Psicóloga do HGE orienta pais sobre os perigos e horrores do “Baleia Azul”

23/04/2017 18:18

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Agência Alagoas

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Do latim “jocus”, o jogo no dicionário significa gracejo, brincadeira, divertimento. Diferente disso, a atividade ganha um novo conceito, que pode estar atrelado ao vício, à maldade, ao perigo, ao suicídio. Assim sendo, o jogo "Baleia Azul” está distante do conceito e muito mais próximo de uma sociedade desorientada e de famílias desestruturadas. É o que defende a psicóloga do Hospital Geral do Estado (HGE), Rosania Lisboa, que faz um alerta aos pais e responsáveis por crianças, mesmo sem o registro de casos em Alagoas.

Isso porque, segundo a psicóloga do HGE, o “Blue Whale”, que tem suposta origem na Rússia, deve chamar a atenção dos pais para os conteúdos que seus filhos estão ‘consumindo’ e produzindo nas redes sociais e jogos via internet. Uma realidade que se deve ao fato do “Baleia Azul”, em particular, ter ganhado essa denominação em alusão às baleias encalhadas, que para os criadores é comparada ao suicídio.

E como o objetivo do jogo é cumprir 50 tarefas, que envolvem a automutilação, a geração de dor em outras pessoas, o consumo de filmes de terror e psicodélicos, culminando com o suicídio, Rosania Lisboa orienta que os pais não percam de vista o que seus filhos estão fazendo no dia a dia. Sem invadir a privacidade, mas com um diálogo franco e aberto, ela recomenda o acompanhamento das crianças e adolescentes, mostrando-os que há regras e limites para tudo o que é consumido.

“São jovens muito soltos, sem direção, que passam o dia todo na Internet, sem qualquer acompanhamento familiar, carentes em amor. Muitos sofrem, ou sofreram, algum tipo de violência ou não superaram algum trauma. São pessoas que ainda não sabem enfrentar os desafios da vida, estão desorientadas, apesar de aparentemente quietas e seguras aos olhos de quem ver. Para alguns deles, o curador – pessoa que envia os desafios para os jogadores – é a única pessoa que as ouvem, que nota a sua existência”, analisa a psicóloga.

De acordo com a profissional, com experiência no atendimento a crianças e adolescentes, essa realidade ultrapassa tranquilamente a porta de quase todos os lares no mundo – isso quando existe uma porta. Rosania Lisboa afirma que existe seleção para incluir novos participantes no jogo e o perfil contempla jovens de 13 a 29 anos de idade, de qualquer parte do mundo.

Na Rússia, aproximadamente 130 casos de suicídio suspeitos estão sendo investigados. No Brasil, o suposto jogo parece já ter deixado vítimas no interior do Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia. Ao todo, sete estados brasileiros estão investigando a ligação do suicídio com o “Baleia Azul”.

Em Alagoas não há o registro de suicídio com ligação ao “jogo”, entretanto o HGE, maior hospital público do Estado, assistiu 296 casos de tentativa de suicídio em 2016 e este ano já atendeu 68 pessoas que atentaram contra a própria vida por afogamento, arma branca, arma de fogo, ingestão de comprimido, enforcamento, exposição ao fogo, contato com produtos químicos, salto de altura e corte dos pulsos.

Preocupação dos pais

A existência do “jogo” já está nas rodas de conversa entre os alagoanos. Para algumas mães, que acompanham seus filhos em recuperação na Pediatria do HGE, a preocupação com a ousadia e invasão do “Baleia Azul” é uma realidade. Elas acreditam ser o diálogo, a amizade e o amor, os ingredientes combatentes aos “curadores”.

“Eu tenho cinco filhas, a mais nova tem 7 anos e a mais velha 22. Nós moramos na cidade de Senador Rui Palmeira e todas elas já sabem da existência do ‘jogo’. A orientação que elas têm é nunca confiar em desconhecidos, então não seria diferente se aparecesse um convite. Além disso, eu procuro ser amiga de todas elas, dividindo os momentos de alegrias e tristezas”, disse a agricultora Josefa da Conceição Oliveira, de 49 anos.

Do outro lado de Alagoas, mais precisamente em Japaratinga, a dona de casa Cristina Braga, de 32 anos, também conta que o “jogo” já é de conhecimento de seus filhos, de 10 e 8 anos de idade. Ela destaca que o perigo oferecido pelos smartphones, tablets e computadores está além da posse deles.

“Um homem já foi pego em via pública por mostrar a algumas meninas, de aproximadamente 12 anos, fotos de homens pelados. Ou seja, ele estava incitando a sexualidade sem elas utilizarem o celular, e elas não tinham. Então não podemos acreditar que o fato de não ter o aparelho já livra nossos filhos dos perigos da Internet. Nós precisamos atentar a qualquer mudança de comportamento e físico, além de procurar conhecer as pessoas que eles se relacionam”, alertou a dona de casa.

Primeira Edição © 2011