Água muda cenário e aquece economia com apoio do Governo

Com escassez de água, plantações não cultivavam nada; situação mudou após recuperação de nascente

10/02/2018 10:01

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Agência Alagoas

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Uma nascente é o local de origem de um curso d’água corrente. A água que emerge de reservatórios subterrâneos é de boa qualidade, ótima para o consumo humano, com capacidade de aplacar o desabastecimento de comunidades inteiras. Cem foram recuperadas em Alagoas no ano de 2017, dentre elas está uma em Viçosa, na Zona da Mata.

 

Não precisar esperar pela chuva para plantar e ter água potável ao alcance das mãos é uma nova realidade para os agricultores, que antes não conseguiam cultivar nada em decorrência da estiagem.

 

As terras do Assentamento Dourada, que há pouco mais de um ano não brotavam nada, agora podem ser vistas com variada quantidade de plantios. São hortaliças, raízes e frutas que saem de um solo que só recebia água da chuva e por conta da estiagem não conseguia fazer render o que era cultivado.

 

O Governo do Estado possibilitou a mudança não só na vida de moradores do Assentamento Dourada, mas de outras 200 mil pessoas que, desde 2015, foram beneficiadas pelos programas que promoveram acesso à água potável em todas as regiões.


A situação de dificuldade na vida do agricultor mudou no dia em que técnicos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) visitaram o local e constataram que havia a possibilidade da recuperação de nascentes. Uma delas foi restabelecida nas terras do agricultor Roberto da Silva, de 53 anos. “Era uma terra morta”, assim ele classificou o local antes da recuperação da nascente.


A falta de fertilidade do solo fez Roberto desistir de plantar. Por muito tempo a renda da família dele era proveniente de trabalhos esporádicos feitos pelo agricultor na parte urbana de Viçosa. Com uma burra, ele seguia em uma carroça e recebia por fretes, transportando todo tipo de mercadoria.


Quando não aparecia nada para ser transportado, faltava dinheiro para a subsistência da família. Roberto é casado com Maria Lenilda da Silva, de 36 anos, e tem três filhos do primeiro casamento; um com doze, outro com nove e o mais novo com sete anos.


“Aqui até a cana morria. A gente plantava um pé de laranja e morria, procurava uma água para beber e não tinha. Era uma situação muito difícil. Não tinha uma saída. Eu só estudei até a quarta série, não sei fazer mais nada. Os meninos são pequenos, não entendem nada. Criança só quer a comida em cima da mesa”, afirmou Roberto.


A crise hídrica e a falta de trabalhos de frete também impediram o agricultor de comprar ração para a burra. A saída para não ver o animal sofrendo foi tentar comercializá-lo. Ele colocou o equino à venda por R$ 2 mil - dinheiro que seria usado para comprar uma passagem para o Mato Grosso, onde esperava encontrar trabalho para mandar dinheiro que fosse suficiente para sustentar a família.


“Outra burra minha, que valia R$ 1,9 mil, morreu por causa da seca. Não tinha comida para ela. Fiquei triste demais quando faltou dinheiro para comprar comida para a outra burra. Tenho um carinho especial por ela, que já está há 12 anos comigo. Eu só não vendi porque senti firmeza na recuperação da nascente. Acreditei que a vida poderia mudar e não precisaria sair da minha terra”, explicou o agricultor.


Para que a nascente pudesse fazer brotar a água foi preciso secar um açude. A água do reservatório não era adequada para o consumo, porém Roberto não queria se desfazer da única fonte de água que tinha ao alcance. Ele mudou de ideia, secou o açude e preparou o terreno para que a nascente fosse restabelecida.


foto nascente

Um ano depois, ele colhe laranja, caju, macaxeira e feijão. A terra é ocupada por muito verde e o colorido dos frutos, tudo dividindo espaço com a casa em construção. Após a renda obtida com a colheita, ele conseguiu dinheiro suficiente para comprar o material e erguer o imóvel, que está em fase de acabamento.

 

Roberto explicou que não mora na propriedade, mas em uma casa perto até a obra ser concluída. Ele disse que não tinha condições financeiras de arcar com a construção de uma casa. Após as conquistas, o agricultor não fala mais em desistir, mas lembra das dificuldade que enfrentou na região por não ter água.


“Já que a gente tem a água, tem a possibilidade de crescer mais ainda. Depois da nascente melhorou tudo, quando tem água, tem vida. Não sei nem como eu conseguia viver quando procurava uma macaxeira para comer e não tinha. Eu queria ir embora, porque achei que essa terra estava morta, até a cana de açúcar morria nessa terra, mas hoje a terra está aí viva e sinto firmeza que só vai ter melhora”, comemorou Roberto.


Distribuição da água

O açude que ficava em cima da nascente precisou ser desfeito para dar início ao trabalho - foi necessário desfazer o açude porque a água não era adequada para o consumo. Já a água proveniente da nascente - destinada para o consumo humano e para a irrigação das plantações - é distribuída para as terras de cinco famílias, incluindo a do Roberto.

 

A água que vem da nascente é captada direto para uma caixa e, em seguida, distribuída para as famílias por meio de um sistema de encanação.


“Quando o tempo está muito quente e não chove vem para mais de 100 pessoas buscar essa água. Uma água que serve para tudo, a gente bebe direto dela, porque é boa. É uma água que a gente sabe que não vai fazer mal nenhum”, explicou o agricultor.


Plantações de pimenta

Em outro ponto do Assentamento, na Agrovila, também há sinais de melhorias nas plantações por causa de uma outra nascente. Nesta, até peixes são cultivados. Clinton Carnaúba da Silva, de 60 anos, recordou que há quatro anos a nascente era só “um fiapo de água, era da grossura de um dedo que corria a água, não dava para nada”.


Após as orientações sobre preservação da Semarh, a nascente está acima da capacidade e fornece água para cerca de 180 famílias. “Na seca do ano passado ela ficou em menos de 60% da capacidade e agora consegue ‘rodar’ de oito a dez mil litros de água por hora”, disse Clinton.


Com mais água, os agricultores começam a investir em produtos que não trabalhavam antes, como a pimenta. Mais de 40 produtores rurais estão cultivando pimenta malagueta para comercializar na região.


“Acreditava que era possível plantar, mas como não tinha água não achava que era viável”, disse Clinton. Ele afirmou que nunca havia ganho dinheiro antes com as terras e, na última colheita de seis mil pés de pimenta malagueta, conseguiu R$ 30 mil.


O agricultor quer crescer no setor e pretende aumentar a plantação para dez mil pés de pimenta. "Agora que tem água e a gente sabe que faz um bom produto, tem que pensar em evoluir e conseguir cada vez coisas melhores não só para a gente, mas também para todo mundo do Assentamento. Antes eu não acreditava no reflorestamento, mas vejo o quanto isso é importante. A nascente é uma prova disso".


Jaison Ferreira, um dos líderes da Associação Caminho da Roça, explicou que o objetivo dos plantadores é chegar aos 40 mil pés de pimenta e aumentar a produção. Eles formaram um núcleo na Associação direcionado exclusivamente para os produtores de pimenta. Os agricultores vendem para os restaurantes da região e comercializando tanto ela in natura como processada em garrafinhas de vidro.

Primeira Edição © 2011