A Lava-Jato e a falência dos partidos

22/05/2018 14:17

A- A+

Romero Vieira Belo

compartilhar:

As eleições de 2018 ficarão marcadas por algo que ninguém ousaria imaginar, três, quatro décadas atrás: a ruína moral dos partidos políticos. Um fenômeno com causa sobejamente conhecida: as denúncias de corrupção oriundas do rumoroso processo da Lava-a-Jato. Nenhuma legenda de peso escapou.

Na década de 60, após a instauração do regime militar, o sistema criou o bipartidarismo: Arena governo, MDB oposição. A sigla MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que abrigava políticos de variados matizes partidários, cresceu, ganhou projeção e assumiu papel de legenda histórica. O regime sentiu e, mais adiante, ao permitir a criação de novas agremiações, só para alterar a marca gravada no imaginário popular, exigiu a colocação do ‘P’ (de partido) precedendo todas as siglas. Nascia, então, o PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

Com o terremoto da Lava-a-Jato, com os dirigentes das grandes legendas denunciados, os respingos sobre os partidos se tornaram inevitáveis. E como precursor, já prevendo a ‘onda mudancista’ que viria depois, o PFL saiu na frente e trocou de nome, passou a se chamar Democratas, ou simplesmente DEM. Outras mudanças sobrevieram: o Partido Popular virou Progressista, o PTN passou a ser Podemos e assim por diante. Até que alguém de dentro do velho PMDB, movido por essa tendência de ‘renovação nominal’, pensou em voltar às origens, a ideia ganhou aprovação geral e a marca MDB, criada durante o regime militar, acaba de ser restaurada, embora muita gente ainda não saiba.

Caminhamos, assim, para uma eleição afetada não apenas pela proliferação de partidos nanicos – autênticas siglas de aluguel – mas também pela debilitação moral de partidos políticos que escreveram a histórica da República, antes e depois da redemocratização. Eleição com dirigentes partidários comprometidos, expostos em ruidosos processos judiciais, e com partidos incapazes de empolgar a grande massa do eleitorado.

 

Primeira Edição © 2011