Verdão cria estratégia para fugir de protesto "fantasma"

21/11/2014 15:29

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Globo Esporte

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Mistério, mudanças de planos, ônibus sem identificação. O Palmeiras armou um esquema cheio de despistes para evitar que torcedores acompanhassem o embarque da delegação para Curitiba, onde neste domingo, (23), o time enfrenta o Coritiba pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro – um duelo direto para fugir da zona de rebaixamento a três partidas do fim da competição. Quase funcionou.

Comprometendo todo o aparato de segurança pensado pelo clube para afastar seus atletas da revolta de fãs raivosos após a derrota na inauguração do novo estádio alviverde, quarta-feira, (19), para o Sport, dois torcedores fizeram plantão na porta do Centro de Treinamento da equipe, na Barra Funda. Um deles, jogador de rugby, de porte considerável. Que deu alguns pulos de alegria sincera, nada ameaçador, quando conseguiu uma foto com o volante Wendel e o atacante Henrique na porta da Academia de Futebol.

- A gente veio visitar uma prima que está internada e decidimos conhecer a arena. Mas estava fechada e não deixaram a gente entrar. Aí falei para o meu pai: “vamos no CT ver se a gente consegue tirar uma foto com os caras”. Pedi para o Henrique fazer um gol, pelo amor de Deus. Ele disse que ia tentar – contou o vigilante sanitarista Marcos Antônio Martins Junior, 21, que saiu de Ipaussu, cidadezinha de 13 mil habitantes a 350 quilômetros da capital, próxima à fronteira com o Paraná.

- Viemos para apoiar. Esse é um momento que eles precisam da gente. Está complicado, falta sorte. Pô, tomar gol do Ananias? – questionou, retoricamente, ainda incrédulo com o que viu dois dias antes, quando o atacante do Sport gravou seu nome na história ao marcar o primeiro tento da renovada casa palestrina – Patric ainda faria o segundo para consolidar a traumática derrota do time de Dorival Júnior, 14ª no campeonato, mas a um ponto apenas da degola: tem 39, contra 38 do Coritiba, o 17º.

Diante dos simpáticos visitantes do interior, o ônibus com a delegação palmeirense deixou a Academia de Futebol às 10h06, num veículo sem qualquer identificação do clube, com as cortinas fechadas, para iniciar trajeto até o aeroporto. Mas qual deles?

Despiste para ninguém

Ninguém sabia de qual dos dois terminais os jogadores partiriam para Curitiba. Toda a programação, anunciada há seis dias, foi modificada após o revés para o Sport. Na quinta, o treino foi aberto para a imprensa, mas nenhum atleta foi escalado para falar. Na sexta e no sábado, os trabalhos antes previstos para as 9h, foram cancelados. O clube decidiu viajar para o Paraná um dia antes, sem divulgar horários ou locais, como de costume. Tinha-se a informação apenas de que o time treinaria à tarde no CT do Atlético-PR, em atividade sem a presença de jornalistas.

Nem os próprios atletas sabiam para qual aeroporto o ônibus, todo cinza, seguiria. A dúvida parecia desfeita quando o veículo deixou a avenida Marquês de São Vicente em direção à Marginal Tietê – caminho mais lógico para quem vai a Cumbica, em Guarulhos. Mas a estratégia era evitar contato com a torcida a qualquer custo, ainda que não houvesse sinal de protesto. Foi então que o ônibus mudou a trajetória, virou-se à avenida Tiradentes e entrou no corredor Norte-Sul, sinal de que a viagem seria a partir de Congonhas.

Uma Kombi recheada de seguranças escoltava o ônibus de perto. O motorista acenava com o braço a todo instante para evitar que outros veículos se aproximassem, ainda que ninguém tivesse tentado – uma tensão restrita aos funcionários alviverdes, já que os jogadores ainda tiveram o privilégio de circular pelo corredor de ônibus e evitar o trânsito, mesmo em uma emenda de feriado, em uma das avenidas mais movimentadas da cidade.

“Pega tudo, Prass”

Tão tranquila quanto o trajeto, a chegada a Congonhas foi acompanhada com celular em mãos pelos passageiros no saguão do aeroporto. Dorival foi o primeiro a descer do ônibus e subiu para o terminal de embarque sem ser incomodado. Os jogadores eram alvos das fotos dos curiosos, e só. Apenas um se dirigiu diretamente ao goleiro Fernando Prass, num suplício.

- Pega tudo, Prass, pelo amor de Deus! – gritou.

O arqueiro foi o único que falou com a imprensa no lugar. Foi rápido e resumiu a posição do clube numa frase curta.

- Essa pressão grande é normal para um time na situação que a gente está, com a camisa que a gente tem.

Prass, logo após seus companheiros, entrou no terminal de embarque. Os palmeirenses não ouviram insultos, não viram faixas estendidas ou muros pichados, onde for. Missão cumprida, sem muito esforço.

Primeira Edição © 2011