Sérgio Moro - acima de despeitos e ciúmes

19/07/2019 13:38

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Romero Vieira Belo

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Diz-se, com razão, que o presidente Bolsonaro ‘fala demais’. Mas não é caso isolado no rol das ‘altas autoridades’ da República. Também fala ‘à Bessa’, quase pelos cotovelos, o advogado Marco Aurélio Mello, hoje ministro do Supremo Tribunal. A diferença, contudo, é que Bolsonaro não é magistrado, mas político. Marco Aurélio, aliás, é em si uma contradição, pois critica o ex-juiz federal Sérgio Moro por falar muito fora dos processos, quando ele, o ministro, não é nenhum exemplo por ‘falar de menos’.

Conhecido na Corte Suprema como ‘voto vencido’, por assumir e teimar em posições rejeitadas pelos colegas, Marco Aurélio também adora um protagonismo além dos limites do Supremo. Quando, por exemplo, jornais como Folha ou Estadão buscam um depoimento crítico contra o governo Bolsonaro ou contra o próprio presidente, logo procuram o advogado que, um dia, foi alçado ao Supremo Tribunal por um ato generoso do primo e então presidente da República, Fernando Collor de Mello.

O mais recente arroubo falacioso do ministro ecoou neste final de semana. Onde? Numa entrevista para a coluna ‘Painel’, da velha Folha, hoje crítica e desafeta do governo Bolsonaro. “Espero que ele não ocupe a cadeira que deixarei", bradou Marco Aurélio referindo-se a Sérgio Moro, o já lendário comandante do processo da Lava-a-Jato e atual ministro da Justiça.

É uma frase sentida, penosa até, mas seu autor não é voz solitária no colegiado de ministros. O estilo de Moro na condução da Lava-a-Jato, marcado pela severidade e pelo rigor, produziu inimigos, poderosos inimigos e fez brotar gestos de inveja e despeito em todas as instâncias do Judiciário. No Supremo, seria difícil, talvez impossível precisar quem nutre mais ojeriza por Sérgio Moro, se Aurélio, Gilmar Mendes ou Lewandowski...

‘Voto vencido’, só para lembrar, Marco Aurélio foi o ministro que, agindo por sobre os próprios colegas – coisa que Moro nunca fez – destituiu Renan Calheiros da presidência do Senado em dezembro de 2016. Mas acabou com a ‘cara mexendo’ depois que o colegiado da Corte cassou-lhe a decisão disparatada.

Primeira Edição © 2011