Aliança com Centrão decreta volta da velha política

29/05/2020 10:55

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Romero Vieira Belo

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Um dos traços do presidente Jair Bolsonaro é a resistência. Mesmo sob pressão, o Capitão não costuma mudar de posição facilmente. Bolsonaro não é o que se pode chamar de uma pessoa resiliente. Não, Bolsonaro defende com unhas e dentes suas posições, muitas vezes, não importando se elas colidem com a razão e a lógica ou, até mesmo, com diagnósticos da ciência, como tem ocorrido nessa atribulada passagem da pandemia.

Por isso, chamou tanto a atenção, a mudança de postura do presidente em relação aos políticos do Centrão, um grupo formado por cerca de 200 deputados que, ao longo da história, cumprem papel de destaque, no Congresso, não por práticas heroicas, mas pelo exercício constante do que ficou conhecido como a política do toma lá, dá cá’. Trata-se de um segmento que abriga inúmeros políticos (com e sem mandatos) processados e condenados por corrupção, a exemplo de Valdemar Costa Neto, um dos ‘expoentes’ do escândalo do mensalão.

A aliança com o Centrão, selada assim ‘sem mais nem menos’, subtrai ao presidente uma das principais peça de seu discurso de renovação, dado que na campanha presidencial ele jurou deixar para trás o que chamou de ‘velha política’, ou seja, a prática recorrente de oferta de cargos em troca de apoio político.

E vai pesar, em avaliações futuras, por se tratar de uma mudança de posição determinada não pela necessidade premente de apoio à governabilidade, mas pela luta em defesa do próprio mandato, cada dia mais ameaçado pelo surgimento de mais e mais pedidos de abertura de um processo de impeachment.

Ao resgatar o ‘toma lá, dá cá’, Bolsonaro abre mão de seu traço diferencial, abandona o discurso em defesa do ‘novo’ e coloca sua sustentação política – aí incluindo o próprio mandato – nas mãos de políticos que, na campanha presidencial, foram usados exatamente como exemplos que jamais deveriam ser seguidos.

Primeira Edição © 2011