Rigidez do Fies prejudicam acesso a universidades

13/10/2015 14:30

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Estadão Conteúdo

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As matrículas do segundo semestre de 2015 nas instituições de ensino superior têm sido prejudicadas por dificuldades no preenchimento das vagas oferecidas no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Pessoas do setor relatam que há alunos na lista de espera aguardando vagas. Ao mesmo tempo, a imposição de critérios mais rígidos para os alunos também afeta a demanda.

"O oferecimento de vagas de Fies para o segundo semestre de 2015, que foi amplamente divulgado na mídia, se demonstrou, na prática, quase que nulo para novos alunos", disse a Anima Educação em comunicado ao mercado ao divulgar queda de 22,4% nos ingressantes de graduação presencial neste semestre ante igual período do ano anterior. A companhia afirmou que os alunos continuam encontrando grandes dificuldades no dia a dia das solicitações de vagas no sistema do MEC e que por isso preencheu apenas metade das suas vagas, mesmo possuindo 3 mil alunos na lista de espera.

Diferentes executivos de empresas de educação ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, consideram que as novas regras estabelecidas pelo Ministério da Educação trouxeram alguns transtornos na operação de matrículas das empresas, em parte também porque as instituições não conseguiram prever ao certo como seria a distribuição e preenchimento das vagas.

Segundo uma fonte, há cursos que têm alunos em lista de espera, mas a demora é grande até que as matrículas deles possam ser efetivadas. Cada aluno selecionado precisa ter documentos revisados e passar por aprovação nas instituições financeiras que operam o Fies, algo que pode levar até 20 dias. "A lista de espera já está rodando, mas o processo é muito lento", reclama. Uma demanda do setor é que o controle dessa lista seja feito pelas próprias instituições para evitar que alunos entrem já no fim do semestre e acabem reprovando por notas baixas, como pode ocorrer agora.

Além disso, o setor lida com uma restrição na demanda de alunos. "A demanda de alunos nos cursos não vai ser a mesma que era antes porque há restrições fortes para selecionar os estudantes", diz o diretor executivo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), Rodrigo Capelato.

Neste semestre, o MEC passou a fazer no Fies a seleção de alunos para as vagas por meio de um sistema que segue regras como exigência de nota mínima de 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio. Com isso, é possível que algumas instituições que têm bastante vagas para ofertar não estejam atingindo um publico qualificado o suficiente para o programa, segundo as limitações do MEC. Além da exigência de nota do Enem, o MEC passou a estabelecer limitação de renda. O público-alvo do programa foi redimensionado para alcançar os estudantes cuja renda familiar per capita seja de até 2,5 salários mínimos. Até o último ciclo, podiam pedir financiamento estudantes com renda familiar mensal de até 20 salários mínimos.

Mesmo algumas das vagas que têm dono ficam mais difíceis de gerir. Em alguns casos, o MEC selecionou para a vaga alunos que não tinham feito o vestibular da instituição, reclama um gestor de uma faculdade paulista. Já numa universidade do Rio Grande do Sul, um diretor conta que o vestibular só é feito uma vez por ano, mas alunos selecionados pelo sistema do Fies teriam que começar a estudar com o curso já em andamento. Por causa disso, há o risco de eles desistirem e a vaga ficar sem preenchimento.

Em relatório sobre os números da Anima Educação, o BTG Pactual destacou que a "conversão" no Fies se tornou uma preocupação. Os analistas Fabio Levy e Rodrigo Gastim comentam que o baixo nível de preenchimento das vagas "ascende uma luz amarela para os próximos ciclos de captação de alunos".

A expectativa de alguns executivos no setor, porém, é de que o problema seja melhor resolvido a partir de 2016. A melhor divulgação das novas regras do Fies e ajustes nos processos burocráticos nas universidades poderiam acelerar o preenchimento das vagas.

Primeira Edição © 2011