Romero Vieira Belo
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O Brasil se libertou do petismo, com o voto livre e consciente de 57 milhões de eleitores, mas falta ao presidente Bolsonaro uma coisa muito simples: arrumar a casa. A ‘despetização’ dos órgãos estatais – que deveria ter ocorrido após a destituição de Dilma, mas Temer temeu represálias e condescendeu – foi o início. Cumpre, agora, definir metas dentro de um projeto consistente e dinâmico. O bater cabeça é natural – houve com Lula e Dilma – mormente em um governo em que cada ungido a cargo do primeiro escalão age como se fosse o próprio vitorioso.
Bolsonaro deve, sim, delegar poderes aos ministros, até porque já provou não ter vocação para ‘centralizador autoritário’, mas que fique claro, sempre, que ele é o presidente e que nada de relevante – principalmente o que implique desgaste para a população – pode ser anunciado ou definido sem o seu prévio conhecimento.
Importante, também, seria a indicação de um porta-voz do governo, um assessor de comunicação categorizado para transmitir à sociedade decisões governamentais no contexto de um discurso unificado, exatamente para evitar conflitos de posições que só servem para confundir a opinião pública e produzir desgaste à imagem do governo, isto é, do presidente.
Bolsonaro gosta de ouvir opiniões de seus auxiliares e já demonstrou ser tolerante, mesmo quando há divergências que atingem sua própria maneira de pensar. É um estilo novo, muito distante do perfil arrogante dos recentes governantes petistas, mas deve ter limites. Um presidente democrata, que põe a Constituição acima de todos (mas abaixo de Deus), e que considera o que pensam as pessoas que o cercam, é o presidente ideal. Desde, no entanto, que faça prevalecer a força nuclear de suas próprias ideias e de seus próprios conceitos. É gratificante, contudo, ver que o Brasil tem um presidente aberto ao diálogo e avesso a imposições que possam lembrar faíscas de autoritarismo.
Primeira Edição © 2011