Um sessentão que não envelheceu.
Hugo Taques
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Um sessentão que não envelheceu!
19 de março de 1958, parece que foi ontem, e foi, mas já se passaram sessenta anos, meio século mais uma década. Olhando pra frente terei menos tempo de vida do que já vivi. Mas estou vivo e viverei com mais intensidade, com mais qualidade, saberei desfrutar da vida com mais sabedoria e requinte, não terei mais tanta pressa com o “fazer’, não quero mais apenas “ser”, quero “viver’’ os dias, as noites e as madrugadas que estão por vir. Posso me orgulhar do passado, construí uma história de vida bonita, não sei se tão “certinha” como se apregoa por ai, mas nada a envergonhar. Tanta coisa pra contar e, pra minha felicidade, encontro ouvidos ávidos para ouvir e quando meu tempo se expirar não serei extinto nas memórias dos que ficam, serei imortal pois renasço nas minhas descendências, no meu maior e mais valioso legado, meus quatro filhos e dois netos. Se posso citar um grande orgulho que carrego, são eles.
60 anos...se.xa.ge.ná.ri.o, seis sílabas, quase um trava língua que se bem pronunciado tem uma sonoridade poética. Muitas leis foram criadas para dar maior significado e importância à essa fase da vida, uma delas foi a do sexagenário promulgada em 1885, onde escravos com essa idade ganhavam a liberdade, aqui no Brasil tem a tal lei do idoso que dá equivocadas prerrogativas a partir dos 60, mas é Brasil e, de acordo com a tradição chinesa, o ciclo sexagenário começa no ano do nascimento e termina nos 60 anos, e aí se inicia tudo de novo. Então hoje conquisto essa liberdade, não preciso ficar preso a dogmas nem a estigmas e paradigmas, sou um homem livre e preciso da minha liberdade para começar tudo de novo...faria tudo igual.
Eu nunca tive medo do tempo, sempre vivi o tempo presente, aliás, minto, recordo-me de um tempo que eu desejava viver além, aos 15 desejava estar nos 18 unicamente para poder realizar o que era proibido, dai pra frente fiz tudo que deveria e poderia fazer, não me arrependo por nada. Percebo atentamente todas as transformações em meu corpo, de uma pele lisa, viçosa, para outra mais elástica e flácida, os fios negros dos cabelos ganhando o brilho e o charme dos grisalhos, no rosto, as marcas dos anos foram se juntando em rugas ao redor dos olhos e formando linhas paralelas pela testa com acentuados sulcos. Para enxergar o mundo com a mesma nitidez dos 20, 30 e até dos 50, já preciso recorrer às lentes. Não tenho o mesmo vigor, a mesma força dos anos passados, mas não deixo me abater. Conheço e respeito meus limites, faço exercícios constantes para não perder a vitalidade, mesmo assim o tempo é inexorável...mantenho a mente ativa e vivo cada dia como se fosse o único. Fernando Pessoa escreveu: “ O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela” , pura verdade.
Desejo uma vida longa pois aos 60 ainda tenho sonhos de adolescentes. Não com bens materiais, riquezas, quero sim muitas oportunidade para conviver com meus filhos e netos, tempo e saúde para preparar minha caçula para enfrentar o mundo, ter mais tempo para família e amigos. Se tenho a liberdade, quero viajar mais, ter mais oportunidade para cantar e tocar meu violão, dançar, amar, fazer muito sexo, tomar bons vinhos, whiskys em boas companhias, fazer comidinhas deliciosas para momentos especiais com meu amor.
Dizem que idade trás experiências, que pessoas idosas são mais prudentes, cautelosas, capazes de reagir melhor diante situações de conflitos. Não é bem assim, cada fato, cada coisa que acontece é diferente na vida das pessoas e as respostas e reações completamente distintas. Em algum lugar eu lí ou ouvi que “...experiência é um farol que ilumina pra trás...” (não sei o autor) e é isso mesmo só serve para iluminar o passado.
Eu nunca fiz muitos planos para o futuro, as coisas foram surgindo naturalmente. Deveria ter feito algum e seguido. Conquistas fazem partes da nossa jornada, mas nessa altura do campeonato já não faz tanta diferença, fiz algumas. Sou um sessentão de mente aberta para o novo , como sempre fui, não tenho preconceitos, todos somos iguais e o sol brilha pra todo mundo.
Tive um tempo de egoísmos, pensava muito mais em mim, não vale a pena, as pessoas ao seu redor precisam estar bem para que você também fique.
Um dia desses, bem recente, um marmanjo me chamou de ‘’tio’’, mandei ele se ‘’fuder’’. Mas lembro também quando, alguns anos atrás, me chamaram pela primeira vez de ‘’coroa’’, me senti o máximo. E nem era, não me incomodo mais. Aos 51 ainda fui pai e quando estou em locais públicos com nossa filha Nicole e pessoas me perguntam se ela é minha neta, respondemos que sim, nos divertimos com isso. Acho incrível o dom de ser pai e avô!
Uma possibilidade, isso sim me assusta, é a de perder o poder da virilidade, de " broxar" mesmo. Eu disse que não me assusta envelhecer e é verdade, mas pelo menos nesse particular poderia ser diferente, deveríamos morrer firmes e fortes. Pode rir, mas é verdade!!! É onde tenho inveja e sinto -me inferior a mulher.
Nesses anos de vivência, muitos deles na política, aprendi que não vale a pena acreditar nessa famigerada politicagem, perdi esperança em ver mudanças nessa geração de políticos profissionais...há exceções, é claro, como em tudo na vida. Mas continuo sonhando com um mundo mais justo, com um futuro melhor. E quero viver bastante para alcançar essa transformação. Não vale a pena ter ódio no coração, ser racista, fazer guerra, só pensar no trabalho, em enriquecer e esquecer de viver. O amor é o que importa...e o amor nos rejuvenesce, faz com que sejamos sempre jovens, á a fonte da juventude. Amem muito!
A vida não para e hoje mesmo sendo um dia igual ao de todos os outros, não é um dia qualquer, afinal é meu aniversário de 60 anos e eu só quero agradecer e comemorar. Tim, tim...e parabéns pra mim.
Primeira Edição © 2011