Diretor de "Alemão" afirma: "O filme fala de questões humanas e de nossa guerra"

Longa sobre a invasão das Forças Armadas no complexo de favelas do Rio de Janeiro entra em cartaz na quinta-feira (13)

11/03/2014 13:52

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Fazer um filme de ação policial com uma favela carioca como cenário principal, levantando questões como segurança pública, injustiça social e falhas em corporações se tornou um desafio significativo após os sucessos de “Cidade de Deus” e dos dois “Tropa de Elite”. Mas José Eduardo Belmonte, “por Deus”, como ele mesmo afirmou, resolveu aceitar o convite do produtor Rodrigo Teixeira e montou "com urgência" - foram 18 dias de filmagem - “Alemão”, que estreia nesta quinta-feira (13) em todo o Brasil.

Belmonte e Rodrigo tinham uma ideia clara do projeto. Em vez do todo, optaram por um recorte da história da invasão do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas, em 2010, e a instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no local.

Caio Blat, Otávio Müller, Milhem Cortaz, Gabriel Braga Nunes e Marcelo Mello Jr. formam o grupo dos cinco policiais infiltrados na favela antes da invasão. São eles os protagonistas do thriller psicológico criado por Belmonte. No elenco, Cauã Reymond vive Playboy, o chefe do tráfico, e Antônio Fagundes é o delegado que comanda a operação secreta.

“Certa vez eu vi um documentário sobre influências e o Jackie Chan falava sobre o Bruce Lee. As pessoas o comparavam demais com o Bruce Lee, e ele não queria ser um segundo Bruce Lee. Então ele começou a mudar tudo o que o Bruce Lee fazia. Como eu sei que tem uma referência muito grande de ‘Tropa de Elite’ e de ‘Cidade de Deus’, que é um outro lugar, eu pensei exatamente em levar o filme para um campo dramático e reflexivo. O filme fala de questões humanas, mas também sobre a nossa guerra”, explicou o diretor.

“Existem dois modos de fazer um filme. Em um modo você tem uma tese e constrói um filme para corroborar essa tese; em outro modo, você tem uma dúvida e faz um filme para dividir a dúvida. O meu filme não parte da ideia de fazer um discurso e tentar articular como se fosse uma redação. Parte de uma dúvida que eu quero dividir. Se eu conseguir causar isso, vai ser um forte impacto”, decretou Belmonte.


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Longa sobre a invasão das Forças Armadas no complexo de favelas do Rio de Janeiro entra em cartaz na quinta-feira (13)

Fazer um filme de ação policial com uma favela carioca como cenário principal, levantando questões como segurança pública, injustiça social e falhas em corporações se tornou um desafio significativo após os sucessos de “Cidade de Deus” e dos dois “Tropa de Elite”. Mas José Eduardo Belmonte, “por Deus”, como ele mesmo afirmou, resolveu aceitar o convite do produtor Rodrigo Teixeira e montou "com urgência" - foram 18 dias de filmagem - “Alemão”, que estreia nesta quinta-feira (13) em todo o Brasil.
Cena do filme 'Alemão'. Foto: Divulgação
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Belmonte e Rodrigo tinham uma ideia clara do projeto. Em vez do todo, optaram por um recorte da história da invasão do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas, em 2010, e a instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no local.

Caio Blat, Otávio Müller, Milhem Cortaz, Gabriel Braga Nunes e Marcelo Mello Jr. formam o grupo dos cinco policiais infiltrados na favela antes da invasão. São eles os protagonistas do thriller psicológico criado por Belmonte. No elenco, Cauã Reymond vive Playboy, o chefe do tráfico, e Antônio Fagundes é o delegado que comanda a operação secreta.
Divulgação
O diretor José Eduardo Belmonte nas filmagens de 'Alemão'

“Certa vez eu vi um documentário sobre influências e o Jackie Chan falava sobre o Bruce Lee. As pessoas o comparavam demais com o Bruce Lee, e ele não queria ser um segundo Bruce Lee. Então ele começou a mudar tudo o que o Bruce Lee fazia. Como eu sei que tem uma referência muito grande de ‘Tropa de Elite’ e de ‘Cidade de Deus’, que é um outro lugar, eu pensei exatamente em levar o filme para um campo dramático e reflexivo. O filme fala de questões humanas, mas também sobre a nossa guerra”, explicou o diretor.

“Existem dois modos de fazer um filme. Em um modo você tem uma tese e constrói um filme para corroborar essa tese; em outro modo, você tem uma dúvida e faz um filme para dividir a dúvida. O meu filme não parte da ideia de fazer um discurso e tentar articular como se fosse uma redação. Parte de uma dúvida que eu quero dividir. Se eu conseguir causar isso, vai ser um forte impacto”, decretou Belmonte.

Para mergulhar na história que tinha em mãos, o cineasta de "Billi Pig" (2012) e "Se Nada Mais Der Certo" (2009) fez uma viagem por filmes de ação contemporâneos. “Só Deus mesmo pode explicar como eu caí nesse projeto - e eu ter me sentido muito bem nele. Fui buscar muitas referências também nos cineastas clássicos, principalmente porque achei que a história tinha um toque de faroeste”, contou. “Foi um grande desafio, mas tem coisas que só Deus explica, né? Foi incrível estar nesse filme, com esse elenco incrível."

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E Deus continuou tomando conta da entrevista coletiva, realizada no Rio de Janeiro na segunda-feira (10). Mas não tem outro motivo real, diretor? “Foi Deus mesmo”, disse, para Fagundes completar: “Fui eu”. Otávio Müller embarcou na brincadeira: “No caso, Fagundes é Deus”. “Deus é brasileiro, não é?”, completou Cauã, arrancando gargalhadas.

Depois da brincadeira, Belmonte confessou: “Eu sempre flertei um pouco com esse tema, sempre gostei muito desse gênero por ser muito físico. Meus filmes, apesar de serem de outro lugar, também são muito físicos. E depois do telefonema do Rodrigo (Teixeira), fiquei pensando por que não? Sempre achei, talvez por orgulho, que eu tinha que falar da minha classe e fugir dos grandes temas. Mas isso era um pouco imaturo também. Então pensei: ‘Vamos fazer um filme sobre o grande tema do cinema brasileiro’. E foi uma das experiências mais ricas da minha vida”.

Existe amor no Alemão

Além de todos os elementos sociais e políticos, também há laços de amor em “Alemão”. Relações entre pais e filhos, namorados, paixões esquecidas ajudam a orquestrar o drama. Para isso, a preparação de Belmonte foi puxada. Ensaios e mais ensaios, confinamento e laboratório nas comunidades tomaram a agenda do elenco. Menos de Fagundes.

“Eu estou ouvindo eles falaram de laboratório, e eu não participei de nada disso. Eu perdi! O meu personagem acabou costurando essa história toda, tem um arco dramático interessante, porque ele fica sofrendo do lado de fora pelo o que está acontecendo dentro da comunidade, mas eu acabei não participando disso. E como o filme foi feito em 18 dias, é fácil de imaginar que eu filmei em dois dias (risos). Foi muito rápido, mas foi muito intenso, muito gostoso fazer”, falou o veterano ator.

O diretor ainda defendeu que as questões apresentadas em “Alemão” são encontradas não só no Rio, mas no país inteiro. “Eu não procurei fazer uma história regional, mas tem a questão do tema do abismo social que é o grande tema do cinema brasileiro, né? Nesse sentido, eu não busquei os aspectos regionais da história, porque ela é comum para o país inteiro”, falou.

“Nossa história é um pouco híbrida, na verdade. Ela não é baseada em fatos reais. É em cima de uma realidade que se cria uma ficção, e eu acho que isso é uma coisa que a gente está perdendo um pouco. Tem esse negócio de a gente duvidar do poder da ficção, o que faz querer reproduzir a realidade na ficção. E eu acho que está tudo meio misturado ultimamente. A gente vai ler jornal e às vezes parece que é tudo ficção. O mensalão parecia uma novela.”

Primeira Edição © 2011