Meus pais me levaram. Levei meus filhos.

03/09/2018 08:34

A- A+

Geraldo Câmara

compartilhar:

                               Que tristeza! Que saudade dos meus tempos de criança e de jovem, quando por diversas vezes, primeiro levado por meus pais, ia à Quinta da Boa Vista e não deixava de incansavelmente rodar as majestosas salas do Museu Nacional; do Palácio do Imperador como costumava chamar. Um lugar de sonhos, de volta ao passado, de muita história, de muito aprendizado. Situado num dos mais bonitos parques do Brasil, a cada vez que lá ia sentia a vibração da Corte passeando por aquelas trilhas fantásticas à beira do encantador lago e, de longe, como um eterno guardião dos jardins a imponente construção do Paço depois transformado em Museu Nacional. Lá, a imperatriz Maria  Leopoldina assinou a Independência do Brasil ratificada cinco dias depois às margens do Ipiranga por Dom Pedro I. Assistir incrédulo pela televisão as dantescas cenas de um fogo terrível destruindo a história, acabando com 200 anos de memória, transformando em cinzas os testemunhos do que os livros contam, foi triste, tão desolador como se estivéssemos perdendo parte da nossa própria memória. E é aí que vem também a revolta por saber que as causas do incêndio talvez estivessem calcadas no desprezo das autoridades, no despreparo de tantos, na falta de prevenção, na constante e crescente ausência de manutenção, mas sobretudo pela total ignorância do que é cultura, do que é passado e história, do que é respeito pelo próprio país. Que pena! Choramos todos, brasileiros, uma grande perda. Talvez só tenhamos noção da extensão daqui a muitos anos quando precisarmos procurar os testemunhos autênticos de um rico período e apenas encontrarmos as cinzas do passado. Meus pais me levaram e eu vi. Meus filhos mais velhos eu levei e eles viram. E daqui pra frente? Pensem.

Primeira Edição © 2011