Renan diverge de Temer e rejeita 'reforma definitiva

22/03/2017 14:59

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Romero Vieira Belo

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Um dos maiores adversários da reforma da Previdência proposta pelo presidente Michel Temer não está na mídia, nos protestos de rua, nem na bancada de oposição, mas na própria base governista no Congresso Nacional: o senador Renan Calheiros, peça decisiva para a aceitação do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e, portanto, personagem fundamental à ascensão de Temer à presidência da República, não concorda com a PEC previdenciária tal como elaborada pelo governo.

Ex-presidente do Senado e novo líder da bancada majoritária (do PMDB), Renan Calheiros considera natural e necessária a reforma

da Previdência, mas não com aspiração de ‘proposta definitiva’ como está sendo defendida por Temer e sua equipe econômica.

- Reformar a Previdência é uma coisa natural, os últimos presidentes fizeram – Fernando Henrique fez a sua, Lula fez a sua, Dilma fez a sua e Temer deve fazer a sua – mas não se pode querer uma reforma definitiva, razão porque afirmo que, como está, a proposta do governo não passa – afirma Calheiros.

 

COMO ANTES

Renan Calheiros e Michel Temer sempre ocuparam espaços diferentes dentro do PMDB e acabaram se aproximando, na turbulência do impeachment de Dilma, por questão de sobrevivência política e, também, porque um precisava do outro, era uma questão de reciprocidade, de interesse mútuo.

Temer precisou de Renan para ter a destituição de Dilma sacramentada (apesar do desfecho com a preservação dos direitos políticos da presidente cassada), do mesmo modo que Renan precisou de Temer para ajudar o governador Renan Filho a enfrentar a crise e manter Alagoas longe da turbulência que atingiu os estados, com apoio do governo federal.

Com Temer no poder, Renan Calheiros usou sua influência de presidente do Congresso Nacional para agir da mesma forma como durante o primeiro governo de Lula – quebrando lanças em defesa da governabilidade, num momento crucial em que os radicais queriam literalmente tocar fogo no País.

 

BIFURCAÇÃO

A reforma Previdenciária, proposta de maneira radical e sem a devida transparência em relação aos números do setor, produziu uma bifurcação no caminho que vinha sendo trilhado por Temer e Renan, e não de agora, em razão dos protestos de rua, pois o senador alagoano considerou o projeto governamental “exagerado” logo que ele foi encaminhado ao Congresso.

Entretanto, independentemente do imbróglio envolvendo a reforma Previdência, Renan já havia percebido ter chegado a hora de se distanciar de um governo cujo líder diz e reitera abertamente que não dá a mínima para sua popularidade, já que não tem a intenção de disputar novo mandato eletivo.

Para um presidente em ‘fim de carreira’, sem mais aspiração eleitoral, tal posição ‘não influi nem contribui’, como se diz no jargão político, mas os políticos que o apoiam no Parlamento não podem pensar do mesmo modo, sob pena de não sobreviverem às urnas das próximas eleições.

 

MAIS CRÍTICA

A postura independente do senador Renan Calheiros também ficou nitidamente desenhada no momento em que afirmou que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (atualmente preso como investigado da operação lava-a-jato) continua dando cartas no governo de Temer, mesmo estando trancafiado em uma cela prisional.

Renan demonstrou irritação com as nomeações do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) como novo ministro da Justiça, de André Moura (PSC-SE) como líder do governo no Congresso, e de Aguinaldo Ribeiro Ribeiro (PP-PB) para a liderança do governo na Câmara. Os três atuaram como aliados de Cunha na Câmara. O senador alagoano afirmou, ainda, que o governo é alvo de disputa entre o PSDB e o grupo do ex-deputado preso.

Temer, sabendo do peso de Renan dentro do Senado, fingiu não ter ouvido o disparo, minimizou, como faz nessas situações.

Primeira Edição © 2011