Temer acha difícil Dilma resistir três anos e meio com a popularidade em 7%

Vice-presidente disse ‘não mover uma palha’ para assumir a presidência da República

03/09/2015 21:50

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Thiago Herdy e Stella Borges - O Globo

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Uma semana depois de abandonar a articulação política do governo, o vice-presidente Michel Temer disse nesta quinta-feira, em uma palestra para empresários na capital paulista, que é difícil a presidente Dilma Rousseff resistir até o fim do mandato com a popularidade em baixa como a registrada atualmente em pesquisas. O vice disse ainda que nada poderá fazer se o índice de aprovação ao governo de Dilma não subir. Segundo as últimas pesquisas, a popularidade da presidente está em torno de 7%. O vice também apostou que o governo Dilma vai até o fim e duvidou que ela renuncie, por ser uma mulher “guerreira”.

— Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável — afirmou Temer, acrescentando que ‘‘é preciso trabalhar’’ para estabilizar as relações com a sociedade e a classe política. — Mas, se ela continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil.

A organizadora do evento, então, questionou:

— Mas aí, o que se faz?

Temer respondeu de forma lacônica:

— Eu não posso antecipar. O que vou dizer? O que vou fazer?

‘JAMAIS SERIA OPORTUNISTA’

Aos empresários, Temer disse também que “não mover uma palha” para assumir a Presidência da República no lugar de Dilma, que tem enfrentado dificuldades para debelar a crise econômica e política no país.

O encontro foi organizado pela socialite paulista Rosangela Lyra, que faz parte do movimento “Acorda, Brasil”, de oposição ao governo. No fim do evento, o vice foi provocado por um integrante da plateia, que perguntou qual é sua atitude perante “a corrupção e a investigação da Lava-Jato”. Em seguida, o espectador também perguntou a Temer se ele passará para a História como “oportunista ou estadista”.

— Eu jamais seria oportunista, quero deixar muito claro isso. Em momento algum eu agi de maneira oportunista. Muitas vezes dizem: ‘‘Ah, o Temer quer assumir a Presidência’’. Mas eu não movo uma palha para isso — respondeu, irritado, o vice.

Na quarta-feira, Temer teve um almoço com a presidente Dilma considerado indigesto por aliados de ambos  pois o vice reclamou as conversas da presidente com peemedebistas sem a sua presença. Ele se queixou especialmente do encontro dela com o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani.

Durante sua palestra hoje, Temer voltou a pregar a “unificação” do país e a afirmar que “alguém precisava dizer que a crise é grave”, referindo-se a uma declaração que deu no início do mês passado, que foi criticada por líderes petistas e por interlocutores de Dilma.

Na primeira semana de agosto, após reunião com líderes da base aliada e ministros, Temer reconheceu o agravamento da crise política e disse que o país precisa de “alguém (que) tenha a capacidade de reunificar a todos”.

— É preciso que alguém possa, tenha capacidade de reunificar a todos, de unir a todos, de fazer esse apelo, e eu estou tomando essa liberdade de fazer este pedido, porque caso contrário nós podemos entrar numa crise desagradável para o país — disse ele, na ocasião.

A frase sobre a necessidade de “alguém” para unir o Brasil provocou desconfiança entre petistas, que, em conversas reservadas, disseram crer que Temer estava conspirando contra Dilma.

No discurso aos empresários, Temer também fez elogios ao PSDB e ao PT, citando o fim do monopólio das telecomunicações, no governo de Fernando Henrique, e as políticas habitacionais de Luiz Inácio Lula da Silva como “avanços”.

Apesar da análise pessimista no caso de a popularidade de Dilma não melhorar, Temer disse aos empresários, no entanto, que, “com as medidas tomadas” na economia, tem a impressão de que “as coisas começam a melhorar” em meados do ano que vem.

Com isso, voltou a apostou que o governo Dilma vai até o fim, como tinha afirmado dias atrás, e duvidou que a presidente renuncie, por ser uma mulher “guerreira”. Mas, caso o Tribunal Superior Eleitoral decida pela cassação da chapa, não discutirá a decisão, em respeito “às instituições”:

— Se o TSE cassar a chapa, acabou. Eu vou para casa feliz da vida, ela vai para casa... Não sei se vai feliz ou não, cada um tem a sua avaliação.

Sobre a polêmica da permanência de Joaquim Levy à frente da Fazenda, o vice destacou que o PMDB defende a permanência do ministro:

— Para reunificar o país, a presença do Levy é muito importante.

Temer anunciou que, na próxima terça, vai se reunir em jantar os sete governadores do PMDB e com os presidentes da Câmara e do Senado, para tentar “encontrar um caminho para a crise”.

Sobre o Orçamento, Temer defendeu a revisão de contratos e alterações em alíquotas:

— Se você enxugar contratos, consegue fazer. Às vezes, tem um contrato de R$ 300 milhões, que na realidade pode ser por R$ 220 milhões, você economiza. Se ao final for preciso alguma oneração tributária, não é com a criação de novo tributo. Pode pegar um e outro tributo existente e aumentar a alíquota temporariamente.

APELO REJEITADO

No almoço de quarta-feira, Temer ouviu Dilma um apelo para que ele retomasse a articulação política do governo. Mas o vice se recusou a voltar atrás na decisão anunciada semana passada, e explicou que continuará cuidando apenas da macropolítica, como havia prometido.

Temer também expôs desagrado com episódios recentes em que se sentiu atropelado pela presidente. Ele considerou “estranho” o encontro de Dilma e Leonardo Picciani, para negociar diretamente as nomeações para cargos de indicação da bancada.

Temer reclamou ainda das interferências do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, sobre seu trabalho de articulação política.

 


 

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