Ministro evita rompimento do MST com governo Dilma

Crise foi provocada pela indicação de Kátia Abreu para a Agricultura

28/11/2014 11:21

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Luciana Lima - iG - Último Segundo

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O petista Miguel Rossetto, atual ministro do Desenvolvimento Agrário, deverá ocupar a Secretaria-Geral da Presidência da República no segundo governo de Dilma, mas, já na semana passada, precisou se antecipar à função e agir para evitar que o diálogo do governo com movimentos sociais do campo se rompesse, de forma irreversível, devido à indicação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura.

Rossetto entrou em campo para apagar o incêndio que a notícia provocou junto aos movimentos campesinos, em particular, em relação ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O ministro recebeu lideranças em seu gabinete no Ministério do Desenvolvimento Agrário, falou por telefone com alguns líderes e garantiu que os compromissos do governo em relação à reforma agrária e à agricultura familiar não estavam ameaçados.

 Em uma situação normal, esse diálogo teria que ser feito por Gilberto Carvalho, atual titular da pasta responsável pela interface do Planalto com os movimentos sociais.

 A empreitada de Rossetto contou com a ajuda do presidente do Instituto Nacional de Cidadania e Reforma Agrária (Incra), Carlos Guedes de Guedes, que deve ser anunciado para substituir Rossetto no MDA, assim que ele for transferido para a cozinha do Planalto.

 As conversas não evitaram, no entanto, que o próprio movimento e lideranças importantes como João Pedro Stedile, assinassem um manifesto contrário às de Kátia Abreu e do executivo Joaquim Levy, para o Ministério da Fazenda. A avaliação do governo é de que, pelo menos, o diálogo com os Sem Terra não foi fechado, graças à atuação de Rossetto. 

Por parte do MST, a expectativa de que a pauta de reinvindicações do movimento seja executada pelo governo mantém o diálogo aberto, apesar dos protestos contra a indicação da senadora. O movimento entrou na campanha de Dilma, principalmente no segundo turno e espera que o governo se esforce para assentar pelo menos 120 mil famílias até julho de 2015.

 "Neste período pós-eleitoral, a gente tem que ver agora como é que vai andar a nossa pauta. Dissemos isso ao Rossetto. Queremos saber quantas desapropriações de terras sairão neste ano, entre outras coisas”, disse Alexandre Conceição, da coordenação.

 Na avaliação de integrantes do governo, o anúncio do nome de Rossetto para tratar das relações com os movimentos sociais e de Guedes para o MDA, para o governo, deve ter o efeito de amenizar a tensão em relação à indicação de Kátia Abreu.

 Por conhecer a presidente Dilma, Rossetto tem se mantido discreto nas últimas semanas, fugido de dar entrevistas para não comprometer os anúncios que devem ser feitos pela presidente. Ele chegou a integrar a coordenação da campanha de Dilma, período em que se licenciou da pasta. 

A indicação da senadora Kátia Abreu para a pasta da agricultura tem por objetivo melhorar a relação do governo com o agronegócio. Além disso, Dilma tira a pasta do controle da bancada do PMDB da Câmara, liderada pelo deputado Eduardo Cunha, candidato a presidência da Câmara com a promessa de dar bastante trabalho ao Planalto no próximo ano, caso seja eleito. 

A resistência ao seu nome, no entanto, é mais pela postura em favor de tratar de forma mais dura os movimentos do campo. A senadora é tida como uma das maiores lideranças em favor da criminalização dos movimentos sociais. 

 

Um dos projetos de lei de sua autoria de Kátia Abreu é o PLS 251/2010, rejeitado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que dá o prazo de 15 dias para que governadores cumpram ordens de reintegração de posse de imóveis urbanos e rurais. Caso isso não ocorra, os chefes do executivo ficam sujeitos a pena de crime de responsabilidade. 

Primeira Edição © 2011