Deficiências na Atenção Básica dificultam assistência no HGE

04/10/2015 08:30

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Agência Alagoas

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A situação da Atenção Básica em Alagoas é o principal motivo da rotatividade no fluxo de pacientes nos corredores da maior unidade pública estadual, o Hospital Geral do Estado (HGE). Quem afirma é a gerente geral, Verônica Omena. Segundo ela, mais de 98% dos pacientes da Área Azul não deveriam estar na unidade.

 

“São pacientes crônicos, com diabetes descompensada, ou pressão arterial não tratada, que deveriam ser acompanhados nos postos de saúde. Outros procuram o hospital com viroses, diarreias, entre outras situações sem sofrimento agudo, que podem ser atendidos em Unidades Básicas de Saúde ou nos Ambulatórios 24 Horas”, descreveu Verônica Omena.

 

É o caso de dona Cícera Clarindo, de 67 anos, que se queixando de uma urticária, aguarda atendimento no consultório do HGE. Segundo ela, o posto do bairro onde mora, no Feitosa, está fechado. “Já escutei até falar que não vão abrir mais, que devemos nos dirigir ao Jacintinho agora. Com todo respeito, mesmo que estivesse funcionando, eu viria para o HGE, porque sei que aqui as coisas se resolvem. Lá sempre faltava tudo”, relatou a paciente.
 

Referência no atendimento de casos de trauma em Alagoas, o HGE tem sido utilizado, em sua maioria, por pacientes que não apresentam situação de urgência e emergência e que deveriam ser atendidos nos postos de saúde. 

 

O hospital atende, em média, 15 mil pacientes por mês, destes, aproximadamente, 23% necessitam de atendimento de emergência e são classificados com risco iminente de morte, 13% devem receber atendimento de urgência e 64% são os casos menos graves, pacientes da Área Azul, que deveriam ser assistidos pela Atenção Básica.

 

A unidade hospitalar recebe, aproximadamente, 500 pacientes por dia, com picos que, este ano, já chegaram até a 700 atendimentos diariamente.

 

“O hospital não deixa de atender quando os leitos já estão completos, até porque não podemos fazer isso com a sociedade. Para onde eles irão? Temos compromisso com a saúde do alagoano. As dificuldades são grandes, vivemos com picos nos corredores, alguns dias vazios, outros superlotados. As pessoas procuram o HGE porque, devido às deficiências encontradas na maioria dos postos de saúde, o Hospital Geral do Estado age com resolutividade. Quem nos procura sabe que será atendido, mesmo que, em algumas vezes, ocorra um pouco de demore”, argumentou Verônica Omena.

 

A professora e também nutricionista Andréa Patrícia Cavalcante, 42 anos, trouxe sua mãe, Cícera Cavalcante, para o Hospital Geral do Estado após uma longa peregrinação. Elas são de Colônia Leopoldina. Não conseguindo assistência de saúde no município onde residem, procuraram a assistência privada, que as encaminhou para o HGE para realizar procedimentos pré-cirúrgicos.

 

Com cálculos renais há mais de 10 anos, diabética e hipertensa, dona Cícera precisa realizar uma cirurgia para a retirada de um dos rins que está paralisado.

 

“A saúde está na UTI, principalmente nos municípios do interior, mas eu reconheço a importância do trabalho que o HGE desempenha em Alagoas. É o único hospital que, realmente, presta assistência a mim, a você, e até ao paciente com tuberculose que não conseguiu vaga no hospital específico. Agora até os hospitais particulares encaminham para o HGE. E isto porque eu estava pagando todo o tratamento de minha mãe, não temos plano de saúde”, contou.

 

Para a gerente geral Verônica Omena, apesar dos entraves que ainda existem na saúde, o HGE tem prestado uma assistência médico-hospitalar de referência em Alagoas.

 

“As pessoas têm comprovado que a unidade hospitalar garante os cuidados daqueles que a procuram, elas sabem que aqui recebem atendimento. Se acontece algum tipo de dificuldade no atendimento em postos ou até mesmo em hospitais municipais, é no HGE que eles buscarão atendimento e, em geral, seus problemas de saúde serão resolvidos”, apontou a gerente.

 

Ela explicou que os pacientes que ficam nos corredores da Área Azul são os pacientes com problemas clínicos.

 

“As pessoas acreditam que todo o HGE fica lotado, o que na realidade não é assim. A Área Azul pode amanhecer com o número de leitos acima do normal, mas com o passar do dia se regulariza. Lá estão os casos que poderiam ser tratados com uma Atenção Básica exemplar, ou em Ambulatórios 24 Horas e hospitais municipais”, ressaltou.

 

De acordo com a gerente, as deficiências encontradas na assistência em saúde alagoana acabam prejudicando o acolhimento no maior hospital público do Estado, que termina recebendo uma grande parte de atendimentos não classificados como de urgência e emergência.

 

“O resultado são corredores cheios, morosidade no atendimento, sem falar nas deficiências com medicamentos e insumos, porque os processos são abertos com uma margem de atendimentos, que sempre vem aumentando", disse Verônica Omena.
 

A médica ainda destacou que grande parte dos pacientes classificados como graves, de urgência ou emergência, com pés diabéticos, acidentes vasculares e até infartos, poderiam nunca chegar ao HGE se recebessem assistência em Unidades Básicas de Saúde. “Problemas de saúde poderiam ser resolvidos caso a rede de saúde funcionasse a contento. Como isso não acontece, os casos acabam se complicando em casa, muitos sem sequer saber da doença que possuem, e vindo ao HGE como casos graves”, alertou.

 

Classificando os pacientes na entrada

 

O Hospital Geral do Estado funciona através do protocolo de Manchester de classificação de risco, que organiza o atendimento, fazendo com que cada paciente seja atendido de acordo com a gravidade da doença. O sistema identifica as prioridades clínicas de forma objetiva. Nele, são empregadas cores para a classificação dos pacientes, após uma triagem baseadas nos sintomas, cada cor representa o grau de gravidade e o tempo de espera para atendimento.

 

Pelo protocolo, os pacientes com patologias mais graves recebem uma pulseira na cor vermelha e o atendimento é realizado imediatamente; os muito urgentes recebem a pulseira laranja, com tempo de espera de dez minutos; os casos urgentes, com a pulseira amarela, devem aguardar por cerca de 60 minutos e os nas cores verde e azul são os casos de menor gravidade, eles receberão atendimento após os classificados como vermelho, laranja e amarelo serem atendidos, com previsão de até 4 horas.

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