Entenda o impacto ambiental do lixo plástico para a cadeia alimentar

Plástico se fragmenta virando microplástico e ocasiona uma série de prejuízos ambientais e de saúde ao entrar na cadeia alimentar

05/02/2018 14:55

A- A+

eCycle

compartilhar:

O impacto ambiental do lixo plástico no oceano e, consequentemente, na cadeia alimentar se tornou uma verdadeira preocupação ambiental para governos, cientistas, ONGs e pessoas comuns do mundo inteiro.

Um estudo realizado durante seis anos pelo 5 Gyres Institute, estimou que há cerca de 5,25 trilhões de partículas de plástico flutuando no oceano, o que é equivalente a 269 mil toneladas de plástico.   

E o pior é que parte de todo esse plástico - no formato de microplástico - acaba entrando na cadeia alimentar e prejudicando diversos organismos, inclusive humanos.

O mais alarmante é que, uma vez no ambiente, os microplásticos absorvem substâncias químicas perigosas e são ingeridos por organismos marinhos, penetrando em toda a cadeia alimentar, inclusive a terrestre. E além de absorverem substâncias químicas perigosas persistentes e bioacumulativas, em muitos casos o próprio microplástico é feito de materiais perigosos para os organismos, um exemplo é o plástico que contém bisfenóis. ​

Plástico na cadeia alimentar

Diferentes tipos de plástico marinho acabam em partes diferentes da cadeia alimentar. Sacolas de plástico, por exemplo, se parecem com águas-vivas e são consumidas pelas tartarugas. 

O lixo plástico pode viajar longas por distâncias. Um estudo mostrou que o microplástico presente no gelo Ártico percorreu quase mil quilômetros de uma praia da Noruega até chegar lá na gelo.

Anna Marie Cook, uma das cientistas líderes da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, acredita que as estimativas feitas por meio de redes de arrasto de plástico da superfície subestimam o alcance do problema do microplástico na cadeia alimentar: "Um pouco mais de metade de todo o plástico afunda, seja no ambiente de sedimentos perto da costa ou no fundo do oceano", explica. 

O plástico está presente em todo o planeta. Foi levado para as praias mais remotas, e acumulado regiões distantes, sendo descoberto em organismos mortos, desde peixes até pássaros e baleias.

O futuro não nos reserva boas notícias. Isso porque a produção mundial de plástico cresce constantemente há mais de meio século, passando de aproximadamente 1,9 toneladas em 1950 para aproximadamente 330 milhões de toneladas em 2013. O Banco Mundial estima que 1,4 bilhões de toneladas de lixo são geradas globalmente a cada ano, e desse total, 10% é plástico. A Organização Marítima Internacional proibiu o despejo de resíduos de plástico (e a maioria dos outros lixos) no mar. No entanto, mesmo que seja descartado corretamente, uma parte do plástico escapa para o meio ambiente - em vez de ser depositado em aterro, incinerado ou reciclado - e parte considerável desse plástico que escapa acaba no oceano. 

Com os efeitos da exposição solar, da oxidação e da ação física de animais e ondas; e choques mecânicos, o plástico que chega no oceano ou no ambiente terrestre vai gradualmente se fragmentando e se transformando em microplástico.

Mas a fragmentação de grandes peças de plástico não é a única maneira de os microplasticos acabarem no oceano. Nurdles -  pastilhas de plástico utilizadas como matéria-prima para a produção de produtos plásticos - podem cair de navios ou caminhões e acabarem no ambiente terrestre ou no oceano.

Microesferas utilizadas como esfoliantes em produtos de higiene pessoal, como produtos de limpeza para a pele, pastas de dentes e xampus, podem escapar da água das instalações de tratamento de água e parar no mar.

Até mesmo a lavagem de roupas feitas de tecidos de fibras plásticas pode se fonte demicroplástico para o oceano. 

O atrito dos pneus dos carros com o asfalto e a lavagem da rua pela chuva também carrega microplástico para o mar. Entenda mais sobre esse tema na matéria: "Qual é a origem do plástico que polui os oceanos?"

Os organismos marinhos cadeia alimentar consomem plásticos de vários tamanhos. Os menores - microplásticos - são pequenos o suficiente para serem confundidos com alimentos pelo zooplâncton. E essa é uma das vias de entrada do plástico na cadeia alimentar. Alguns organismos maiores confundem os nurdles (que normalmente medem menos de 5 mm de diâmetro) com ovos de peixe ou outras fontes de alimento.

Testes laboratoriais mostram que os aditivos químicos, poluentes e metais absorvidos na superfície do plástico ingerido, podem desossar e se transferir para as tripas e os tecidos dos organismos marinhos.

Entretanto, no caso dos humanos, o plástico não prejudica o organismo somente pela sua entrada na cadeia alimentar, mas também pela transferência de substâncias perigosas de embalagens para os alimentos, esse é o caso do plástico feito a partir do bisfenol

Uma pesquisa mostrou que substâncias nocivas e persistentes podem se bioacumular(aumentar a concentração no organismo) e biomagnificar (aumentar a concentração em níveis tróficos mais elevados) nos organismos. 

Danos causados pelo plástico à cadeia alimentar

O pesquisador Mark Browne, da Universidade da Califórnia, mostrou que os microplásticoscom tamanho de 3,0 e 9,6 ?m de diâmetro podem parar no intestino de mexilhões e permanecerem ali por mais de 48 dias. Um estudo de 2012 realizado por outro grupo mostrou que os microplasticos absorvidos pelos mexilhões resultaram em uma forte resposta inflamatória.

A ecologista Heather Leslie da Universidade Livre de Amsterdã afirma que partículas de plástico podem induzir respostas imunotoxicológicas, alterar a expressão gênica (aumento do risco de câncer) e causar morte celular, entre outros efeitos adversos. "O microplásticopode passar pela placenta e pela barreira hematoencefálica e podem ser absorvidos no trato gastrointestinal e nos pulmões, locais onde os danos podem ocorrer", diz ela. 

Mas, como afirmam alguns cientistas, não se sabe com segurança todo o potencial de danos que plástico pode causar na cadeia alimentar, sendo necessário realizar mais estudos e a visibilidade da questão. 

Fonte: New Link in the Food Chain? Marine Plastic Pollution and Seafood Safety

 

Primeira Edição © 2011