Plástico representa mais de 95% do lixo de praias brasileiras, diz estudo

Copos descartáveis, garrafas, canudos, cotonetes, embalagens de sorvete e redes de pesca compõem mais de 95% do lixo encontrado em praias brasileiras

29/01/2018 12:19

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BBC Brasil

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Um trabalho de monitoramento realizado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), em parceria com o Instituto Socioambiental dos Plásticos (Plastivida), uma associação que reúne entidades e empresas do setor, divulgou suas primeiras conclusões esta semana. O estudo monitora, desde 2012, a quantidade de lixo jogada em 12 praias brasileiras e constatou que 95% do volume total é composto por plásticos.

As pesquisas sobre a questão do lixo no mar ainda são escassas, não só no Brasil, mas no mundo todo. Os resíduos sólidos encontrados nos oceanos têm diversas proveniências, mas estima-se que 80% deles tenha origem terrestre. As principais causas apontadas são a gestão inadequada do lixo urbano, as atividades econômicas (indústria, comércio e serviços), portuárias e de turismo, além do lixo doméstico mal encaminhado que às vezes acaba indo parar na rua e nos rios.

Os 20% restantes têm origem nos próprios oceanos, gerados pelas atividades pesqueiras, mergulho recreativo, pesca submarina e turismo, como no caso dos cruzeiros, por exemplo. O Brasil ocupa o 16º lugar no ranking dos países mais poluidores dos mares, segundo dados de 2015. Todos os anos, são lançadas nas praias entre 70 mil e 190 mil toneladas de materiais plásticos.

O IO-USP e a Plastivida realizaram o levantamento no litoral brasileiro para conhecer em mais detalhes a situação do Brasil. Foram analisadas seis praias do estado de São Paulo (Ubatumirim, Boraceia, Itaguaré, do Uma, Jureia e Ilha Comprida), três da Bahia (Taquari, Jauá e Imbassaí) e três de Alagoas (do Francês, Ipioca e do Toco).

No total, foram realizadas seis coletas, inicialmente com intervalos de seis meses e depois de um ano. O biólogo Alexander Turra, do IO-USP, coordenador do trabalho, explica que as mais poluídas são Boraceia, Itaguaré, Praia do Francês e Taquari. As coletas foram realizadas seguindo um protocolo estabelecido pelo programa das Nações Unidas para o meio ambiente (ONU Meio Ambiente).

O grupo inicialmente limpou uma área de 500 metros da areia seca, onde a maré não alcança, e das dunas ou restinga, atrás da praia. Depois, voltaram ao local de seis em seis meses para recolher, identificar e quantificar o lixo nos 100 metros centrais dessa área. Segundo o monitoramento, em São Paulo o maior volume de lixo se acumula nas dunas ou restingas e é proveniente das atividades de pesca. Já no Nordeste o grosso do material é encontrado na areia seca e vem do turismo.

O IO-USP e a Plastivida assinaram o convênio para a realização do estudo em 2012, como fruto da criação do Compromisso de Honolulu, de 2011, que discute a questão de resíduos nos mares em nível global. Dirigido a governos, indústrias, organizações não governamentais e demais interessados, o documento tem como objetivo servir como instrumento de gestão para a redução da entrada de lixo nos oceanos e praias, bem como retirar o que já existe.

No mesmo ano de 2011 foi assinada, como consequência do documento, a Declaração Global Conjunta da Indústria dos Plásticos, da qual a Plastivida é signatária. Foi para implementar esse compromisso mundial no Brasil que a associação, como uma das entidades representantes da cadeia produtiva dos plásticos no país, e o IO-USP assinaram o convênio em 2012. A meta é capacitar e desenvolver estudos científicos para embasar as discussões sobre o tema no Brasil.

Além disso, foi criado o Fórum Setorial dos Plásticos On-line - Por Um Mar Limpo, para ampliar os debates sobre os caminhos e as alternativas de mitigação para o problema dos resíduos nas praias e nos oceanos. Trata-se de uma plataforma on-line, que reúne todas as informações e o conhecimento obtidos desde 2012, além das propostas de educação ambiental, prevenção, coleta e reciclagem. Desse Fórum resultou a Declaração de Intenções, um documento que estabelece os compromissos da cadeia produtiva dos plásticos no Brasil sobre o tema.

Primeira Edição © 2011