Se CPI prejudicasse eleição, Bolsonaro estaria defendendo uma para investigar a Petrobras?

05/07/2022 16:09

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Romero Vieira Belo

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Não faz nenhum sentido dizer que a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito, nesse momento, seria inoportuna por causa do período eleitoral. E daí? O que uma coisa tem a ver com outra? CPI ocupa um percentual mínimo de parlamentares e funcionários, seja no Senado ou na Câmara dos Deputados.

O que impressiona, quando se ouvem vozes criticando a criação de uma CPI para investigar desvios de recursos do Ministério da Educação, é a incoerência, absurda incoerência dos que, intencionalmente, só enxergam um lado da realidade, não respeitando sequer a posição de seus chefes e líderes.

Se o ambiente eleitoral justificasse a não instalação da chamada CPI do MEC, também produziria o mesmo efeito contra a possível abertura de uma Comissão Parlamentar para investigar a política de preço dos combustíveis adotada pela Petrobras.

No entanto, não se ouviu nenhum parlamentar contrário à CPI do MEC erguer a voz contra a CPI da Petrobras, cuja instalação continua sendo defendida pelo próprio presidente Bolsonaro. E não se diga que Bolsonaro propôs a CPI dos combustíveis em retaliação à do MEC. Nenhuma relação entre as duas.

A propósito do tema, o senador Renan Calheiros demole assim a ‘lógica’ segundo a qual a CPI é ruim para o processo eleitoral: “Eles argumentam que não devemos ter investigação parlamentar coincidindo com as eleições. Em português claro, é uma autorização para os ladrões do dinheiro público roubarem tranquilamente sem medo da investigação extraordinária de uma CPI, Argumento horroroso, desprezível”. Claro, não existe tempo bom ou ruim para investigar crimes, para apurar falcatruas.

Se tal raciocínio prevalecesse, também seria válido afirmar que Polícia e Ministério Público não deveriam atuar, investigar desvios de dinheiro público durante os períodos eleitorais.

E ocorre que, nessa toada, os críticos de CPIs acabariam por defender que o próprio Judiciário parasse de funcionar, sustando atos investigativos e ordens de prisão para não contaminar o ambiente eleitoral. Risível, para dizer o mínimo.

Primeira Edição © 2011