O que de fato levou o prefeito Rui Palmeira a desistir de concorrer ao governo

18/03/2018 09:26

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Romero Vieira Belo

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Não foi fácil para Rui Palmeira assimilar a longa e penosa reflexão sobre o caminho que deveria tomar, no ano em que seus aliados precisam renovar o mandato e, para tanto, sabiam que a candidatura do prefeito de Maceió ao governo alagoano lhes serviria de respaldo no difícil embate da campanha eleitoral.

 

EXPECTATIVA

Até a última 2ª feira (12) a pergunta era: o que faria Rui, até o dia 7 de abril, prazo final para sua desincompatibilização? Largaria o projeto a que se propôs executar, abandonaria o sonho do ‘Maceió de frente para a lagoa’, esqueceria as centenas de promessas feitas aos maceioenses mais necessitados? Ou seguiria em frente, na chefia da municipalidade, honrando a palavra empenhada nos discursos de campanha?

Não foi uma decisão fácil. O prefeito sabia que, não saindo candidato, seria duramente criticado pelos correligionários, mormente pelos que, a rigor, só pensam em ter um ‘comandante’ à frente da tropa no embate eleitoral, o que popularmente é chamado de ‘carro-chefe’ de campanha. Para esses, não importava se Rui estava abandonado o projeto municipal, importava que o prefeito ajudasse-os a conseguir votos.

 

COBRANÇA

O deputado Artur Lira, parceiro do PP, cobrou a candidatura de Rui, como se fosse uma obrigação. O pai, o senador Bendito de Lira, não cobrou, mas disse que o prefeito deveria ser candidato. Eram os que menos poderiam pressionar. Afinal, em 2014 o senador encarou Renan Filho e sofreu fragorosa derrota. Estaria, pois, encaminhando o prefeito para uma batalha que, ele próprio, com toda sua vivência política, foi incapaz de vencer.

É só um exemplo, talvez o mais simbólico.

Diante das pressões crescentes, mesmo de aliados que só terão a perder o próprio mandato, Rui poderia ceder e, num gesto de desapego a cargos (já que abriria mão do seu, muito bem conquistado) anunciar sua candidatura ao governo.

Mas o faria sabendo que não seria uma parada fácil. Benedito de Lira, com um currículo vasto e brilhante, de quem já foi presidente da Câmara de Maceió, presidente da Assembleia Legislativa, deputado federal e senador – cargo que ainda exerce – enfrentou um Renan Filho ainda novel, com apenas dois cargos exercidos – de prefeito de Murici e deputado federal – e perdeu. Caiu diante de um jovem que ainda não tinha sequer uma folha de serviços para exibir.

 

OUTRO CENÁRIO

Pois bem, com Rui a parada seria diferente. Não só porque Renan Filho está entre os raros (e melhores) governadores competentes da atual safra, mas, sobretudo, porque Alagoas mudou sob seu comando. E aqui não haveria espaço para detalhar o que o governo estadual realizou nos últimos três anos.

Mudou na segurança, na educação e na saúde. Com a redução da violência, com dezenas de escolas de tempo integral, com o recorde de rodovias construídas e pavimentadas e com a construção de três novos hospitais – o Cardiológico da Criança, o da Mulher e o Metropolitano. Sem entrar em ações sociais de peso, como as obras de mobilidade em Maceió e a urbanização das grotas, que atraiu a cooperação e o reconhecimento das Nações Unidas.

 

GRANDE AJUSTE

Mas mudou, principalmente, com um ajuste fiscal jamais realizado em Alagoas. Uma reordenação financeira que salvou o Estado do caos que se abateu sobre unidades poderosas como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, e outros menos influentes como Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.

O nome do governador alagoano não está consagrado nacionalmente por sua oratória candente, por sua comunicação fácil ou mesmo pelo brilho de suas ideias e projetos. Seu nome ganha projeção porque, em meio à crise nacional que só agora começa a ceder, Alagoas serve de modelo de gestão com o governo pagando em dia a folha do funcionalismo, com reajuste salarial, horando a dívida com os credores, pagando aos fornecedores e, mais importante, fazendo investimentos com recursos próprios, num gesto de atenção para com os alagoanos.

Esse cenário excepcional, em que Alagoas aparece como um oásis na árida paisagem nacional toca, entretanto, muito mais na população alagoana pelo simples fato de que são os moradores do estado que estão testemunhando o processo de mudança.

 

MUITO CRUCIAL

Por isso, a decisão de Rui Palmeira parecia tão crucial. Não se tratava de simplesmente renunciar à Prefeitura e disputar o governo em pé de igualdade – o que já seria muito difícil, que o diga o veterano Biu de Lira. Tratava-se de enfrentar um adversário que surpreendeu a todos e cujo trabalho é reconhecido pelos próprios adversários, os mais coerentes evidentemente.

Se isso não bastasse, Rui poderia estar avaliando o fato de que sua situação era muito diferente da circunstância em que Benedito atendeu aos aliados e se lançou candidato em 2014. Naquela oportunidade, o senador era um ‘franco atirador’ porque perdendo, como perdeu, tinha ainda quatro anos de mandato senatorial a cumprir.

 

PEGAR OU LARGAR

Lançado candidato, Rui não apenas abriria mão do segundo cargo mais importante do Estado, mas colocaria em jogo seu próprio futuro político, pois, perdendo, ficaria quase três anos sem mandato. Uma eternidade, num estado onde 99% dos homens públicos que perdem eleição sepultam suas carreiras políticas.

Restava ao prefeito maceioense, portanto, decidir entre continuar na Prefeitura até a conclusão do mandato ou, num rasgo de heroísmo raro na seara política, assumir o sacrifício reservado somente àqueles que aceitam, como o Bom Pastor bíblico, dar a vida por suas ovelhas.

Daria o cargo, no caso do nobre tucano que acaba de se livrar, em definitivo, da imolação apenas ensaiada.

Primeira Edição © 2011