Luiz Carlos Barreto - lição de vida de um protagonista da comunicação alagoana

24/06/2020 15:59

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Romero Vieira Belo

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ADEUS A UM BALUARTE

 

Luiz Carlos Barreto – lição de vida de um

protagonista da comunicação alagoana

 

Romero Vieira Belo ((*)

 

Luiz Carlos Barreto entra para a história da comunicação social de Alagoas como um veterano que, a despeito de quase três décadas de atuação nessa área, jamais perdeu ou sequer deixou arrefecer o interesse e a vibração pelo noticiário. Em geral, todo  empresário se concentra na evolução dos negócios, na estabilidade da empresa, no lucro e na expansão. Barreto adicionava a esse perfil, tão inerente ao ramo, um olhar quase familiar voltado, também, para a situação de cada funcionário.

Conheci-o em 1994. Secretário de Comunicação de Alagoas, visitei a sede de O Jornal, na Av. Comendador Leão (Prado) e lá estavam, unidos em sociedade, Luiz Carlos e Nazário Pimentel. Anos depois o jornal foi vendido ao industrial João Lyra, que transferiu a sede para a Av. Gustavo Paiva, na Mangabeira.

Luiz Carlos, claro, ficou sem jornal, mas não sem ideia. Esqueceu de vez o setor onde atuara de forma saliente – o imobiliário – e apostou num projeto ousado: criar, sozinho, um semanário, mais um na saliente história dos periódicos  alagoanos. Pouco tempo depois nasceria, com sede na Mangabeira e título pra lá de sugestivo, o Primeira Edição, tocado por uma equipe bem ajustada e uma incontida disposição de liderança. Posição conquistada, afinal, com anos de muita luta e um slogan altamente motivador: ‘Comece a semana bem informado’.

O Primeira Edição virou referência da mídia impressa alagoana, tanto que em seus 16 anos de circulação – ininterrupta – atraiu os mais prestigiosos anunciantes dos setores público e privado.

O veículo de Luiz Carlos integra a sequência de jornais por onde passei em cinco décadas de batente, somando-se ao Diário de Pernambuco, Diário da Borborema, Jornal de Alagoas, Jornal de Hoje e O Diário. Em 2008, sucedendo a uma dupla de promissores jornalistas (Aline Gama e Carlos Madeiro) assumi a editoria geral de um Primeira Edição já consolidado, ingrediente indispensável como opção de leitura informativa dos alagoanos nas manhãs de segunda-feira. E seguimos em frente, firmes, apesar das múltiplas adversidades enfrentadas pelo setor.

Raríssimas vezes – e isso não é comum em empresa jornalística – Luiz Carlos interferiu na Redação. Sempre jogou aberto, tinha uma visão muito clara do mercado, dos personagens que eram notícia, da política e da economia, e fazia questão de assegurar plena liberdade editorial. Na verdade, um misto de liberdade e confiança, correspondido por anos de atuação sem nenhuma intercorrência judicial ou abertura forçada de espaços para esclarecimentos ou direitos de resposta.

Luiz Carlos se relacionava amistosamente com as pessoas e isso explica por que tinha um círculo de amizades tão numerosas quanto díspares. Tratava a todos respeitosamente e, não obstante seu semblante muitas vezes tenso, carregado, era um homem profundamente emotivo e brincalhão. Um homem afável que fazia questão de viver feliz com e para a família – a companheira de sempre, Conceição, os filhos Bruno, Miguel e Rachel e os netos. Outro traço marcante nesse sergipano de muitas virtudes: uma fisionomia com poucas linhas de expressão. Parecia não sentir a passagem do tempo. Nunca percebi diferença significativa no Luiz Carlos da década de 90 confrontado com o atual.

Neste final de junho, de tantas dores e sofrimento, partiu o amigo Luiz Carlos, quase que repentinamente, vitimado pela fúria de uma pandemia convertida em tragédia planetária. Mas, para regozijo dos que o admiravam, entra para a galeria dos grandes protagonistas da imprensa de Alagoas, sobretudo, pela determinação com que ao longo de 16 anos fez do seu jornal uma leitura obrigatória dos alagoanos bem informados. E o fez, como pude testemunhar, superando obstáculos e arrostando com os sacrifícios de uma realidade setorial cada vez mais plena de limitações e desafios.

Primeira Edição © 2011