Testemunha acredita que número de mortos no Carandiru foi maior

"Só os corpos que vi saindo do segundo andar eram mais de cem pessoas. Esses 111 eram as pessoas que tinham família, que recebiam visitas", disse ex presidiário

15/04/2013 11:30

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Folha.com

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O ex-presidiário Antonio Carlos Dias, testemunha de acusação, disse acreditar que o número de mortos no massacre foi ao menos o dobro dos 111 divulgados oficialmente. Ele foi a primeira testemunha a ser ouvida no julgamento do caso do Massacre do Carandiru.

"Só os corpos que vi saindo do segundo andar eram mais de cem pessoas. Esses 111 eram as pessoas que tinham família, que recebiam visitas", disse Dias. O depoimento dele, que foi levado ao presídio poucos dias antes do massacre, começou por volta das 10h30, após a leitura das peças.

O julgamento de 26 PMs começou na manhã de hoje no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, após ser adiado por duas vezes. A expectativa é de que o veredito seja divulgado em dez dias.

Dias disse que precisou "escalar" os corpos para chegar até o pátio do presídio. "Se caíssemos sobre os corpos, os PMs atiravam e matavam", disse. Ele conta que durante os cinco anos em que ficou preso no Carandiru, essa foi a única rebelião que presenciou.

A testemunha afirmou ainda que estava dentro da cela no momento da invasão da PM. "Os policiais já entraram atirando. Muitos [presos] foram pegos de surpresa. "

O ex-presidiário disse que estava preso no segundo andar do pavilhão 9 no dia da invasão da Polícia Militar. Segundo ele, no dia 2 de outubro de 1992, uma sexta-feira, ocorreu uma briga entre dois presos de grupos rivais durante o banho de sol, chamada de "troca de facas." Após o duelo entre os detentos, os grupos --cerca de 40 de cada lado-- começaram um novo confronto.

Ao ser questionado pelo juiz se ele tinha visto algum revólver com os policiais, Dias disse que só ouvia som de metralhadoras. "O som das rajadas de tiros era contínuo e se parecia com o batuque constante em uma lata. Os presos não tinham armas, nem mesmo facas", afirmou.

JURADOS

Os sete jurados que vão decidir o futuro dos PMs foram escolhidos no início da manhã. São seis homens e apenas uma mulher. Dos 26 réus, 24 estão presentes no julgamento. Na semana passada, quando o julgamento foi adiado, também faltaram dois.

Segundo o Datafolha, apenas 10% das pessoas acreditam que os policiais serão condenados e presos. Os dados são de uma pesquisa feita entre 4 e 5 de abril, com 1.072 entrevistados com mais de 16 anos. A margem de erro é de três pontos.

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