Como Rodrigo Cunha salvou a pele do 'rejeitado' Collor

19/09/2018 12:56

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Romero Vieira Belo

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A máxima popular ‘todo mal traz um bem’ se encaixa como uma luva na situação de Fernando Collor. O mal, a rejeição pessoal de Rodrigo Cunha. O bem, sua desistência de concorrer ao governo.

Tudo se resume a uma questão: o que aguardava Collor ao final de uma eleição previamente vencida por Renan Filho?

Pois seria e será o desfecho desse enredo eleitoral sem surpresas. Collor entrou na disputa, estabanado, sem avaliar onde estava se metendo. Caiu no ‘conto do Rui’, que precisava de um nome para fazer o papel que ele, o prefeito, não ousou desempenhar. Que prometeu – a Collor – e não cumpriu: um bloco unido, monolítico, de apoio integral. O senador topou, saiu em campanha, aos gritos, como é do seu feitio, mas logo sentiu que não ia dar. Com resistências – simbolizadas no discurso rancoroso de Cunha, o bloco, que nunca foi coeso, desintegrou-se.

Collor – prefeito de Maceió, deputado federal, governador, presidente da República e senador – caminhava rumo a uma derrota massacrante. Revés histórico de um político que ‘foi tudo’ ante um jovem que, no seu próprio enxergar, ‘ainda usa calças curtas’. Seria a lápide de uma carreira fulgurante e tumultuária.

O senador, então, lembrou-se de Rodrigo Cunha. No cenário até então montado, o apoio do deputado estadual significava pouco para o candidato ombreado a Biu de Lira. Mas Cunha representava a cizânia, causa de desunião. Não era o apoio, nem os votos, era o peso moral. Um candidato a governador menosprezado por um aliado da corrida senatorial.

Collor sentiu o clima, a tendência, avaliou pesquisas internas, o horizonte tenebroso, e isentou-se da tragédia nas urnas. Juntou uma coisa com outra – a arrogância de Cunha e a campanha sem futuro – e pulou fora.

Ironicamente, Cunha salvou Collor e, de quebra, ainda preservou as empresas do senador... Não era sua intenção, claro, pois a derrota collorida, de alguma forma, dimensionaria o ‘peso do  apoio negado’, mas a postura discordante serviu como pretexto para Collor se livrar da maior roubada de sua carreira política.

Na sutileza de seu cotidiano, Collor sabe que deve essa ao Cunha.

Primeira Edição © 2011