A Reinvenção da Política

26/04/2018 12:14

A- A+

Geoberto Espírito Santo

compartilhar:

 

O Brasil que eu quero é o prometido nas campanhas políticas e nunca entregue. Vivemos num mundo de tecnologia, robótica e inteligência artificial e a sociedade passa por uma profunda transformação econômica, tecnológica e social, mas a política não acompanhou esses movimentos. Temos um vazio de poder e de consenso perigosos para o futuro, originado por um minimalismo municipal e regional promotor de um sistema de trocas e favores entre a União, Estados, municípios e empreiteiras neles interligadas para a compra e venda de poder. A eleição, como parte da democracia, serve mais para proteger corruptos, pois um mandato poderá postergar infinitamente um julgamento na Justiça.

 Por indignação e desesperança, entre 60% e 75% dos cidadãos não acreditam que os políticos ainda sejam seus legítimos representantes. Pesquisas internacionais mostram que apenas 7% das pessoas no Brasil ainda acreditam nos partidos, as instituições menos confiáveis. Sua qualidade é inversamente proporcional a quantidade. São 35 registrados no Tribunal Superior Eleitoral e 27 deles atuam no Congresso, uma pulverização que dificulta a tomada de decisões, a adoção de reformas e fertiliza o terreno para a corrupção. A taxa de renovação dos dirigentes nacionais dos partidos foi de apenas 25% em uma década. Não formaram novas lideranças. São vistos atualmente como castelos medievais onde funcionam casas de negócios, nas quais inexistem proteções até para que um candidato que queira, possa desempenhar bem a sua candidatura e posterior mandato. Os partidos trabalham para seus interesses financeiros e a política ganhou má fama, perdeu o seu sentido nobre e passou a ser entendida como lugar de malandros. São a única forma de tomar e conservar o poder numa democracia, mas não unificam mais doutrinas ou interesses sociais, levando para a falência do Estado Democrático de Direito.

Os marqueteiros, especialistas em ilusionismo, evitam tratar da ética de seus patrões e transformaram o processo eleitoral numa repetição enfadonha. Em 2013 e 2015 o povo foi para a rua, numa festa sem nenhuma conexão com o dia seguinte. A geração jovem não é guiada pela lealdade partidária, mas pela necessidade de apoiar candidatos que personifiquem suas próprias causas. Hoje, a maioria das pessoas gostam de se diferenciar por raças, religiões, gêneros, sexo, cor da pele, nacionalidades. Isso são apenas árvores, mas a política precisa olhar a floresta. A política, como meio de conexão entre os indivíduos e a sociedade, não criou mecanismos de participação e as pessoas não se interessaram em participar. O que consolida uma democracia, nem é o voto, nem é o governo, e sim uma sociedade educada e libertária. Dessa forma, pode vir quem vier.

A representatividade política é a matriz de todas as crises e sua reforma tem que vir de uma mobilização social não manipulada que deve anteceder a construção política, um novo olhar nas estruturas formais e institucionais do poder. Se queremos mudar alguma coisa, temos que ter atitude, conscientes que o novo não é o dono da verdade e que pode ser pior do que o velho. A educação de qualidade e a tecnologia cívica poderão nos levar a uma reinvenção da política, transformando eleitores em cidadãos. Gosto de megatendências e um livro tempos atrás me mostrava como seria o fim da atual democracia representativa. Os parlamentares de no máximo cinco partidos, argumentavam, discutiam, debatiam um determinado tema no Congresso e era marcado dia e hora da votação e, em praça pública, os cidadãos votavam através de seus celulares, instalados em relógios de pulso. Como na Grécia antiga, berço da democracia, mas com alta tecnologia.

Por *Geoberto Espírito Santo

*Engº, Prof. aposentado do CTEC – UFAL e membro da Associação Alagoana de Imprensa

Primeira Edição © 2011