O Brasil se rendeu à Fifa como fazia com o FMI

16/07/2014 11:24

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Redação

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São instituições distintas, mas agem da mesma forma. Fifa e FMI têm o mesmo modus operandi. No passado, sempre que o Brasil ameaçava aplicar calote nos credores internacionais, o Fundo Monetário chegava com empréstimos e resolvia a parada. A que custo? A soberania nacional (ou do governo) se anulava. O Fundo se impunha: “Está aqui o dinheiro, mas o Brasil terá de fazer isso e não fazer aquilo”. Era ‘pegar ou largar’. O governo pegava.

Com a Fifa sucedeu o mesmo. “Trazemos a Copa, mas vocês terão de cumprir, à risca, tudo que a gente exigir”. Por que lá fora ninguém estrila? Ora, na Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Itália, Holanda, Bélgica a estrutura para a realização de uma Copa já existe. Melhor, preexiste. Aqui, não, tudo teve de ser feito. O país não tinha – nas cidades escolhidas para sediar jogos – aeroportos, estádios, linhas de metrô, mobilidade urbana, não com o decantado ‘padrão Fifa de qualidade. Obras – todas elas – de grande porte e de altíssimo custo financeiro.

A Fifa é isso – vem, pega o dela e lava as mãos. A Copa é assim. A Federação exige estrutura e depois ocupa os espaços e vende seu peixe. Tudo que se arrecada em razão do Mundial vai para a conta da mentora. É verdade que os estádios novos (as Arenas) ficam aí como legado da Copa. Tudo bem, mas vários vão virar monumentos ociosos, vazios de público. A Copa é a Copa, já o futebol brasileiro, o doméstico, anda em baixa, sem público. Estádios vazios até com Flamengo e Corinthians jogando. A tudo isso se soma o fato de que, praticamente, só a elite assistiu aos jogos nos estádios. E os estados onde não houve jogos, ganharam o quê. Pagaram, contribuíram, mas não ficaram com nada.

Para sediar o Mundial, o Brasil deveria ter feito antes sua parte. Cuidado da infraestrutura, preparado as cidades-sedes. Não fez. Então, por um capricho de Lula – que apostava na conquista do Hexa, na reeleição de Dilma e na sua volta ao poder em 2018 – o governo esqueceu a saúde, a segurança, a educação, as estradas, o saneamento, o combate à miséria social – e digeriu o draconiano caderno de encargos da Federação Internacional.

A Copa valeu, sempre vale, por isso lá fora os países disputam o direito de sediá-la. O Brasil é que não estava pronto. Quanto foi desviado das obras? Ninguém dá a mínima porque, aqui, corrupção, desvio de dinheiro público, é coisa corriqueira. E depois do Mundial? O Brasil acorda, recobra a consciência e se dá conta de que os problemas continuam: falta saúde, segurança, educação, estradas, habitação, emprego, inclusão social. O que não falta é preço alto, inflação corroendo o bolso dos torcedores.

Do ponto de vista do esporte, do lazer, da recreação, do ambiente alegre e festivo, aí sim, a Copa do Mundo valeu, apesar do custo. Apesar do custo, porque essa festa de 30 dias (que chegou a empanar os folguedos juninos) custou 30 bilhões de dólares.

Um abismo de gastos, aprofundado pelo baque da derrota humilhante diante de uma Alemanha – naquela fatídica semifinal com a seleção brasileira – implacável e soberana.

Primeira Edição © 2011