreado das importações é uma preocupação de empresários e representantes dos trabalhadores e, se justifica, já que há crescente redução da participação do setor industrial no PIB (Produto Interno Bruto) e também diminuição nas vagas do segmento no Grande ABC. Dados de levantamento do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) indicam o fechamento de 4.050 postos de trabalho nas fabricantes da região nos últimos 12 meses até fevereiro. Considerando o período de 1999 a 2009, foram cerca de 50 mil postos fechados.

"A desindustrialização preocupa bastante, há desestímulo à produção", cita o diretor titular da regional do Ciesp de São Bernardo, Hitoshi Hyodo. Ele assinala que a tendência é de o atual coeficiente de itens importados, que gira próximo de 20%, cresça ainda mais, no cenário atual de real valorizado.

Outro indicador, que também consta do estudo da CNI, reforça esses receios. O coeficiente de insumos (ou seja, matéria-prima e componentes) também vem aumentado, tendo chegado também à marca recorde de 21,7%, 2,6 pontos percentuais mais que em 2010 e 0,4 acima do patamar de 2008.

Entidades sindicais e de empresários preparam grande ato no dia 4 em São Paulo para alertar o governo sobre os riscos de continuidade da desindustrialização, que ameaça a sobrevivência de pequenas empresas.

FATORES - O gerente executivo da unidade de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, cita que o efeito cambial apenas reforça a situação de falta de competitividade gerada por custos cada vez mais elevados para a produção, como preços altos de energia, carga tributária pesada, despesas grandes com mão de obra e burocracia exagerada.

Para ele, não existe solução mágica para o câmbio e o que é necessário é "uma agenda mais agressiva" para atacar os outros problemas. Como medida de longo prazo, afirma que é preciso investimentos em educação e inovação, como ocorreu a partir da década de 1970 na Coréia do Sul. No entanto, segundo o gerente executivo da CNI, algumas respostas podem ser mais rápidas, por exemplo, se houver o fim da "guerra dos portos" - nome dado ao fato de alguns Estados praticarem redução de tributos para a entrada de produtos importados.

Exportação também sobe, mas fica abaixo do nível de 2004

O coeficiente de exportações da indústria, que representa quanto as fabricantes enviam ao Exterior do total que produzem, também cresceu em 2011, chegando aos mesmos 19,8%. No entanto, isso ocorre, em parte, porque, nesse índice estão incluídos itens como minério de ferro e petróleo. "A cotação das commodities (produtos básicos, com cotação internacional) cresceu", observa Flávio Castelo Branco, gerente de política econômica da CNI.

Ele cita ainda que a tendência de queda foi invertida um pouco também por causa de melhora no ambiente internacional, com reação nas economias do Estados Unidos, da Alemanha e do Japão. "Mas o coeficiente ainda é inferior ao de 2004", afirma.

Castelo Branco assinala que, levando em conta só a indústria de transformação (ou seja, os produtores de manufaturados), o índice passou de 13,9% em 2010 para 15% em 2011, e apesar da expansão, ainda está bem abaixo do nível de 2004, quando havia chegado a 21,6%, e também de 2008, quando era de 16,8%.

Primeira Edição © 2011