6 partidos se unem para pressionar Cunha

24/11/2015 14:58

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Nathalia Passarinha e Fernanda Calgaro - G1

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Seis partidos da oposição – PSOL, PSB, PSDB, DEM, Rede e PPS – anunciaram nesta terça-feira, (24), que tentarão impedir todas as votações no plenário da Câmara enquanto Eduardo Cunha (PMDB-RJ) permanecer no comando da Casa. Juntas, essas seis siglas somam 128 dos 513 deputados federais.

Em uma entrevista coletiva, os líderes das legendas que pedem o afastamento de Cunha também afirmaram que não vão mais participar das reuniões semanais no gabinete da presidência da Câmara – nas quais são definidas as pautas de votações – e dos almoços das lideranças, geralmente, realizados às terças-feiras.

Nenhum líder desses seis partidos participou do encontro desta terça na residência oficial da Câmara. A reunião-almoço contou apenas com a presença de aliados do peemedebista.

De acordo com o líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), a decisão foi tomada em represália às manobras feitas, na última quinta (19), por aliados de Cunha para cancelar a reunião do Conselho de Ética que iria analisar o relatório prévio recomendando a continuidade do processo que pede a cassação do mandato do peemedebista.

“Ficou claro que Eduardo Cunha não mede os esforços quando o objetivo é proteger-se. Não queremos um presidente que use o seu cargo. É um comportamento mesquinho que não combina com o decoro que a Casa exige”, ressaltou Sampaio.

Na semana passada, deputados oposicionistas e governistas deixaram o plenário da Casa, durante uma sessão, em protesto às tentativas de aliados de Cunha de postergar o processo que investiga o presidente da Câmara por suposta quebra de decoro parlamentar.

Na ocasião, o segundo-secretário da Casa, Felipe Bornier (PSD-RJ) – que presidia a sessão – chegou a cancelar a reunião do Conselho de Ética que havia sido realizada mais cedo em razão de pedido de aliados de Cunha. O ato gerou a debandada do plenário.

Diante da repercussão negativa, o presidente da Câmara decidiu revogar o cancelamento da sessão depois do esvaziamento do plenário.

Para o líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), o gesto de Eduardo Cunha demonstra que ele tem usado as prerrogativas do cargo de presidente da Câmara para se proteger.

“A cena da semana passada marca, de forma negativa, a história do parlamento. Nós reagimos junto com outros parlamentares, demonstrando nossa insatisfação e revolta como o episódio e a forma como a presidência da Casa foi utilizada para impedir as investigações no Conselho de Ética”, destacou o líder do DEM.

Nesta segunda (23), Eduardo Cunha minimizou a intenção de obstrução dos partidos independentes e da oposição. “Todos eles juntos não têm número suficiente para impedir a Casa de funcionar. Não ficará paralisada”, afirmou o peemedebista.

Governo
Apesar de Cunha ter rompido oficialmente com o Palácio do Planalto, o PT e a liderança do governo na Câmara passaram a adotar nas últimas semanas uma semanas uma postura mais complacente com o peemedebista.

Parlamentares oposicionistas avaliam a nova posição governista como uma tentativa de evitar que o presidente da Câmara dê prosseguimento a algum dos pedidos de impeachment de Dilma Rousseff protocolados na Casa.

Nesta terça-feira, logo após os seis partidos da oposição anunciarem que irão tentar impedir as votações em protesto contra Cunha, o líder o governo, José Guimarães (PT-CE), criticou a decisão.

“A Câmara não pode ficar “paralisada [...] O que o governo quer é o funcionamento da Casa. Todas as suas instâncias. Não pode a Câmara ficar paralisada”, ponderou Guimarães.

Na coletiva na qual a estratégia de obstrução foi anunciada, o líder do PSOL, Chico Alencar  (RJ), ironizou a posição do governo. “Se o governo se interessa em querer a normalidade, deveria pedir a saída de Cunha”, enfatizou.

'Obstrução total'
O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), disse que, se depender da oposição, Eduardo Cunha não conseguirá votar mais nada na Casa. “Vamos trabalhar para isso. Obstrução total”, advertiu.

Já o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ), também afirmou que a Câmara não funcionará normalmente enquanto Cunha estiver no comando dos trabalhos. Na avaliação de Molon, a situação ficou "insustentável".

Para o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), Cunha age com "arrogância" ao não ter "sintonia com a realidade".

"Um presidente de poder que não perceba o que aconteceu na quinta-feira, onde ele inclusive insistiu em tentar reconstituir a sessão plenária e não conseguiu, é alguém que está fora da realidade, está fora do mundo. Alguns poderiam considerar isso elementos de uma psicopatia", ironizou.

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