Quem paga a conta ambiental de um cruzeiro imprudente?

Naufrágio do Concordia desperta medo crescente de desastre ecológico e traz à tona um problema pouco debatido – a poluição causada pelo transporte e o turismo marítimos

25/01/2012 05:47

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Exame Abril

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À medida que desaparecem as chances de encontrar sobreviventes do naufrágio do cruzeiro Costa Concordia, aumentam os temores de que um vazamento de combustível cause um desastre ecológico na pequena e paradisíaca ilha de Giglio, na Toscana. Para evitar o pior, uma análise minuciosa para retirada do combustível da embarcação teve início nesta terça-feira(24) e deve se estender pelas próximas semanas.

Derrames localizados no fundo do mar já foram identificados pelas autoridades italianas, que classificaram a situação do navio como “uma bomba ecológica” – são mais de 2,3 mil toneladas de combustível armazenadas nos reservatórios sob risco de vazar e contaminar as águas da região.

Apesar de acidentes como o do Costa Concordia serem excepcionalmente raros para a indústria de cruzeiros, cada um traz consigo riscos ecológicos muito específicos, de acordo com a natureza do incidente e com a área afetada. O exemplo mais recente de acidente marítimo com vazamento de óleo na indústria do turismo - e que nos dá uma visão nada reconfortante do que poderá ser o destino do naufrágio italiano, se ações não forem tomadas a tempo - é o do cruzeiro “Sea Diamond”, que em 2007 se chocou com um recife e naufragou na ilha de Santorini, na Grécia. Cerca de 450 toneladas de combustível se acumularam entre os destroços do navio, que permanecem até hoje na região.

Situações como essas, ainda que pontuais, tornam urgente a necessidade de se repensar o turismo náutico e suas rotas – na maioria, destinos ricos em biodiversidade e de belezas incomparáveis. Atenta à questão, a Unesco solicitou nesta segunda que o governo italiano restrinja o acesso de grandes cruzeiros em regiões ecológicas e culturais importantes.

O caso Concordia também traz à tona um problema pouco debatido – a poluição causada pelo transporte e o turismo marítimos rotineiramente. À parte eventuais acidentes de percurso, a indústria de cruzeiros marítimos tem outros desafios ambientais sérios, originados na própria operação cotidiana dos navios.

Duzentos mil litros de esgoto por dia

Um cruzeiro de grande porte é capaz de transportar até 5 mil passageiros e tripulantes. Como uma verdadeira cidade flutuante, um navio assim gera, por dia, 200 mil litros de esgoto de cozinhas, banheiros, lavagem de roupas e higiene pessoal, segundo estimativas da ONG americana Oceana. O lixo sólido também é um problema. De acordo com Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o transporte marítimo responde por 20% da poluição marinha por lixo.

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