Esclerose lateral amiotrófica: médico-paciente percorre país incentivando pesquisas

18/08/2014 06:10

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Divulgação

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De médico do coração a embaixador de pesquisas sobre a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Há dois anos, a vida profissional e pessoal do cirurgião cardíaco Hemerson Casado Gama, 47 anos, mudou radicalmente, mas, no fundo, ele continua seguindo na mesma linha de propósitos: a busca da saúde coletiva. A diferença é que, agora, ele tem um motivo a mais para perseguir a cura da ELA.

A guinada na vida do cirurgião cardiovascular teve início em 2012, quando ele passava os dias se dividindo entre as cirurgias na Santa Casa de Maceió e no Hospital do Coração e os treinos de atividade física de alto impacto que, geralmente, superava as duas horas diárias.

De repente, sem nenhum motivo aparente, Hemerson Casado começou a perceber durante as corridas diárias que sua perna direita estava diferente. Era como se atrasasse o passo e não tivesse a mesma agilidade da esquerda. Pouco tempo depois, surgiu o segundo sinal de que algo estava errado: ele começou a sentir tremores nos braços e nas pernas.

Ao procurar um especialista se deparou com o diagnóstico errado de que tinha um encurtamento muscular. "Mas, no íntimo, percebia que não era isso. Minhas pernas estavam muito pesadas, era tudo muito esquisito", contou Hemerson Casado Gama.

Exames mais aprofundados constataram o pior. O cardiologista era portador de esclerose lateral amiotrófica, doença que leva à degeneração do sistema nervoso e que provoca paralisia motora progressiva, irreversível e de maneira limitante.

Estudos comprovam que os portadores de ELA têm mais de 40 anos e, em sua maioria, são do sexo masculino. A ciência também descobriu que este tipo de patologia tem relação com o estresse intenso, tanto físico como mental e emocional. Sabe-se também que a doença é 10% genética e 90% esporádica.

Apesar de ser uma das patologias mais temidas atualmente, os pesquisadores ainda sabem pouco sobre a doença. Nos casos mais otimistas, os pacientes com sintomas iniciais da doença conseguem ter o quadro estabilizado.

Com o diagnóstico em mãos, Hemerson Casado teve duas reações. Primeiro, suspendeu temporariamente o trabalho e viajou. Foi aos centros internacionais considerados referência para a doença. Quis saber mais sobre o tema, ter um diagnóstico definitivo, se inteirar do que viria pela frente e traçar metas específicas.

Era 2012, e na companhia da esposa Paula, embarcou para Cuba, Rússia, China, Itália e Alemanha. E, depois, Israel. Foram momentos difíceis, segundo conta, tanto para ele como para sua família. No Brasil ficaram os dois filhos do casal, Daniel, então com sete anos, e Isadora, com dois.

Na volta ao Brasil, e em especial a Maceió, reuniu familiares, amigos e colegas de profissão para anunciar sua aposentadoria nos centros cirúrgicos. As sequelas físicas deixadas pela doença não mais permitiam que o cirurgião fosse capaz de operar, pois os movimentos com as mãos já estavam comprometidos.

A partir daí, Hemerson Casado pôs em prática a segunda reação que teve ao saber que era portador de ELA. A porção médico saiu e entrou em cena a porção embaixador. Casado passou a ter uma meta: fazer com que o Brasil tenha um centro de referência em célula tronco para a doença, como existe em Israel e nos Estados Unidos, na China, na Coréia do Sul, no Irã e na Ucrânia.

E ele não para de correr atrás deste propósito. "Quero beneficiar os cerca de 15 mil brasileiros que são portadores de ELA. Temos condições de aprimorar pesquisas direcionadas exclusivamente para a estabilização do quadro nos pacientes e a cura", declara o 'médico-embaixador", demonstrando entusiasmo.

Para isso, ele tornou-se uma espécie de porta-voz dos pacientes. Mantêm encontros científicos e políticos nos quatro cantos do país tentando abrir portas neste sentido.

Atualmente, o Brasil dispõe de dois laboratórios que desenvolvem estudos sobre a doença localizados em Curitiba e em São Paulo.

Nos Estados Unidos, onde há estudos avançados, existem 30 mil portadores de ELA e, segundo dados oficiais, a cada ano, surgem aproximadamente 5.600 novos casos. A maioria são ex-soldados americanos que atuaram como combatentes em alguma guerra.

Em outubro, Hemerson Casado deve viajar para Israel onde deverá se submeter a uma aplicação de célula-tronco em uma tentativa de minimizar os efeitos físicos que a doença acarreta. Neste momento suas células estão sendo ativadas, o que leva de seis a doze semanas.

Em sua opinião, é preciso conscientizar a população sobre a doença e criar centros descentralizados de pesquisa. Em Alagoas o primeiro passo já foi dado. Hemerson Casado conseguiu com que a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) cedesse uma área de 12 hectares, onde será construído um centro industrial biomédico que desenvolva medidas médico-farmacêuticas de insumos para pesquisa.

"Tenho muitas esperanças de que o quadro sobre a ELA seja revertido. Torço para que a cura chegue em cinco anos", finalizou.

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