Exageros no carnaval elevam atendimentos

HGE recebeu inúmeros casos que poderiam ser evitados

15/03/2019 19:10

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Agência Alagoas

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O carnaval deixou lembranças felizes para quem caiu na folia, mas alguns ainda se recuperam dos exageros e da desatenção com a saúde durante o período de festas. Como consequência, o movimento no Hospital Geral do Estado (HGE) na primeira quinta e sexta-feira posterior ao feriadão cresceu, sendo a maioria dos atendimentos relacionados a casos clínicos (651), seguidos pelos acidentes casuais (129) e acidentes de trânsito (42).

Nos dois dias que se seguiram ao carnaval, foram registrados 856 atendimentos no hospital mais procurado do Estado. Em 2018, o HGE atendeu 814 pessoas que buscaram os serviços de saúde nesses mesmos dias. O aumento da procura pode não parecer muito grande, mas, quando considerados os 1.859 atendimentos registrados nos cinco dias anteriores, com a internação de 358 usuários, somados aos que já estavam hospitalizados e não receberam alta médica, percebe-se o quanto estiveram movimentadas as portas de entrada da unidade.

Apesar da intensa procura, o maior hospital público de Alagoas assistiu a todos os que procuraram por atendimento de urgência e emergência. “Ajustamos as equipes para dar maior agilidade aos que chegavam, sem prejudicar os que já estavam dentro do hospital. Muitos dos atendimentos que chegam não resultam em internação, pois são casos de menor gravidade e que pedem acompanhamento da atenção primária. Então, em grande maioria, medicamos e encaminhamos para a unidade referenciada”, explicou a gerente do HGE, Marta Mesquita.

Entre os que chegaram ao maior hospital público de Alagoas e necessitaram de internação está o registro da animada Benedita Victor da Silva, de 65 anos. Ela não lembra como aconteceu o acidente, mas sabe que estava animadíssima em um bloco de carnaval, na Barra de São Miguel, divertindo-se com a família, quando sofreu uma queda.

“Eu estava bebendo, não nego. Estava muito feliz! Por isso não lembro tanto. Levaram-me para uma unidade de saúde da Barra de São Miguel, que me encaminhou para a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] de Marechal Deodoro. Na UPA, o médico disse que era preciso ir ao HGE, mas não quis e voltei para casa. O braço foi inchando, ficou dolorido... Só no outro dia decidi ir ao HGE. Foi quando descobri que estava com uma fratura no cotovelo”, contou a foliã.

Solteira, mãe de seis filhos e avó de 15 netos, Dona Benedita sofreu uma fratura supracondiliana de úmero esquerdo. “O ortopedista me mandou fazer um raio-x logo que me viu. Com o exame feito, ele disse que eu tinha fraturado o osso. Eu pensei em ir para outro hospital, mas o médico me convenceu a ficar no HGE mesmo, que era o melhor lugar para o que necessitava. Fui para a Ala G, fiz a cirurgia e já estou me recuperando em casa. Fiquei muito satisfeita com o atendimento, com a atenção que tive, e surpresa em poder já estar em casa tão rápido”, relatou, antes de garantir que não vai deixar de curtir futuros carnavais por causa da queda. “Foi a primeira vez que aconteceu. Eu vou ficar boa e, no próximo carnaval, terei mais cuidado”, disse.

O que Benedita agora conclui é verdade, defende o técnico em refrigeração Robson de Souza, de 39 anos. Por não ter calçado os pés quando tirava uma geladeira da carroceria do carro, ele sofreu queimaduras, sendo o pé direito com lesões que envolvem a epiderme e a porção mais superficial da derme, caracterizando a queimadura de segundo grau. Mas quem quiser que pense que ele perdeu a viagem para São Miguel dos Milagres. 

“Eu lavei os pés em água corrente e enrolei em um pano. No início, foi tudo o que fiz. Tinha acabado de chegar a Milagres. Eu fui até para um bloco! À noite, tomei uns vinhos, então piorei. Tive febre. Fui levado para uma unidade de saúde, que me medicou, cuidou da ferida e receitou uma pomada para ficar aplicando. Foi a partir daí que eu me aquietei. Passei todos os dias seguintes me cuidando mais, mas só decidi vir ao HGE mesmo na segunda-feira, quando vi que não estava cicatrizando como eu queria”, recordou Robson.

No HGE, Robson está sendo acompanhado pela equipe multidisciplinar do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ). No caso dele, o cirurgião plástico Thyago Carvalho suspeita que, por ele ser praticante de artes marciais desde os oito anos de idade, há a possibilidade de ter perdido a sensibilidade nos pés devido aos traumas causados constantemente pelos golpes, os quais podem ter prejudicado terminações nervosas. Entretanto, a conclusão exige exames mais aprofundados de outros profissionais médicos.

No caso do técnico em refrigeração, vale recordar que ele acertou quando decidiu por os pés em água corrente. Porém, falhou quando não levou a sério o ferimento desde o início. Segundo o cirurgião plástico, nos casos de queimaduras mais extensas, é importante buscar o auxílio de um profissional de saúde o mais rápido possível, seja indo ao posto de atendimento mais próximo, ou chamando do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“Nunca se deve recorrer a soluções caseiras e se automedicar. Se os cuidados acontecerem de forma correta em menor espaço de tempo, evita-se o agravamento da lesão. No caso do nosso paciente Robson, o tratamento se estenderá por mais algumas semanas e pode deixar cicatriz”, alertou o médico.

Primeira Edição © 2011