Mais um motim no Brasil: 14 horas de rebelião, 10 presos mortos

15/01/2017 12:54

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Público Mundo

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Catorze horas depois do início do motim na penitenciária de Alcaçuz, no estado brasileiro do Rio Grande do Norte, a Polícia Militar conseguiu entrar na prisão, às 6h da manhã locais (9h em Lisboa), demorou duas horas para a controlar e o saldo provisório é a morte de pelo menos dez prisioneiros. Não terá havido fugas.

Tal como nos últimos meses aconteceu em diversas prisões, também em Alcaçuz, a 25 quilómetros de Natal e a maior daquele estado, o motim foi causado por uma zanga entre grupos rivais, no caso entre presos do Primeiro Comando da Capital e outros do Sindicato do Crime (este último resultou de um grupo de dissidentes do primeiro). Apesar de estarem detidos em pavilhões separados precisamente por se prevenirem problemas, um dos grupos invadiu o espaço do outro, o que deu início à violência.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, a polícia ainda vai fazer a verificação e contagem dos mortos e feridos nas próximas horas, assim como a avaliação da estrutura dos edifícios e muros. O espaço tem capacidade para 620 detidos, mas alberga quase 1100. Com este episódio de violência em Alcaçuz sobe para 116 o número de presos mortos no Brasil nas primeiras duas semanas deste ano - quase um terço das 372 registadas em todo o ano de 2016.

Desde a tarde de sábado, quando começou a rebelião, que familiares dos presos se concentravam junto aos muros e portão de Alcaçuz, onde dormiram e até fizeram um culto ecuménico improvisado, com rituais, orações e canções de diversas religiões, descreve aquele jornal. Ali se ouviam os gritos, explosões e tiros do lado de dentro. Do lado de fora ficaram também toda a noite bombeiros e os agentes da Polícia Militar e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE).

Ao mesmo tempo, eram colocadas nas redes sociais imagens de violência alegadamente captadas dentro da prisão pelos presos, que as autoridades dizem agora ser preciso confirmar se eram de Alcaçuz.

Esta penitenciária tem algumas vulnerabilidades para além da típica sobrelotação: é construída numa zona de dunas, perto do mar, terreno que torna mais fácil e frequente a fuga através de túneis escavados no chão. A somar a isso, os ventos mudam constantemente a altura dos montes de areia, fazendo com que haja períodos de tempo em que a areia se acumula junto ou perto dos muros, permitindo que as pessoas se vejam e comuniquem facilmente do pátio para a rua e atirem objectos e droga, contou ao Folha de São Paulo Ivenio Hermes, investigador do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte.

Primeira Edição © 2011