Passo do Camaragibe é destaque do Jornal Folha de S. Paulo

Praia do Morro é um mergulho íntimo na natureza do litoral alagoano

30/12/2016 11:58

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Folha de S.Paulo

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Não é todo o mundo que se dispõe a abrir mão do conforto de uma praia tranquila, a poucos passos da pousada, e sair à procura de um areal à beira-mar longe de tudo e de todos. Numa região onde o que não falta é a generosa sombra dos coqueiros e o repousante mar verde-esmeralda a refletir o sol forte, é difícil não se sentir abençoado.

Ainda assim, há recantos singulares, onde prevalece a sensação de estar mergulhado num infinito particular e de ser ínfima parte da imensidão da natureza. A praia do Morro, no norte de Alagoas, é um desses esconderijos.

É como um laço bem-feito num pacote de presente. É o arremate de uma viagem que vai muito além de uma simples aventura praiana. O caminho, por si só, já encanta o viajante, que o vai descortinando ao sabor do vento.

Com bancos de areia e a proteção do paredão de corais em alto-mar, a Barra do Camaragibe –ponto de partida da viagem, no início sul da chamada Rota Ecológica– torna-se ainda mais convidativa na maré baixa, quando piscinas naturais se formam ao longo da costa.

Para chegar à praia do Morro é preciso atravessar o rio Camaragibe, trecho feito em barquinhos simples de madeira, movidos a braçadas. Não demora nem dez minutos para alcançar o outro lado do velho e castigado rio, onde raízes de mangues, que lembram esculturas saídas de um filme de Tim Burton, dão boas-vindas ao forasteiro.

Conforme a ponta da embarcação desliza na areia até ganhar um leve tranco e, assim, aportar, vislumbra-se uma trilha de areia que corre serpenteando um jardim de coqueiros. Por dentro dele, caminha-se por cerca de 20 minutos sob flashes de luz solar, filtrados pela folhagem.

Entre os coqueiros, as frestas se abrem e dão vista para uma extensa faixa de areia que corre paralela ao mar.

Na beira da praia, tudo fica mais nítido: de costas, avista-se um corredor de verde intenso, formado pela linha de coqueiros, bem diante de uma longa faixa de areia solitária; de frente, filetes de água trazidos pela maré cheia, a refletir o anil intenso do céu que costuma se juntar ao verde-azul do mar.

De tão transparente, a água deixa ver um tapete a flutuar no leito. Ao se aproxima das ondas percebe que ali repousam bolachas-da-praia, parentes de ouriços-do-mar e de estrelas-do-mar.

Ao norte, caminhos levam à foz do Camaragibe, enquanto ao sul se desenha um corredor de areia por onde se alcançam as falésias de cor intensa que separam a praia do Morro da praia de Carro Quebrado, uma das mais famosas do pequenino, contudo grandioso, litoral alagoano.

É possível caminhar por uma hora até as falésias sem dar com vivalma no percurso, apenas na companhia do vento constante que, vez por outra, provoca o farfalhar da folhagem, espécie de trilha sonora da praia do Morro.

É um lugar para ficar à vontade, sem receio nem pudor, pelo menos por enquanto. Há tempos que aquele pedaço ainda protegido da fúria do turismo comercial está na mira de resorts, que, quando ali chegarem, vão transfigurar a bela paisagem.

Preocupação com o horário de volta do canoeiro é coisa que se pode esquecer. Ele estará ali, fazendo a travessia do rio, no momento em que você despontar no meio do coqueiral. No Morro, a natureza trabalha a seu favor.

Primeira Edição © 2011