Moro renuncia ao cargo de ministro e diz que Bolsonaro queria controle da PF

24/04/2020 15:13

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EFE

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O ministro da Justiça, Sergio Moro, renunciou ao cargo nesta sexta-feira, após a decisão do presidente da República, Jair Bolsonaro, de exonerar o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Leite Valeixo.

A renúncia foi anunciada por Moro em pronunciamento no qual ele alegou interferências do Governo Federal no combate à corrupção e afirmou que a saída de Valeixo, embora tenha sido publicada no Diário Oficial como "a pedido" do diretor-geral, não teria sido solicitada pelo próprio.

"Valeixo nunca sairia voluntariamente da Polícia Federal", declarou, além de alegar que a decisão de tirá-lo foi tomada "sem nenhuma razão técnica".

Moro ressaltou não ter assinado a exoneração de Valeixo, que era seu homem de confiança desde que comandou a Superintendência da PF no Paraná durante a Operação Lava-Jato.

"Fiquei sabendo pelo Diário Oficial, não assinei esse decreto", afirmou.

Para o agora ex-ministro, a decisão de Bolsonaro de afastar o diretor-geral foi tomada para que ele tivesse controle sobre a Polícia Federal.

"Vou começar a empacotar as minhas coisas e vou providenciar o encaminhamento da minha carta de demissão. Eu não tenho como persistir com o compromisso que assumi sem as condições de trabalho e sem preservar a autonomia da Polícia Federal. Ou sendo forçado a sinalizar uma concordância com uma interferência política na Polícia Federal cujos resultados são imprevisíveis", disse.

"O presidente me quer, realmente, fora do cargo", enfatizou.

Moro lembrou que, quando foi convidado por Bolsonaro a assumir o posto de ministro, havia recebido total liberdade para nomear pessoas de sua confiança para os cargos ligados à pasta.

"O que foi conversado é que nós teríamos um compromisso com o combate à corrupção, crime organizado e a criminalidade violenta. Foi me prometido na ocasião carta branca para nomear todos os assessores, como na Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal", afirmou.

"O grande problema de realizar essa troca (de Valeixo) é que haveria uma violação da promessa de carta branca e, em segundo lugar, não haveria causa para essa substituição e estaria ocorrendo uma interferência política na Polícia Federal. O problema é: por que trocar? E permitir que seja feita a interferência política no campo da Polícia Federal", acrescentou.

Moro ressaltou que considera que "essa interferência política pode levar à relações impróprias entre o diretor-geral e entre os superintendentes (da PF) com o presidente da República".

"É algo com o qual eu realmente não posso concordar", disse.

Segundo o ex-ministro, as pressões políticas em torno dessa decisão que forçaram sua saída do governo passam por investigações que estão em curso e sobre as quais ele não revelou detalhes, mas que, segundo várias fontes, podem ter se estendido a dois dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

No pronunciamento, Moro também analisou seu desempenho durante o período de um ano e quatro meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça e destacou, em particular, a redução de 19% nas taxas de homicídios no ano passado.

No entanto, ele lamentou que na luta contra a corrupção "não se tenha avançado tanto quanto se poderia ter avançado", embora tenha apontado que "algo foi feito".

Moro deixa o governo com uma gestão aprovada por 53% dos brasileiros, segundo pesquisa do instituto Datafolha, muito mais do que os 30% do próprio Bolsonaro, que pode sofrer muito mais desgaste com a saída do popular ex-juiz federal.

Na semana passada, Bolsonaro já havia dado um passo contra a opinião pública ao demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também muito popular por sua defesa das quarentenas contra o novo coronavírus, apesar das críticas do presidente. EFE

Primeira Edição © 2011