Após chuva em Itaoca, famílias inteiras somem

16/01/2014 15:17

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Famílias inteiras desapareceram nas torrentes formadas pela tromba d'água que atingiu o município de Itaoca, no Alto Ribeira, a 343 km de São Paulo, entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira. Na tarde desta quinta-feira, foi confirmada a morte de 14 pessoas. Entre os corpos identificados está o do menino Iago Henrique da Mota, de 4 anos.

Sentado em uma rocha, o operador de máquinas Adriano Santos Cardoso, de 20 anos, mantinha o olhar fixo em direção ao ponto onde ficava a casa da mãe, Silvana dos Santos, de 38 anos. A casa desapareceu no turbilhão que virou o Córrego Guarda Mão, levando sua mãe, o marido, sua avó e dois irmãos.

O rapaz mora há dois anos em Santa Catarina. "O telefone tocou de madrugada. Disseram que eu tinha de vir para Itaoca o quanto antes. Perdi toda minha família", lamenta Cardoso.

Quem ofereceu água ao rapaz foi Berenice Dias dos Santos Rosa, de 29 anos, que também teve a casa atingida. "Quando vi a água chegando, peguei minha filha, chamei meu marido e fomos para a parte alta. Perdemos móveis e roupas, mas estamos vivos."

O marido de Berenice, Drauzio Ribas Rosa, conta os mortos e desaparecidos do Guarda Mão pelas casas que não existem mais. "Naquela foram três pessoas. Na outra ali eram oito", diz, apontando para onde ficavam os imóveis. "Ali tinha outra casa, com quatro pessoas, incluindo um casal de crianças, e só acharam a mãe", afirma.

Moradores conseguiram salvar pessoas que se enroscaram em árvores. "Pegamos uma menina, mas o homem morreu", conta Cleusires Ribas. O homem foi retirado com vida, mas o socorro médico não deu conta. Quando chegou, sete horas depois, ele já havia morrido. O padrinho de Cleusires salvou dois idosos, que estavam presos com água até o pescoço.

A parte da cidade que não foi atingida tenta voltar ao normal. Na parte alta não há casas destelhadas, nem lama nas ruas. O comércio abriu e os moradores que nada sofreram se engajam como voluntários para ajudar os outros. Cerca de 100 casas e lojas foram afetadas e 19 ruíram completamente. Mais de 300 pessoas continuam desalojadas e 20 estão abrigadas em uma escola. A base da Polícia Militar e o cartório civil da cidade foram tomados pelo barro.

Uma corrente de solidariedade ameniza a dor. Carros com alimento, água, cobertores, colchões e roupas chegam de cidades vizinhas, como Apiaí e Ribeira. A Secretaria de Estado da Saúde enviou outra equipe com médico e enfermeiras e a Cruz Vermelha também está no local.

Mudança. A tromba d'água foi tão intensa que mudou a geografia da região. O Rio Palmital e seu afluente, o Guarda Mão, correm no fundo de um vale em forma de funil, ladeado pelas encostas altas e íngremes da Serra de Paranapiacaba. O aguaceiro atingiu essas encostas e descolou pedras, que rolaram morro abaixo. A água da chuva ganhou velocidade ao escorrer pelo morro e chegou com a força de uma avalanche no leito dos rios.

Primeira Edição © 2011