"Oh, como são belos os dias do despertar da existência!"

12/12/2018 16:18

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Geraldo Câmara

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                Os famosos versos de Casimiro de Abreu seriam fantásticos para respirarmos paz não fossem os tiros que saem pela culatra e pegam desprevenidos tantos e  tantos cidadãos e cidadãs que inocentemente rezam a pedir por si e por tantos. Tantos que ainda acreditavam na vida, que ainda teriam muito a realizar e muito a sonhar. Tantos que estavam ali sob a proteção da catedral num sopro de esperança para suas próprias vidas sem imaginarem que ali exalariam seus últimos sopros.  Dizem ainda os versos de Casimiro -"respira a alma inocência como perfumes a flor"- e nos conduzem ao local do massacre porque ali estavam todos inocentemente prostrados em meio à oração. Ao invés do soar dos sinos que nos remetem à esperança o ricochetear dos tiros que acabaram com ela. "Oh que saudades que eu tenho da aurora da minha vida! Da minha infância querida que os anos não trazem mais". Uma infância que era coberta de paz, de amor, de brincadeiras, de muito viver. Uma infância que se foi com o tempo da liberdade e que não habita mais as casas e as famílias que são obrigadas a se manterem a salvo da irreverente guerra sem declaração dos tempos que se dizem modernos. Os dramas se multiplicam, as armas são poderosas, as vidas são banalizadas. Felizes aqueles que possam viver os belos dias do despertar da existência e levá-la a cabo no "respirar da inocência".

Primeira Edição © 2011