Parlamentares da oposição e da base pedem renúncia de Temer

'É preciso aprovar a antecipação das eleições presidencial e do Congresso Nacional', diz o líder do DEM no Senado

18/05/2017 07:46

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O Globo

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Parlamentares da oposição e da base aliada pediram na noite desta quarta-feira renúncia do presidente Michel Temer e a convocação de novas eleições. Aliado do governo, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado, defendeu a renúncia do presidente e a antecipação das eleições presidenciais. O posicionamento foi divulgado por meio de nota enviada por sua assessoria.

"Diante da gravidade do quadro e com a responsabilidade de não deixar o Brasil mergulhar no imponderável, só nos resta a renúncia do presidente Michel Temer e a mudança na Constituição. É preciso aprovar a antecipação das eleições presidencial e do Congresso Nacional", afirmou Caiado.

Para o líder do PPS, o deputado Arnaldo Jordy (PA), também da base de Temer, o governo "acabou" e o ideal é fazer eleições presidenciais neste ano e um pleito parlamentar no ano que vem.

— Acabou. Não tem nada que justifica essa denúncia. Se Temer tiver grandeza, deve pactuar uma saída com instituições e antecipar o processo eleitoral. Acabou. Está na hora de devolver para as urnas a decisão. E não pode renunciar, porque os presidentes do Congresso também são investigados.

Logo após a divulgação das denúncias, a oposição se reuniu e unificou o discurso em torno de um pedido de renúncia e de uma mudança na Constituição que possibilite eleições diretas para a Presidência da República ainda este ano. Dois pedidos de impeachment do presidente já foram protocolados.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Carlos Zarattini (SP), afirmou que a oposição pretende mobilizar um ato no próximo dia 24 de maio em Brasília, pedindo a saída de Temer. Ele disse que os parlamentares vão pressionar para que o presidente renuncie e que não voltarão para seus estados e ficarão no Congresso discutindo os próximos passos.

– Nós fizemos reunião com líderes da oposição e nós estamos concluindo algumas questões fundamentais. Primeiro, pedir a renúncia imediata do presidente da República, que tomou o poder de forma golpista. Segundo, vamos iniciar um processo de impeachment com base nesses fatos. Terceiro lugar, nós queremos aprovar imediatamente o projeto de emenda constitucional do deputado Miro Teixeira que prevê a convocação de eleições diretas já – afirmou Zarattini.

Segundo o Blog do Moreno, em reunião com ministros na noite de hoje, Temer disse que não renuncia e quer ver a fita da sua conversa com o dono da JBS.

Em uma ação articulada para pressionar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deputados da oposição pretendem votar amanhã, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pelo deputado Miro Teixeira que permitiria antecipar as eleições presidenciais.

A PEC determina a realização de eleições diretas até seis meses antes do final do mandato, caso a presidência fique vaga. Miro acredita que há um dano de difícil recuperação para a autoridade do presidente.

A líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR), classificou a situação de “gravíssima” e disse ver “provas concretas” do envolvimento de Temer nas denúncias.

– É uma situação gravíssima. Essa denúncia contra o presidente da República, no noticiário tem provas concretas do envolvimento dele e de outros membros do governo que colocam a situação dele insustentável no cargo. Ele tem que renunciar ao mandato e o Brasil precisa de convocação de eleições diretas. Essa é a única maneira de pacificar o país e resolver o problema que estamos vivendo – disse Gleisi.

A senadora afirmou que se trata de obstrução de Justiça.

– O que estamos vendo é claramente obstrução de Justiça, com questões depois da Lava-Jato em andamento, de todas as denúncias feitas, essa situação se coloca novamente. Precisamos ver as provas que têm e tomar providência, o Supremo Tribunal Federal e a PGR têm que se manifestar – pontuou.

A líder do PCdoB, Vanessa Grazziotin (AM), comparou as denúncias contra Temer àquelas de que foi alvo o senador cassado Delcídio do Amaral, preso por tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Ceveró. Para a senadora, não é possível manter a votação das reformas da Previdência e trabalhista no Congresso.

– Diante da gravidade dos fatos, entendemos que é impossível continuar com a pauta das reformas, mexe estruturalmente com país e não há mais legitimidade desse governo. É muito grave o caso que envolve o presidente. Há comparação com o senador Delcídio do Amaral, que foi preso por questões até menores que essa. Vamos apresentar pedido de impeachment, mas entendemos que é caso de renúncia imediata – pontuou Vanessa.

ENTENDA O CASO

O presidente Michel Temer foi gravado pelo dono da JBS Joesley Batista, dando aval para o pagamento de propina ao deputado cassado Eduardo Cunha em troca do silêncio dele. Diante de Joesley, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Posteriormente, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley.

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Temer também ouviu do empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer incentivou: "Tem que manter isso, viu?".

Aécio Neves também foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley. O dinheiro foi entregue a um primo do presidente do PSDB, numa cena devidamente filmada pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho dos reais. Descobriu que eles foram depositados numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).

Em negociação para fechar acordo de delação premiada, Joesley relatou também que Guido Mantega era o seu contato com o PT. Era com o ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff que o dinheiro de propina era negociado para ser distribuído aos petistas e aliados. Mantega também operava os interesses da JBS no BNDES.


 


 

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