Não existe essa de golpe, e o presidente sabe disso

27/09/2021 14:29

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Romero Vieira Belo

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Em surpreendente entrevista à Veja, Jair Bolsonaro disse, de forma direta e objetiva, coisas que a grande maioria dos brasileiros desejava ter ouvido deles em outras ocasiões.

Considerou, por exemplo, ter extrapolado (excedido os limites do bom senso) no 7 de Setembro, em Brasília e São Paulo, quando atacou ministros do Supremo e disse que não cumpriria mais ordens judiciais. Depois, como se sabe, ele leu uma 'Carta’ (redigida por Michel Temer) admitindo os excessos, como que se desculpando aos ofendidos e ao próprio povo brasileiro.

Na entrevista à Veja, porém, o presidente admitiu algo que ele sabe totalmente inviável, impossível mesmo: não pretende dar um golpe na democracia. Não se trata de pretensão, vontade, desejo. No Brasil de hoje, não existe clima nem ânimo, dentro das Forças Armadas, para incursões golpistas. Bolsonaro sabe e a postura dos militares no 7 de Setembro atestou isso de modo cristalino.

Em outra abordagem, JB afirmou que não vai ‘melar’ as eleições. Disse o óbvio, pois um presidente isolado não encontraria apoio nenhum – no Congresso, no Supremo Tribunal, nas Forças Armadas e no seio da sociedade – para tumultuar a vida nacional a ponto de inviabilizar as eleições gerais do próximo ano.

E ainda elogiou a decisão do ministro Roberto Barroso, membro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, de incluir as Forças Armadas no esforço de demonstração da integridade do processo de votação eletrônica, o sistema íntegro e seguro que o presidente, em vão, tentou trocar pelo velho ‘voto impresso’.

Entrevista boa, não somente pelo fato de o presidente aceitar falar a um órgão independente da mídia – que tanto ataca – mas também por se abrir com revelações que mostram, em verdade, o que Jair Bolsonaro pensa, e não o que diz, ordinariamente, muito mais para agradar seus apoiadores.

Após esse imprevisto contato com Veja, Bolsonaro se confere a oportunidade de assumir uma nova postura perante a nação, deixando para trás o esforço obsessivo de desenhar situações que não existem e encarando, finalmente, o cenário do Brasil real.

Primeira Edição © 2011