Revisão contratual: nocivo e vicioso.

20/02/2014 17:31

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Redação

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É comum ouvirmos amigos falando que financiaram um carro e depois entraram na justiça para fazer revisão contratual. Todo mundo conhece alguém que já fez isso. Em geral a alegação é que a culpa é sempre dos bancos que cobram juros abusivos chegando até a dobrar o valor do bem financiado.

A solução muitas vezes encontrada para não ter o bem tomado pela instituição financeira é recorrer à justiça solicitando uma revisão contratual.

Minha opinião é que somos apressados e, a pressa é inimiga da perfeição. É a pressa que nos impede de irmos atrás de informações antes de comprarmos e assinarmos um contrato de financiamento. O ditado diz que ‘quem tem pressa come cru’. Em finanças, ‘quem tem pressa sempre paga mais caro’.

Fico me perguntando como é que lemos um contrato, concordamos com o que está ali escrito, assinamos, recebemos o dinheiro objeto do contrato, fazemos o financiamento, levamos para casa o bem financiado novinho em folha e, poucos meses depois entramos na justiça alegando que fomos, digamos, "abusados financeiramente” e, que agora queremos fazer uma revisão dos cálculos do financiamento só porque não estamos conseguindo mais pagar as prestações?

Analisemos. Quem foi realmente lesado nesta negociação? O banco que entregou o que se propôs ou nós, consumidores, que não fizemos as contas direito, superestimamos a nossa capacidade de pagamento e achamos que conseguiríamos pagar as prestações que cabem, ou melhor, cabiam no bolso, assumimos um compromisso e não estamos fazendo jus a nossa assinatura?

Ninguém pega na nossa mão e nos faz assinar um contrato. Os bancos não obrigam ninguém a entrar e pegar dinheiro emprestado com juros abusivos. As operadoras de cartão de crédito não nos obrigam pagar o mínimo da fatura e rolar o saldo no rotativo com juros altíssimos. Fazemos tudo isso por livre e espontânea desorganização, pressa em consumir e falta de educação financeira.

A diferença entre o remédio e o veneno está na dose: recorrer à justiça toda vez que fazemos um financiamento é nocivo e vicioso. É um veneno, pois nos impede de sair da ignorância financeira. É como se tivesse alguém sempre passando a mão na nossa cabeça toda vez que erramos.

Não vivemos num mundo de faz de contas. Vivemos num mundo em que precisamos fazer as contas.

Primeira Edição © 2011