Acusado de facilitar fuga de presos vai processar Estado

Em liberdade, Gustavo Andrade se diz inocente e que foi vítima de reeducandos

26/01/2015 15:10

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Redação

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Após decisão do desembargador Washington Luiz, presidente do Tribunal de Justiça, (TJ), de Alagoas, que concedeu favorável o pedido de Habeus Corpus, (HC), em favor do advogado suspeito de participar – conforme versão da Polícia Civil, (PC) – do esquema de fuga de quatro presos do Presídio Baldomero Cavalcanti, Gustavo Alves Andrade, em liberdade desde o domingo, (25), mantém sua versão ao fato, de que foi usado pelos reeducandos.

Gustavo, que estava detido no quartel do Corpo de Bombeiros, (CB), disse que recebeu ligações e mensagens de texto dos próprios presos pedindo para que ele os defendesse, e quando foi visitá-los na unidade, acabou sendo surpreendido pela fuga. Gustavo enfatizou que logo ao entrar no presidio, na tarde de 14 de janeiro, notou que havia algo errado.

"Eu não sabia da fuga. Eles me ligaram e marquei uma visita para negociar os serviços advocatícios. Antes mesmo de entrar no presídio, percebi a movimentação. O agente que estava ao meu lado foi rendido por um dos presos, que estava armado. Na Central de Flagrantes fui informado que os presos não estavam algemados e já saíram das celas, no módulo 5, armados e rendendo todo mundo. Não tive participação nenhuma nisso", garante o advogado acrescentando.

"Havíamos acertado que eu os defenderia por R$ 30 mil cada um, um valor médio cobrado para a defesa de casos como os deles. Não sei por que razão um deles acabou não fugindo junto com os outros".

Segundo a polícia o advogado teria sido pago por Antônio Marcos Soares dos Santos, o ‘Carioca’, que cumpre pena por tráfico de drogas e assassinatos. Considerado de alta periculosidade ‘Carioca’ integra a quadrilha do traficante Charles Gomes de Barros, o ‘Charlão’, preso em Aracaju, (SE). Os dois teriam recebido apoio do ex-diretor do Baldomero Cavalcanti, Antonio Francisco Salvador Irmão, o ‘Tonhão’, na morte do reeducando. José Militão de Souza Filho, encontrado estrangulado em uma das celas do presidio. ‘Charlão’ e ‘Carioca’ decidiram ordenar a morte de Militão após a vítima montar bases de venda de drogas dentro e fora do Baldomero, afrontando os dois traficantes. Militão foi morto por outros dois reeducandos, Flávio Elias dos Santos, o ‘Palhaço’ e Luciano José da Silva, considerados ‘soldados’ dos dois traficantes.

Além de ‘Carioca’ também fugiram Diego Guedes Correia Alves, o ‘Diego Pistola’, Tiago Francisco da Silva e Alexsandro Marques de Messias.

Em depoimento a Polícia Civil, (PC), agentes penitenciários de plantão na tarde da fuga relataram que Gustavo, ao chegar ao presídio, pediu para falar com todos os clientes de uma vez só, alegando falta de tempo, o que não seria um procedimento normal.

A afirmação dos agentes é rebatida pelo suspeito.

"Tive que pedir para falar com todos ao mesmo tempo por conta da hora da tranca que é o momento em que os presos devem voltar para suas celas. Esse procedimento é comum. Não haveria tempo hábil para falar com todos antes disso acontecer. Lá não temos acesso físico aos clientes", declarou.

Gustavo Andrade disse que a acusação deixou sua família vulnerável.

"Esses foram os momentos mais difíceis da minha vida. Minha família sofreu muito. Passei a ser suspeito. Fui severamente castigado, e meus 15 anos de profissão foram jogados no lixo. Não desejo isso para ninguém, e espero que esse meu sacrifício sirva para que o governo melhore as condições do Sistema Prisional", falou o advogado que é defendido por uma equipe de profissionais da Associação dos Advogados Criminalistas de Alagoas (Acrimal), cujo presidente, Thiago Pinheiro, denunciou que uma série de falhas na segurança do sistema prisional de Maceió contribuiu para a fuga.

"Os presos ligarem para os advogados criminais é algo normal. Eles têm acesso aos nossos números e recebemos muitas ligações de números desconhecidos. Em casos assim, nos limitamos a marcar uma visita pessoal ao presídio e foi justamente isso que aconteceu com o doutor Gustavo. Ele receber essas mensagens não significa que esteja envolvido. Nós advogados não podemos pagar por uma falha existente no sistema prisional", disse o presidente da Acrimal, acrescentando que irá entrar com uma representação contra o estado.

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