Temer: a saída mais que provável

29/05/2017 17:52

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Romero Vieira Belo

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Michel Temer vai entrar para a história como o presidente da República derrubado pela trapaça de um açougueiro. Cairá, inapelavelmente, não pelo que o delinquente milionário da JBS lhe atribuiu, mas porque foi o homem que ajudou a defenestrar Dilma e a derrubar o governo do PT.

E fácil demais observar: quem está indo às ruas não é o ‘povo brasileiro’, mas a militância petista e suas ramificações, financiadas pela milionária Central Única dos Trabalhadores, braço direito do PT. A baderna da quarta-feira em Brasília, o vandalismo exacerbado, não teve nada a ver com protesto ou com manifestação democrática: foi um ato de raiva, de vingança, uma explosão de ódio. Aliás, cumpre ressaltar: as bravatas da CUT, neste momento, não sequer por lealdade a Lula ou por compromisso com o PT. A CUT luta desesperadamente, usando todas as armas, contra a reforma que deve deixá-la sem a mama milionária do velho e autoritário imposto sindical.

Mas, o ‘recado’ dos contras não se encerra nos eventos contra Temer. A militância que perdeu seu espaço de poder no melhor da festa organizada por Lula e Dilma, não quer apenas a saída de Temer. Seu grande objetivo é ‘a volta’. Antes da cilada tramada pelo mafioso da JBS, os órfãos de Dilma apostavam tudo no retorno de Lula em 2018, após a sucessão presidencial do próximo ano. Era a imposição inescapável do calendário eleitoral. A real preocupação era com a possibilidade – cada vez mais próxima e concreta – de verem o salvador da pátria condenado e preso.

O grito por ‘diretas já’ era apenas o ensaio de uma orquestra pífia.

Mas veio o episódio da JBF, cujo principal protagonista, de nome Joesley Batista – transformou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, numa marionete tonta e obteve, com a anuência do Supremo Tribunal, o maior prêmio da história da República: a liberdade plena concedida a um bandido que desestabilizou o País.

O que JBS disse não tinha força para nada, foi a repetição do que dezenas de outros delatores venais haviam dito. Mas ele tramou e gravou uma conversa indutiva com o presidente. Uma bomba de mil megatons. Uma gravação clandestina, com cortes e edições, enfim, uma montagem criminosa que, lastimavelmente, obteve aprovação do procurador-geral e do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal.

Era o que faltava. O estopim de uma bomba-política incendiária. O ‘golpe de mestre’ aplicado por um salafrário que, com o absurdo consentimento da Justiça, mandou-se para Nova Iorque, onde leva vida principesca e arrota arrogância sobre as autoridades brasileiras e o povo brasileiro. O que faltava surgiu de uma delação indecorosa e está servindo de mote para a militância vermelha pedir não a saída de Temer, mas eleição já, por cima da Constituição, porque assim Lula, na sua convicta previsão, subiria a rampa do Palácio do Planalto, em vez de ser levado para uma cadeia do Paraná. É a certeza de que estão próximos de ver Lula preso que está animando essa gente a exigir que a Constituição seja jogada na lata do lixo, porque, se ela for respeitada, o grande chefe autor de uma montanha de delitos criminosos não terá chance de recompor o esquema de corrupção que expôs o Brasil ao mundo como uma ‘república de ladrões’.

Agora, dizem que o Congresso não tem moral para eleger o sucessor de Temer. “Somente o povo”, bradam raivosos. Ora muito bem.  E quem elegeu esse Congresso que aí está? O que o País está vendo é um espetáculo deprimente: uma dúzia de inconformados e meia dúzia de arruaceiros querendo passar por cima da Constituição, como se o Brasil saído da cartola de Lula tivesse se transformado numa Venezuela do tirano Nicolás Maduro. Para essa gente, desde que Lula volte, o Congresso, que o próprio povo elegeu, não passa de um antro dispensável, e a Constituição não vale mais do que uma cartilha pornográfica.

Por isso, e para que a bandalheira não se instaure mais uma vez, a mudança – com sucessão constitucional – deve vir com a cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral. Com isso, primeiro imputa-se à ex-presidente a pena adicional de suspensão dos direitos políticos, que o Senado deixou de aplicar no desfecho do impeachment. Depois, propicia-se que, dentro da mais absoluta normalidade constitucional, o novo presidente seja escolhido pelo Congresso, e no poder permaneça até que o sucessor seja eleito no pleito presidencial do ano vindouro.

Essa é a saída democrática: um sim ao cumprimento das regras constitucionais, e um não rotundo aos que, valendo-se de golpes e trapaças, querem tomar o poder da República a qualquer custo.

 

 

MAL NA FOTO

O ministro Edson Fachin, relator da Lava-a-Jato, ficou muito mal na foto depois da revelação de que senadores receberam dinheiro da JBS para aprovar sua indicação para o Supremo Tribunal Federal.

 

BAITA REPRIMENDA

Após pedir que o STF declarasse Gilmar Mendes impedido para atuar no processo de Eike Batista, o procurador-geral Rodrigo Janot tomou uma baita reprimenda público do ministro e presidente do TSE.

 

MAIS UM NORDESTINO NO PALÁCIO DO PLANALTO?

Tasso Jereissati, senador do PSDB, ex-governador do Ceará, começa a despontar como nome consensual para suceder Temer em eleição indireta. Tem o apoio do PMDB, o partido de Temer, do seu próprio e até o PT sinaliza ver sua escolha com bons olhos. No estilo, na maneira de ser e de agir, Jereissati destaca-se como um político moderado e poderá, sim, conduzir a nau Brasil com equilíbrio e competência.

 

ÚLTIMA PALAVRA

Salvo por decisão do TSE, Michel Temer só deixará a presidência se o Congresso Nacional assim decidir. Mesmo que o STF queira processá-lo, terá de obter autorização da maioria da Câmara dos Deputados.

 

VONTADE PRÓPRIA

Renan Calheiros não está sendo enxotado da liderança do PMDB por iniciativa da bancada. O senador está largando a função por deliberação própria, ao discordar da permanência de Temer na Presidência.

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