Famílias retiradas do antigo INSS vivem ofendidas e abandonadas

As cerca de 60 familias estão expostas a total abandono e miséria, sem comida, água e afetadas por doenças

30/11/2015 14:36

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Antonio C. Melo

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Uma semana após serem despejadas das salas onde moravam, no Edifício Humberto Santa Cruz, antigo prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), localizado na Praça dos Palmares, no Centro de Maceió, as cerca de 60 famílias de sem-teto continuam abandonadas as margens da Ecovia Norte, obra que quando for feita vai ligar o Complexo Benedito Bentes a AL-101 Norte, em Guaxuma, Litoral Norte da Capital.

As famílias ocupavam o edifício, que está em ruínas, ameaçando desabar, desde julho de 2013, após serem despejadas de um terreno pertencente a uma construtora no Conjunto Jardim Petrópolis, bairro da Santa Lúcia, parte alta da cidade.

Mesmo sendo alertadas que poderiam ser expulsas do edifício a qualquer momento, por uma ordem da Justiça Federal, as famílias dizem que tinha tido vários encontros com técnicos e assistentes sociais da Secretaria Municipal de Habitação Popular e Saneamento, (SMHPS), os quais haviam garantido que enquanto ninguém fosse transferido para os apartamentos do Conjunto Parque dos Caetés, localizado no Benedito Bentes, que já teve a data de entrega adiada várias vezes, ninguém seria despejado.

Mas a promessa ficou para trás e na manhã do domingo, (22), um oficial de Justiça, acompanhado de equipes da Polícia Militar, (PM), acordaram os moradores por volta das 4h da manhã e cumpriram a ordem de reintegração de posse do prédio, determinada pelo juiz José Donato de Araújo Neto, da 5ª Vara Federal.

A maioria, sem ter para onde ir, foi levada em caminhões até as margens da Ecovia Norte, em frente ao Conjunto Aprígio Vilela, outro residencial onde as famílias padecem de dignidade.

O desespero é constante. No calor, sem comida e se servindo de água ‘cedida’ pelos moradores do Aprígio Vilela, crianças, velhos, pessoas doentes e gestantes fazem várias denúncias.

“Nos fomos traídos pela Prefeitura. Nossa situação é humilhante. Despejaram a gente aqui e não sabemos o que vai acontecer. Perdemos a esperança de recebermos os apartamentos do Parque dos Caetés, que nos foi garantido. A quantidade de pessoas aqui é muito pequena e já existem apartamentos prontos, com água e energia. Nos fomos lá e vimos tudo. Não precisam mentir pra gente. Por que fazem isso? “, desabafa Carlinda Helena, mãe de três crianças, todas doentes, morando com a mãe e o pai em um barraco improvisado.

Outra sem teto, Maria do Socorro Prazeres, 55, ao lado de outros despejados, denunciou o ‘poder do tráfico’ que todos são obrigados, se quiserem viver, aceitar.

“O homem que comanda o tráfico aqui na região avisou aos moradores desse conjunto ai (Aprígio Vilela), que dividam a comida que tem com a gente, porque ele não quer ninguém morrendo de fome. Foi ele que ordenou que fizessem uma gambiarra para que a gente tivesse energia elétrica e água. Imagine, a gente agora tem de glorificar um bandido. Tá tudo errado. Querem que nossos filhos sejam o que ?”, disse a mulher.

Mas as denúncias não parar por ai. Francisco Batista Cruz, 49, afirmou que o mesmo traficante comanda a venda e aluguel das casas no Aprígio Vilela.

“O homem já mandou avisar que se a gente quiser pode ir pra lá. É tudo de graça, mas temos de ‘abrigar’ dentro de casa as drogas dele. Quem quiser comprar uma casa é só falar com ele. É mil Reais. É só pagar a ele”, disse Batista.

RETROSPECTIVA

Em outubro de 2014 o prefeito Rui Palmeira, (PSDB), visitou as obras do Parque dos Caetés, que quando construído terá 2.976 . A obra, que teve início com um ano de atraso, é uma parceria entre o Governo Federal, através do programa Minha Casa, Minha Vida e a Prefeitura de Maceió.

Na época, em nota à imprensa, a Secretaria Municipal de Habitação Popular e Saneamento, divulgou que os apartamentos seriam entregues no final daquele ano e seriam para abrigar as famílias que vivem em situação de risco e vulnerabilidade social, entre eles, os moradores do antigo prédio do INSS. Mas a promessa da entrega das moradias se arrasta desde aquela data.

Em janeiro deste ano o PRIMEIRA EDIÇÃO esteve no Edifício Humberto Santa Cruz, quando conversou com as mesmas famílias e flagrou a miserabilidade que todos enfrentavam.

A reportagem também esteve no Parque dos Caetés onde também conversou com um dos engenheiros da construção. O futuro lar das famílias é um local isolado, não pavimentado e de difícil acesso.

Naquela ocasião o engenheiro afirmou que era impossível entregar os apartamento na data anunciada pelo prefeito.

Ele explicou que cada bloco tem dois andares e o projeto de escolas, creches, quadras esportivas e centros comerciais não condiz com a verdade.

“Isso aqui é longe de tudo. Estamos trabalhando diariamente, mas é humanamente impossível concluir essa obra, da forma que se anuncia, ainda este ano. O acesso é quase intransitável e os apartamentos são construídos com placas de cimento. Não usamos blocos, nem tijolos para que ficasse mais barato. Quando as pessoas estiverem morando, nos dias quentes, será um calor insuportável. As crianças de colo e os idosos vão sofrer com o calor dentro dos apartamentos”, disse o engenheiro.

Perguntado sobre as escolas, creches, postos de saúde e outros benefícios prometidos aos futuros moradores, o engenheiro explicou que desconhecia esse projeto. 

Durante a sexta-feira, (27), procurados ouvir a Secretaria de Habitação Popular, mas ninguém atendeu as ligações.

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